E hoje foi o dia

4 anos. Hoje recusaste pela primeira vez um beijo do pai porque tinhas creme na cara. E disseste-me que tinhas que ir maquilhada para o Ballet por indicação da professora, que na verdade só te mostrou um pouco do bailado Coppélia e tu pelos vistos ficaste entusiasmada com a maquilhagem da bailarina.

Não cresças tão rápido filha, deixa-me ganhar algum fôlego nos patamares.

Da nossa banda sonora

A Primavera


 


instalada como Rainha no coração do Inverno.

Um dia sem fazer nada

A bem da minha sanidade mental.

Inverno lá fora

E eu quentinha no sofá a ver um programa sobre Angola, na RTP2. Angola, a minha terra, que eu não conheço.

Lembrei das conversas do meu avô ao ver imagens do Lubango, e das palavras da minha mãe sempre que recorda Angola. Quanta beleza: as vistas desde o Cristo Rei; a Serra da Leba; a Fenda da Lundavala; as acácias rubras!

E foi assim que decidi a minha lua de mel de sonho: dormir no Pululukwa Lodge (pululukwa significa descanso), definido nas palavras do administrador como o local perfeito para alimentar a alma, com respeito pela natureza. Jantarmos um cherne envolvido em folha de bananeira e comermos um doce de jinguba com manga decorado com flores capuchinhas. À noite no meio de pequenos foguinhos acesos, assistirmos ao espetáculo mágico de uma dança africana.

Acabei por chorar a ver o programa. Foi a primeira vez que despertou em mim a necessidade de lá ir um dia destes. Antes de morrer.

Vontade de emigrar?*

Tenho saudades de sentir saudades da minha cidade.

O Porto está numa fase muito dura de transição. A vários níveis. Não tenho duvidas de que caminha para uma grandeza clean de que é digno, mas há tantos danos colaterais que às vezes custa digerir o crescimento da cidade. (...)

Continua a ser uma parte importante da herança que quero deixar à minha filha: ser do Porto, viver no Porto.

*no way

E foi assim que me caiu a ficha

Estava eu na secção do pão do Continente, quando chegam dois miúdos, adolescentes, uns bazolas divertidos porque não paravam de dizer piadas um ao outro, e se dirigem a mim:

- Ó senhora! O que acha de eu levar pão de alho para o pequeno-almoço?

Ora bem, a modos que! Fique ali atordoada uns segundos que para eles foi perfeitamente impercetível. Aquele "Ó senhora!" fez-me cair nos meus 45 anos numa queda livre sem qualquer amortecedor. E claro, tive que responder:

- Eu se tivesse a tua idade, comia. Come para a frente tudo o que te apetecer, que logo logo chegas à minha idade e vais ver que já não te apetece, não te sabe bem e se arriscares ainda te faz mal.

E virei costas e ficaram ali os dois miúdos numa risota pegada. Felizes e contentes, bem longe de acreditar que já ao virar da esquina estão mesmo com 45 broas no pêlo.

Das melhores coisas da vida

Voltar para casa no fim do dia. Mesmo que a casa esteja desarrumada, mesmo que fique numa ruela sem saída, mesmo que seja pequenininha. A nossa casa é o nosso santuário, porque é nela que nos confiamos à pequena morte do sono, é nela que despimos as mil máscaras a que o dia nos obriga. O conforto de chegar a um lugar que cremos ser nosso. E ficar sem precisar de convite.

Casa para mim tem que ter luz, janelas. Lugar para alguns vasos porque eu preciso de viver com plantas. Ser casa clara, sem história. Ficar perto do verde. Casa, no Porto.

O resto a agente constrói e a gente aguenta. Somos nós que fazemos a nossa casa. Por isso é que algumas são lugar de guerra e outras de paz. Por isso é que algumas são grandes e feias e outras pequenas e bonitas.

