Ultimo dia de um ano a terminar

Começamos o ano 2022 a metermo-nos no carro a caminho de Fátima. Devo dizer que apesar do estado caótico do mundo, este foi um ano abençoado para nós família pequenina e comum entre tantas. Dar-se o meu desemprego foi algo demasiado importante para a minha saúde mental, pelo que acabou por ser um acontecimento feliz. Mesmo as birras da minha filha que apenas cresce e eu cresço com ela, mesmo as minhas diferenças com o meu Luís que são só o aprender a ser mais tolerante com as fases de vida do outro, foram felizes. Porque estivemos sempre juntos e só por isso tudo foi mais fácil em 2022.

Gostaria que 2023 trouxesse mesmo boas surpresas, contra prognósticos e profecias. Não só na Ucrânia mas em tantos outros lugares do mundo, seria tão bom que houvesse algum consenso para tornar possíveis acordos de Paz. Há demasiados seres humanos em sofrimento para que a passagem a 2023 seja feita só de desejos pequeninos e meus.

Bom Ano.

A minha menina

Hoje encheu-me o coração. Num parque infantil cheio de miúdos possuídos, ela tão feliz a trepar o insuflável para entrar no labirinto, quando de repente me apercebo de uma menina a bater-lhe, do nada, sem sequer terem falado. A minha filha apenas olhou para mim e disse calma e serena:

- Mamã, porquê que esta menina está tão zangada? 

Demoveu a outra criança sem sequer falar com ela, sem lhe bater, sem praticamente reagir. A minha filha é rabina e alegre e traquinas connosco em casa, mas pé fora e ela não percebe nadinha de violência, nadinha de inveja, nadinha de competição. De uma nobreza que me comove.


A magia extraordinária de todas estas coisas: das imagens da minha Lanzarote querida, das saudades de um para sempre inigualável Saramago - humano e recolhido -, de beber a sorvos saber de um Amor assim.

Leituras para 2023

“Como a negligência moral está crescendo em alcance e intensidade, a demanda por analgésicos aumenta cada vez mais, e o consumo de tranquilizantes morais se transforma em vício. Por conseguinte, uma insensibilidade moral induzida e manipulada se torna uma compulsão ou uma “segunda natureza”: uma condição permanente e quase universal – e as dores são despidas de seu papel salutar de prevenir, alertar e mobilizar. Com as dores morais aliviadas antes de se tornarem verdadeiramente perturbadoras e preocupantes, a teia de vínculos humanos tecida com os fios da moral torna-se cada vez mais débil e frágil, vindo a descosturar-se."

 Zygmunt Bauman e Leonidas Donskis, in Cegueira moral

Esta semana na baixa da cidade havia uma banca a vender totebags com umas frases a denegrir o Natal, nunca tinha visto tal coisa. Não achei bonito, nem de bom tom, nem moderno, nem coisa nenhuma. Isto só para dizer que eu farei sempre parte da outra equipa, a dos que mesmo sofrendo preferem vender o amor a alegria e a beleza. A coincidir com este episódio insólito, li um texto que partilho convosco, cheio de sensibilidade, bondade, leveza, inteligência emocional. Daquelas coisas mesmo boas para se ler antes de acabar o ano:

 Direitinho ao coração

A propósito do ultimo post

Levar comigo para 2023 a grande expressão do Frei Bento Domingues, que pode fazer toda a diferença na nossa vida e na dos outros:

O quê que posso fazer para a/o ajudar?

Praticar isto de forma sincera e desinteressada.

É curioso como queremos algo tanto tanto, que por não acontecer, chega o dia em que simplesmente deixamos de querer.

(...)

