O que separa os casais de hoje


Antes de mais, acho a musica do momento horrível. Mas acho que faturaram todos, até mesmo as marcas mencionadas, pelo que aqui a que não percebe nada do assunto sou mesmo eu. Este novo hit espelha bem a moderna tragédia grega em que se podem transformar as relações hoje em dia. Num estalar de dedos.

Sobre o que separa os casais de hoje: 
A falta de tesão, a não partilha de tarefas domésticas, a visão diferente em relação à educação base dos filhos, a divergência na gestão financeira e um pouco mais além disso a divergência na importância que um e outro dão ao dinheiro, a falta de rir junto, a falta de férias em família e de fins de semana de sostrice em comum, a falta atroz de diálogo, a falta do novo, a falta de vontade, a falta de colo nas crises, a perda de significado da sinergia familiar, a falta de respeito.

Ninguém é só feliz, não acredito em casais felizes. Na lista das faltas há sempre um par delas que são nossas de estimação: eu não atiro a primeira pedra. A maior parte de nós quando se enamora, ainda tem tudo por construir. E construir a dois é um desafio para mentes brilhantes: somos cada vez mais individualistas e egoístas e na primeira curva do caminho estas características causam conflito. Numa época em que são admiradas pessoas que atiram a manta ao ar - por tudo e por nada - e vão ser felizes, eu cada vez mais admiro casais de longa duração, que lutam pelas suas relações, que não sucumbem ao mofo dos dias a dois. Não estou a falar dos que não se separam por causa da casa do carro e dos vizinhos. Estou a falar dos que brigam porque se importam. Dos que sabem que o segredo está em saber consertar. 

Eu sei, já me disseram algumas vezes, pareço uma velha nestes discursos. Talvez um dia eu possa ser velha junto, porque se há uma coisa que aprendi há muitos anos, foi a não dar nada por adquirido. De resto é tão triste quando as relações falham e se fica ferido de morte, quando relações esgotam o respeito e se acaba num ringue com filhos a servirem de plateia: Cruzes canhoto.

(...)

Como se eu soubesse coisa alguma. Estou tão em rota de colisão comigo mesma, que há dias que nem boa mãe me sinto. É insano não suportar o peso das horas e ao mesmo tempo a falta constante de tempo para mim. Para as merdices do dia, para não fazer nada, para pintar as unhas, para gritar, para chorar. Numa tarde inteira sem a minha filha, hoje, fiquei horas seguidas sentada numa cadeira, como morta. Horas e horas, até gelar. Já nem sei o que fazer com o tempo, desaprendi a cuidar de mim, deixei de me importar. No fim do dia ela chegou e foi o abraço das saudades. Mas logo a seguir outra vez mais do mesmo: já não tive direito a jantar sossegada, a parar para ver televisão, a sentar-me no sofá, a beber um copo de vinho. Estou cansada e sei que fico cinzenta e chata. E voltando ao que separa os casais, ninguém gosta de pessoas baças e ao mesmo tempo também ninguém gosta de se sentir a pedrinha que empanca a engrenagem.

Como é que eu me poderia esquecer: a depressão. Essa p...!, também separa os casais de hoje.

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