É só um primeiro capitulo. Avizinham-se tempos novos, de desafio. Eu vou com alegria no corpo e na alma, por sentir que chegou o momento. E porque sei com a certeza absoluta, que Deus me levará para melhor.


Andei toda a manhã a cantarolar esta musica. Para não pirar, para conseguir tirar alguma coisa boa de tanta coisa má.
São as nossas vidinhas de merda particulares, mas é também este mundo cheio de ovnis e gente que fala no Holocausto como se o cenário da Faixa de Gaza não estivesse a acontecer agora. São os nossos políticos ridiculamente deslumbrados com a possibilidade de poleiro, é todo um sistema social e de saúde que não tem resposta adequada para idosos e crianças desprotegidos e abusados. É o people que só pensa em amealhar e nem vive, é o já não se encontrar alminhas sem tatuagens, é a tragédia anunciada de ficarmos gordos ao mesmo tempo que ficamos velhos, é as mulheres-mães continuarem a ser o bombo da festa na vida a dois estendido à vida profissional, é o sarampo e que mais pragas calados a sete chaves, são os vírus em cuecas a salvar carreiras de incompetentes, é a falta de tempo, eu sei lá. 

O Amor é mesmo assim


Um esforço constante por não deixar quebrar. Por não desistir. Quantas histórias grandes só o foram por causa disso. Porque alguém percebeu que amar é um bocadinho mais do que amar, é o patamar a seguir. Porque a vida hoje, engole-nos. Não sei se é até sermos velhinhos, sei que é um dia de cada vez.

Segunda-feira...


e eu sinto que estou na mesma semana tensa há dez dias. Quero sair daqui e não consigo. Pessoas azedas, com cargas de energia negativa tremenda, com uma falta gritante de educação; pessoas que fazem parte do meu dia a dia mas que nem sempre fazem parte da minha vida. Lembro-me que no fim da adolescência tive uma paixão grande por um Senhor, só por causa disso mesmo, porque era um gentleman, um cavalheiro em todos os momentos. Nunca se tem tudo na vida mas quanto mais avanço na idade, cada vez mais percebo a importância dos detalhes nas pessoas. E murcho e fico cheia de sombras se a falta de detalhe for nos meus. Nos de fora apenas cansa, cansa muito; nunca me habituarei a gente assim. A mestria que existe naqueles que em todos os momentos, de forma absolutamente natural, conseguem demonstrar-nos que fazemos a diferença. Essas pessoas às vezes salvam-nos.

Apesar da dureza da semana, ganhei flores. Amores perfeitos. E uma pedra vinda do Brasil. E sorrisos e abraços apertados. Porque felizmente o mundo é bem maior e bem mais, do que o perímetro sufocante onde se atropelam os endeusados azedos contaminantes.

Céus, hoje teria dado a minha vida pelo final do turno! Amanhã fico longe de tudo. Banhos de sal e mel, a ver se recupero bateria.

Para a minha Maria e para o meu Luís


As minhas histórias de Amor.

Sobre dias felizes


 
Ás vezes basta um dia fora da caixa, fora da mesmenhice dos dias todos iguais. Para voltarmos ao caminho, bem fortes e presos ao que realmente nos prende à vida.
É preciso celebrar o amor de vez em quando. Reconhecermos a sorte e o privilégio destes dias que haveremos de recordar com saudade: perfeitos, banais, de gente pobre mas feliz.

Um dia iluminado de Sol, uma porta azul turquesa (aparecem-me sempre em dias grandes), um vinho, a gargalhada da nossa filha, e o nosso abraço apertado. Tão bom.

Sobre o propósito

 


A minha filha é feliz como eu nunca fui. Ela é alegre e ela tem Amor, muito Amor, presente na vida dela todos os dias, a toda a hora.
Nós nunca vamos ser parecidas, porque é verdade isso do filósofo que disse que os primeiros nós do amor e do ódio em data e importância, são aprendidos na primeira infância, na família. A nossa infância é o substrato para o que vamos ser amanhã. E nisso a minha história e da Maria não são sequer parecidas.
É por causa disso, das ferramentas tão diferentes, que acredito que ela vai conseguir ser muito melhor pessoa do que eu.