E nesta dor de corno, de cotovelo, de miolo e do que mais houver, ainda levo com um mundo de impossíveis a rondar o futuro. A Saúde Mental é uma preocupação muito bonita e até suspeito que a minha tem possibilidades de vir a ser a profissão do ano em 2023, mas para já a Psicologia neste país vai-se fazendo  sustentada por estágios profissionais - para os quais não cumpro critérios porque já estou velha - por estágios suportados pela medida Ativar - para os quais também não cumpro critérios porque não sou desempregada de longa duração - , a recibos verdes, a tempo parcial, com horários completamente incompatíveis com a Maria, com obrigatoriedades como carta de condução e viatura própria etc etc. Estou a concorrer para categorias inferiores mas aí é preso por ter cão e preso por não ter: excluída por demasiadas habilitações. Factor cunha não tenho, portanto só sobra mesmo o factor sorte. Como um euromilhões coisa que confesso já me tocou de forma generosa algumas vezes na vida: siga jogando!

Outra vez


A letra certa.

Tão bom

 



O privilégio de sentir a intensidade do Inverno, a salvo no meu ninho com a minha cria. Os dias têm estado anormalmente quentes para Dezembro, mas já quase todas as árvores estão despidas e o semblante geral da natureza já é de pura e necessária hibernação. Quando estamos tristes estes dias assim podem ser como uma bela canção de ir mais fundo até doer tudo. Ficar quieta, em silêncio, a ouvir a chuva e a olhar as diferentes possibilidades do cinzento lá fora. Acreditar sempre nas decisões do destino e nos percursos naturais da vida. Todos os dias gente boa morre, e todos os dias gente boa nasce. Todos os dias grandes amores definham e todos os dias pequenos amores crescem incontrolavelmente. Está tudo certo.
Se não tivesse a Maria, talvez fosse insuportável.
(...)

2023

Se eu lá chegar:

Que venha aquele emprego. 

Perder 10kg de forma saudável. Tratar da especialização. Voltar a fazer voluntariado. 

(...)

O meu calcanhar de Aquiles


A minha luta, profissional e pessoal, para 2023.

Da fast fashion

Lixo dos ricos no quintal dos pobres.

Foi assim que chocantemente numa grande reportagem da SIC noticias, definiram as toneladas de roupa que vão parar ao continente africano e que numa grande maioria acaba no lixo. Mais do que triste é preocupante esta realidade. E aquelas pessoas em Acra, no Gana, que trabalham em qualquer uma das fases naquele mercado, tão pobres meu Deus...

Definitivamente nós deste lado devemos reutilizar mais, usar com consciência. Quando damos as nossas roupas parece que como fizemos uma boa ação, ficamos isentos da coima emocional pelo nosso consumismo. Mandamos para lá, e mandamos e mandamos. A poluição lá bem longe dos nossos olhos, e nós aqui a fingirmos que vestimos os pobrezinhos.

Esta história do desperdício é mesmo uma coisa assustadora.

Onde é que já se viu

O presidente Z desafia o presidente P para andarem à estalada cof cof
Ao que chega a real preocupação desta gente com o futuro de milhões de criaturas neste mundo. 
Com este nível de inteligência emocional, continuo a achar que infelizmente a guerra nuclear é só uma questão de tempo.

Natal

Acabei por acusar o stress dos últimos dias precisamente no dia D. Com algum descontrole, taças partidas, berros e fugas para uma cozinha claustrofóbica. Sentir que não estou a saber lidar com a Maria ou que não estou a ser boa mãe no dia de Natal, não é de todo algo feliz e fácil de digerir. No entanto, apesar dos apartes, correu bem. Logo ao acordar cantamos juntas os parabéns ao menino Jesus. Depois foi Família. Comemos imenso, rimos e fomos felizes. A Maria ganhou cinquenta kits para brincar aos médicos, ao ponto de ela própria dizer oh não, outra vez. A cereja no topo do bolo foi hoje receber vídeo chamada dos avós que vivem na ilha e adivinhem: Uau! Mais um kit para brincar aos médicos! De maneiras que isto tal como disse o pai dela, acabou com a nossa filha a montar três clinicas de uma só vez: uma em Paranhos, outra na Foz e uma em Canárias, que a miúda já internacionalizou o negócio. Gostei quando ela abriu o primeiro de todos os presentes: o dos padrinhos. Gostei em particular de um presente, que sei que me vai dar cabo do miolo muitas vezes (custou zero cêntimos e ela vibrou): a flauta que foi do pai quando era pequeno. Gostei de ver a avó a rir até ás lágrimas com ela e ter sentido e ter pensado ao olhar as duas é isto o Natal. Hoje levei o choque, contou-me em segredo mamã sabes, eu acho que o avô Zé é o pai Natal. E eu e o pai resolvemos, aos 2 anos dela, contar-lhe a verdade: que os avós gostam tanto dos netos que se vestem de pai Natal, mas que o verdadeiro pai Natal nunca é visto, existe e vem durante a noite deixar um presente enquanto dormimos. E nada, a miúda teve uma overdose de horas desperta, não queria dormir ontem, não quis dormir hoje e teve que ir para a cama de forma compulsiva, aos berros a gritar pelo pai pois claro, que o monstro da mãe só lhe faz maldades. Comecei a ler-lhe a história da Malala e adormeceu profundamente na curva. Lavadinha em lágrimas, foi assim que ela terminou o Natal, que deixar aquela bonecada toda espalhada pela casa para ir dormir, não cabe na cabeça de ninguém!

Hoje na missa o senhor padre falou sobre aquele menino que nasceu em Belém, sobre a verdadeira mensagem do Natal: Olhem para aquele presépio, aquele menino nem sequer nasceu numa casa, nasceu numa palhota. No entanto no meio daquele cantinho tão pobre, perseguido, nos braços daquela jovem mãe imaculada e daquele pai que acreditou, havia Amor em abundância. É essa a mensagem, levem-na para vossas casas:

O Amor.

Rir para não chorar

De repente no feed de noticias (ainda por cima) aparecem-me não sei quantas formas novas e saudáveis de fazer rabanadas. Really? Rabanadas são rabanadas, as de leite e as de vinho do Porto. Parem de inventar que qualquer dia não temos Natal.

2022

O ano em que fiquei desempregada, em que travei uma dolorosa batalha profissional, em que voltei a comungar depois de mais de uma década sem o fazer. O ano em que gastei manhãs inteiras a dormir, em que tomei antidepressivos pela primeira vez, em que deixei de os tomar. O ano das pessoas terem ficado ainda mais diferentes e indiferentes e isso ser chique e normal, o ano da tolerância e o ano da violência. Um ano inteiro sem o Nelo. O ano em que errei muito na minha alimentação e fiquei gorda. O ano em que voltei a ler e a fotografar. Um ano forte no desenvolvimento da minha espiritualidade, o ano de muitos dias de Sol. O ano da inflação, o ano da fome. O ano em que a rainha de Inglaterra faleceu. O ano em que a Ucrânia se transformou numa prolongada guerra em directo. O ano do começo do desapego, de sentir que cada vez menos preciso da maioria das coisas. Um ano em que quase todos equacionamos uma guerra mundial. O ano em que pela primeira vez floriram cá em casa mais camélias do que orquídeas. Um ano de faz de conta, de contar a Deus e a mais ninguém. O ano em que deixei de ser escrava da casa, forçada pela minha filha, uma indiazinha sábia com somente dois anos. Um ano de fortes mudanças, um ano primeiro incómodo para depois ser feliz.

Tenho crescido em 2022. À data de hoje mantenho-me com esperança. Estou grata.

Aqueles dias


uma enfermeira na família

visitas familiares; os meninos à janela

prateleiras do supermercado vazias e o mundo inteiro atrás de papel higiénico

Foi uma loucura o que vivemos, nunca mais fomos os mesmos por mais que sejamos animais às vezes de memória curta. O medo, a incerteza, o desvario, a adaptação a regras nunca pensadas: ao rever estas fotografias sinto-me ainda estranha. Parece que já passou, a COVID-19 instalou-se e nós aprendemos que com tudo se vive. Mas o certo é que vamos entrar em 2023 e algumas consequências seguem connosco. Estou farta da história das vacinas, por exemplo. Há oito dias que as tonturas não me largam; esta despersonalização estranha começou no dia em que fui tomar a terceira dose. E os médicos ficaram pobres de repente, parece que nada mais sabem dizer a não ser deve tomar.
No meio daqueles dias, há uma imagem da qual não tenho retrato, mas que me marcou profundamente. Foi ver desde a janela da varanda, o senhor padre Diz varrer todo o átrio da igreja. Sozinho, de portão fechado, a recolher o lixo do chão. Em silêncio, sem espectadores mas a fazer o melhor de si, numa espera paciente pelo fim daqueles dias.
A minha mãe fez-me uma pega de cozinha linda, durante o tempo de clausura.
(...)