Isto de ser pais

Não é fácil, não é mesmo.

A Maria é uma menina brilhante. Mas está numa fase em que precisa que vinquemos a regra, em que debate tudo e faz birras por nada. Muitas vezes sinto que é permissividade a mais de nossa parte, que é ipad a mais, que é falta de direção porque simplesmente é mais fácil para nós pais. Ninguém gosta de estar sempre a brigar e a verdade é que a maior parte do tempo a cobrimos de beijos e abraços. 

Mas hoje na escola quando o Daniel correu a abraçá-la e beijá-la na chegada após um fim de semana, ao mesmo tempo que fiquei comovida até aos ossos, percebi na Maria alguma rigidez. O Daniel é um menino fora de série, os pais estão de parabéns porque realmente se destaca a nível de inteligência emocional. E é bom, é confortável, saber que a Maria convive com meninos assim, carinhosos e abertos. Mas ela não é assim. Não é assim por norma, quero dizer. Ela abraça e beija mas de repente, uma coisa muito q.b., quando a ela lhe apetece; que não é sempre, nem sequer pelo dever de corresponder. Ela acolheu muito bem a Amélia que só fala inglês e chegou agora à turminha, numa adaptação mais complicada. Ela acompanha o Wallace quando percebe que ele tem dificuldades e fica para trás, diz muitas vezes que o Wallace é um menino especial, mas não diz como quem marca a diferença, diz simplesmente com amor. Ela é solidária e sensível. Mas não é uma espalha magia. E embora se apregoe hoje em dia que não devemos querer nada para os filhos, que eles não são nossos etc e tal, eu sim quero coisas para a Maria. Gostava mesmo muito que ela fosse uma menina mais carinhosa e aberta, e oxalá consigamos trabalhar isso nela. Mas ela é como é e temos que respeitar a natureza dela. Logo vamos conversar sobre este episódio. Se ela compreender, se souber valorizar a importância dos beijos e dos abraços do Daniel, então para mim basta, então eu já fico feliz.

Dia dos namorados


E eu a ouvir a Márcia, outra vez. 
Não inventem!, é um dia que sim, devemos celebrar. Todas as desculpas são boas para o Amor, que eu acredito que é o motor que move o mundo. Não é um dia para os casais, é um dia para os casais apaixonados e esses são muito poucos. 
Em ultima estância, somos nós o grande amor da nossa vida e este é portanto um bom dia para reflectir. Sobre tudo o que damos e tudo o que recebemos. Sobre se estamos felizes e se é este o caminho.

Carnaval 2024




Este foi o sapato que eu mais gostei, numa exposição de sapatos de palhaço no colégio que frequenta a minha filha.

Mais do que a vontade de impressionar, tudo é realmente sobre o que cada um tem dentro.

Lembretes da mãe

 


O muito sem Deus é nada, o pouco com Deus é muito.

O que de verdade faz diferença


Li hoje que tivemos o Janeiro mais quente da história do mundo. 
(...)

Uma semana violenta

Uma semana que se se supunha ser de férias, de descanso, uma semana que reservei na mente para destralhar a casa, para reorganizar a vida e ir a tempo de dar as boas vindas ao novo ano. Foi antes uma semana de traições, de dar de caras com duras verdades, uma semana para faltar a compromissos, para escrever reclamações, para ficar à espera de ubers que nunca aparecem, para apanhar chuva até aos ossos, para ver o vento partir-me o guarda-chuva como se fosse uma folha de papel, uma semana em que perdi o apetite, em que entristeci seriamente por dentro. Uma semana para perceber que os outros são os outros, e eu sou eu. Nunca vou pertencer ao rebanho, à multidão, e o preço é este: ser para sempre incompreendida. Uma semana em que gostaria de ligar a todas as minhas amigas e dizer-lhes que me fazem falta, muita falta. Uma semana em que fiquei uma manhã inteira na cama, porque já não aguento mais.