Expliquem-me como se eu fosse muito burra

Por favor.

Qual a necessidade?

Ontem apareceu cá em casa uma amiga-irmã com uma caixa enorme cheia de livros e brinquedos dos filhos já crescidos, ficou no sótão até agora e a Maria herdou. Até aqui tudo bem, só que herdou a dois dias do Natal. A miúda ficou tão atordoada que já nem comeu direito nem dormiu a sesta. Como era pouco coitadinha, hoje o pai traz-lhe um puzzle magnético (OMG!), sem embrulho mas novinho em folha. Nem queria acreditar quando o vi entregar-lhe aquilo. Ela eufórica, claro. Assim, presente do nada, na antevéspera do Natal! De maneiras que hoje foi regabofe com o puzzle novo. Amanhã e depois de amanhã lá vai ela abrir mais presentes. E como vinte dias depois faz três anos, presentes outra vez!

Mas não, é Natal e a mãe é uma chata de galocha. Lá para Fevereiro a criatura começa a ressacar a falta de prendas e anda lá mãe, exerce a parentalidade positiva que tens andado empenhada em aprender.

Socorro, tirem-me deste filme. Como explicar às pessoas que nesta idade a Maria está tão autocentrada que cobri-la de presentes pode ser grave.

(...)

 



Foi tudo o que consegui no dia da entrevista, cruzar-me com esta árvore e reparar que as folhas das extremidades dos galhos, as que aparentemente seriam as mais desprotegidas, estão a ser as mais resistentes.

Insanidade

Esta semana tem sido imprópria para quem resolveu que já chega de antidepressivos.

Tirei duas manhãs para formação sobre parentalidade positiva - e quanto mais me dão pautas comportamentais, menos eu consigo lidar com a Maria -, fui a uma entrevista cheia de expectativa a pensar que era desta mas depois de apanhar dois bus e ir parar à cidade vizinha, num dia de chuva-diluvio, lá levei eu com mais uma decepção. Tive uma reunião no colégio da minha filha, consegui tomar café com duas amigas, passei na igreja para cumprir algo que me faz feliz. Hoje foi o dia inteiro a limpar e destralhar a casa. Não sei o que fiz do resto do tempo mas estou exausta. Pergunto-me como vai ser no dia em que tiver que preparar o bacalhau, as rabanadas, a aletria, os filhoses, o cabrito, o polvo. Vou morrer num Natal, de certeza.

Amanhã quero acordar cedo, a bem dizer a saga continua. No meio desta azáfama confesso-vos que sinto - continuo a sentir ano após ano - que o Natal é suposto ser outra coisa qualquer, mas não isto.

Entretanto tenho saudades da minha mãe. Não sei se vou conseguir que a minha filha um dia tenha assim tantas saudades minhas, só por ser Natal.

(...)

A Familia do Ronaldo

Quem sou eu para falar da Família dos outros.

Mas tem-se falado tanto nos últimos tempos, que eu gostaria só de dizer que louvo e admiro a postura do Cristiano - silencioso e resiliente - perante toda e qualquer expressão familiar tornada publica. Tem havido tantos ataques, tanta cobrança, as irmãs já são apelidadas de ronaldetes e elas coitadas que não foram feitas para estar caladas. Sejam pirosas, desbocadas, eh pá confesso que até me lembram bastante as minhas irmãs. Cabe na cabeça de alguém perguntar-lhes quem é para elas o melhor do mundo, se Ronaldo ou Messi? Percebem a violência e estupidez dessa pergunta? São a Família dele, percebem? É como a Família de cada um de nós: bons, maus, melhores, piores, são os nossos. E grande é ele por deixá-los ser como são, por amá-los de forma indiscutível.

Aprendam Famílias, se calhar é isto que faz falta à casa de tantos de nós.

(...)

O mundial de futebol

Parabéns Argentina.

Sem grande empenho, estive a torcer pela França. Nem sei muito bem porquê, acho que porque gosto do Kylian Mbappé e porque a minha asinha portuguesa invejosa ainda dói e continua a torcer pelo Cristiano mesmo ele estando em casa refundido no ginásio a ouvir musica de cortar os pulsos. Mas a Argentina ganhou e o Messi teve um comportamento fabuloso, celebrou sem lágrimas, viram? A minha mãe dizia pfff, este não tem sentimentos - ao que chega a invejinha horrorosa dos portugueses! Eu cá acho que ele celebrou com muita classe, com uma lindíssima família discreta presente. Celebrou sem lágrimas porque optou por sorrir, e celebrar a alegria com alegria também é legitimo e especial. De resto este senhor foi sempre discreto e mostrou que só a trabalhar - e com Fé - as coisas acontecem. Tem uma trajetória profissional brilhante, indiscutível, e mereceu com certeza. 

Adorei ler as felicitações de uma inteira comunidade mundial desportiva, rendida. Acho que rivalidades à parte, é como escreveu alguém no outro dia: uma forma de ficarmos um bocadinho menos tristes com as nossas derrotas, é ficarmos um bocadinho alegres com as vitórias dos outros.

A única coisa a lamentar: acho que o nosso Cristiano não sabe o que isso é. Até agora não felicitou os vencedores. Aliás, como amante do futebol, achei sempre - até ao fim - que ia assistir à final.

Comportamento humano. Evolução. Inteligência emocional. Milhões de miúdos que adoram e aprendem com os exemplos do futebol. Tanto para discutir...

E mais não digo.

Crónicas de uma frequentadora assídua de autocarros

A dizer-vos que a expressão da nossa saúde mental vai nua nas ruas. É gente de havaianas em pleno gelo de Dezembro. É miúdas de tops curtos e unhas de gel de todos os formatos, tamanhos e feitios: e eu só me pergunto se as mães dessas meninas as ensinam a fazer alguma coisa em casa. É velhos a babar de olhar colado às barrigas ao léu das ditas meninas. É mães a sussurrarem em surdina ao telefone Estou filho.. olha é só para te dizer para passares lá por casa que te deixei uma nota em cima da mesa. Outras mães, desdentadas e de bigode rijo em video-chamada como num direto para o mundo Amo-te muito filho. É aquele jovem a ver e ouvir em alto e bom som - demasiado alto - vídeos da igreja do reino de Deus: Sai! Sai! Deus te salva meu irmão! num brasileiro empenhado na conversão que todos suspeitamos que seja das carteiras. É uma senhora idosa a tentar trocar olhares comigo - e eu a fugir - num ar de critica ao rapazinho da igreja universal. É que essa senhora velhinha está de meias de rede e saia curta e confesso que não lhe fica muito bem. E unhas de gelinho, claro!

Entretanto ontem na missa uma acólita sénior, com a vestimenta branca até quase aos pés, atravessou várias vezes o altar com umas sapatilhas cheias de luzes a piscar, tipo ambulância. Moda pura e dura.

E de maneiras que felizmente vivemos num mundo em que cada vez mais o que importa é que as pessoas sejam felizes. Olé.

Frutos de uma boa caminhada a pé




Faz tão bem.

Adenda ao post anterior

Ajuda focarmos nas fase divertidas: a Maria está também na fase de brincar aos médicos. Vai daí que "a Maria é méquida" desde que acorda até que vai dormir. Pelo que meus caros, tenho pensos para feridas colados em tudo o que há nesta casa. Começou pela bonecada dela mas a coisa foi crescendo. Dou com eles colados aos nossos pijamas quando tiro a roupa da máquina para estender. No avião colou um na cara do pai, a segurar o atilho da máscara à cara enquanto ele dormia. Hoje ao lavar a loiça encontrei um colado na tijela da sopa dela. Já nem a vemos colar os pensos, um dia destes vou a alguma entrevista com um colado no sitio mais despropositado.

Para que lhe damos tantos pensos? Boa pergunta. Para a ver calada e quieta que também temos direito. Porque é melhor do que lhe dar o iPad no qual ela já não toca há três dias.