Ninguém tem culpa, é certo. Mas céus custa tanto suportar a falta de empatia. E cada pormenor, cada pequeno detalhe ou desatenção, atiram-me com assustadora facilidade ao chão. As pessoas estão todas parvas, o mundo está cheio de umbigos gigantes e colecionadores de dinheiro.

Palavra de ordem: hibernar.

A vida é um big brother

Ou algo do estilo, sempre num mood comédia que alterna com o drama. Viver até aos 45 anos para assistir a um reality show onde um dos concorrentes é alguém com que namoramos um dia. Surreal.

Pressa de amar enquanto viver



Trago o lado de dentro das duas paredes-rocha que seguram as metades inteiras do meu coração, bem alicerçado. Sei quem cá mora, sei quem cá trago. Para sempre.

Já alguém deu de caras com a Primavera?

Chegou mais cedo. Está por todo o lado. Linda, esplendorosa. Assusta ouvir as pessoas mais velhas dizer que é mau, que o pior está por vir, que isto traz doenças e perdas nas colheitas. Mas prefiro acreditar que o planeta encontra sempre uma forma de se adaptar, e nós também.

Para já guardo o que é bom de guardar: dias luminosos, maiores. Muitas flores, frutos saborosos.

Das melhores coisas da vida

Ter planos para hoje, fazer o outro feliz.

É realmente bom levar a Maria até ao parquinho e comermos depois o primeiro gelado do ano juntas.  Vê-la brincar saudável, rir, fazer-me sinais de longe numa cumplicidade que me conforta mais do que a própria pele. É esta a aritmética perfeita daquilo a que chamam vulgarmente de Amor. A minha filha é a minha melhor companhia.

De uma sociedade falhada


Esta senhora foi minha professora e minha orientadora de estágio, há muitos anos. É desta forma que descubro que mantemos hoje as mesmas preocupações, as mesmas angustias. Vivemos num mundo focado nas novas tecnologias, na IA, um mundo que aposta na diferença mais do que na justiça social. Idosos que descontaram uma vida inteira desumanamente chafurdam em fezes na própria cama e mostram os genitais aos filhos quando estão presentes, sem direito ao pudor. Chegar ao fim da vida e precisar tanto da caridade alheia, atenta à misericórdia de um banho. Serem obrigados a perceber a exaustão e depressão que se instala nas pessoas que mais amaram, porque são quem cuida por não haver mais ninguém.
Alguma coisa está muito errada nos planos que fazemos para que tudo corra melhor para todos.
(...)

Não tenho duvidas nenhumas de que este ano vai ser um ano importante. Um ano de colheitas. Quero focar-me no que Deus me manda, e ter força e fé. Há muito tempo que não sentia dentro de mim o burburinho mágico dos sonhos, começo outra vez a querer coisas dessas pequenas e básicas que nos fazem mover. Não é para este ano, porque há desafios grandes pela frente. Mas é este ano que começa a germinar dentro de mim a semente. Uma coisa pequenina e frágil e por enquanto só minha.

Até lá, vou voltar a ler. A ler muito. Porque foi o que durante anos me deu mundo, me abriu as janelas da vida de par em par, me ensinou outros caminhos alem dos que eu conhecia, me despertou para escolhas e decisões. Mais do que a escola ou os amigos, foram sem duvida os livros que me formaram. Têm sido anos de interregno. Mas nunca é tarde.

A vida tem destas coisas

Nunca tive pai, e hoje perdi também o padrasto que tive.

Na verdade os grandes heróis da minha vida são mulheres. Não tenho que me esforçar por ser diferente, não tenho que me culpar por ser como é.

A vida segue. Serena. Mais leve.