Chucky, o boneco diabólico

Andamos nesta fase cá em casa. Dias em que ela nos desafia e nos puxa pelas orelhas como quem nos obriga a crescer. Ás vezes fico triste, com vontade de chorar e de fugir. Mas ando a aprender a não ter medo do dito boneco em que ela se transforma por vezes, ando a aprender a contar até dez e a respirar mais e melhor do que o habitual. Se me apetece gritar, páro, vou beber um copo de água, como alguma gordice e espero por me acalmar. Tento perceber o que está a acontecer, o que ela sente, o que eu não estou a fazer bem. Precisamente esta semana assisti a uma conferência organizada pelo Instituto de Apoio à Criança, inserida na campanha "nem mais uma palmada, castigos corporais nunca mais". Tive a oportunidade de ouvir a classe médica, a classe jurídica, além de quem trabalha no terreno com a criança vitima de violência. Não só como psicóloga mas sobretudo como mãe, percebi a necessidade de mudarmos de vez uma mentalidade que se refugia num passado que não tinha as mesmas ferramentas que temos hoje.

As nossas crianças educam-se com exemplos, com tolerância, com respeito e amor. Se eu der uma palmada à Maria - que muitos pais infelizmente não só acham necessário como sentem como uma obrigação que têm a nível educacional - a Maria vai aprender que também pode dar palmadas. Logo não me posso surpreender se ela um dia bater num coleguinha de escola. A minha filha vai fazer ainda tantas asneiras. Mas somos nós pais que não nos devemos transformar nunca no boneco diabólico.

Nada disto é fácil de por em prática. Nada fácil. Mas vale a pena.

A Gisberta, lembram-se dela?

 


Aconteceu num tempo não muito longe, não muito perto. Eu que já vou nos 44, era ainda uma miúda verde. Lembro-me da Gisberta muito antes daquele fatídico dia. Lembro-me da figura escandalosa que tinha quando cruzava com ela na rua, lembro-me de uma diferença que chocava a olho nu, de nós estudantes cruzarmos com ela e vermos apenas uma realidade que associávamos a prostituição e que portanto não nos dizia respeito a não ser que fosse para nos rirmos entre nós. Lembro-me que era alta, de cabeleira oponente, e das roupas justas e coloridas. Cresci muito tarde, muito depois. Lamentavelmente a Gisberta foi também sem-abrigo, uma realidade com a qual trabalhei cerca de oito anos e para a qual desenvolvi uma sensibilidade especial. Só me lembro dela como pessoa, infelizmente, depois daquele acontecimento hediondo e inacreditável. Porque fiquei tão chocada que percebi que por mais que a Gisberta fosse diferente e sozinha, ninguém tinha o direito de lhe fazer mal.
A Gisberta parece ter vindo ao mundo para marcar a diferença entre um antes e um depois. Infelizmente todos os dias a descriminação, o mau-trato, a violência extrema, continuam a acontecer. Mas alguma coisa vai mudando. Mais alem do que tolerar ou aceitar, o mundo vai percebendo que a diferença faz parte, é bela e merece respeito. Foram precisos muitos gritos de Amor e de inteligência emocional para hoje termos chegado a um brilhante spot publicitário como este.
A Gisberta ia gostar tanto de ver.

Natal

Tenho umas saudades especiais da minha mãe e dos meus irmãos. Uma sensação de que nunca mais nada será o mesmo, que nunca mais haverá um Natal juntos, que uma boa dose de amor se perdeu algures.

(...)

Uma aventura aos 44


Isto já não é a mesma coisa.
Ontem, eu que ando com a doença do sono como se tivesse sido picada pela verdadeira mosca tsétsé, lá me aguentei até às 00h. Eh pá aquelas coisas de romântica incurável, queria ser a primeira a dar-lhe os parabéns, assim com grande beijo na boca e festinhas à gata e sabe-se lá mais bem o quê. Com quilos de amor e tesão, e até tinha a vela dourada e a fatia de bolo com uma phisalys em cima (que ele adora). Era só cantar baixinho (para não acordar a meca) no meu happy birthday desafinado e mal pronunciado.
Vai daí que ele adormeceu antes e a faltarem 15 minutos para a meia noite levanta-se do sofá e solta um mortal vou dormir
Gelo senhores, muito gelo. Quase morri. Mas pronto, lá cantamos os parabéns de manhã cedo, eu e a meca. Depois ela fez o berreiro do século porque lá achou que o bolo era só dela, e ele já bufava porque estava atrasado para o trabalho e eu só pensava não acertas uma miúda.
E foi assim, cheia de boas intenções mas com má cara, que dei as boas vindas a este dia tão especial.

E isto


Crash bum bang. Desabei em lágrimas.

É isto

E hoje acordamos assim

Com um dia tenebroso de Inverno puro e duro. Uma chuva e um vento bem envolvidos no pior dos cinzentos-rato. Um dia assim, sem cor e sem luz, adverso. Ainda não eram as nove da manhã e já o vento rebelde me tinha amarfanhado dois guarda-chuva. O pior mesmo não são estes dias, são estes dias semanas seguidas, ás vezes meses. De tal modo que ficamos com a depressão colada à medula, emocionalmente albinos pela falta de sol.

Acordamos com a noticia das pontes dadas pelo Governo; no Colégio da minha filha notou-se bem a animosidade que isso causou nos funcionários públicos: há gente que infelizmente precisa de incentivos até para desejar bom dia aos demais.

Importante mesmo é que hoje o pai da Maria celebra 45 anos. Não estou num dia de grande alegria e entusiasmo, mas ainda assim ele é o meu amor e claro que vamos comemorar e claro que estou grata a Deus por os nossos caminhos se terem cruzado há mais de vinte anos.

Quanto à Maria, depois de uma semana em casa a comer-me o miolo, hoje foi azucrinar para o Colégio. A ver se logo regressa a casa mais centrada, menos umbigo centro do mundo. Sem duvida que os miúdos precisam de rotinas desde cedo, e dos pares para perceberem desde o inicio a relativa importância de cada um. Eu pensei em ir correr mas embora gorda não sou masoquista, com este temporal na na ni na não, nem pensar! De maneiras que já estou em casa, enfiei outra vez o pijama de ursa e vou pesquisar ofertas de trabalho. Um dia destes o telefone toca e esta pasmaceira acaba.

 

blue and yellow

Têm sido as cores mágicas deste Inverno.

Coisas de Mãe

Justo antes do nosso ultimo jogo no mundial, vi uma foto que a dona Dolores Aveiro postou nas redes sociais, a dar força à Seleção. Uma foto a preto e branco, dela abraçada ao filho. Uma foto bonita mas que não sei porquê me causou logo ali uma tristeza fininha. Interpretei como uma foto mau presságio, uma foto colo de mãe porque o filho precisa muito. Dei comigo a pensar que aquela mãe não estava com bom feeling para o jogo. E o sexto sentido de uma mãe, especialmente de uma mãe como aquela, costuma ser exacto como a matemática.

Infelizmente viemos mesmo embora e eu que até não sou muito de futebóis, senti tristeza por ver o nosso Cristiano chorar assim, como um menino de cinco anos. Tal era o Sonho e a Paixão dele. 

Querido Cristiano, quem sabe um dia o teu filho ganhe um mundial por Portugal, e tu descubras que afinal o sonho às vezes surpreende-nos e é ainda mais perfeito do que poderíamos imaginar. Entendo que não há mais nada que pudesses fazer para Portugal estar mais orgulhoso e agradecido. Querida dona Dolores, é como no filme a Paixão de Cristo, quando Jesus cai com a cruz e a Mãe corre para ele e se lembra de quando ele era pequenino e caía. Há uma dor pelos filhos que não se explica, talvez seja por isso que Deus nos deu a oportunidade de termos um colo mágico que cura.

Amor. Amor. Amor.

Terceiro domingo do Advento

Domingo da alegria.

Curiosamente hoje sinto-me inquieta, tristonha. Saí para caminhar sozinha e senti-me quase estranha na cidade, reflexo claro de que estou já há demasiado tempo fechada em casa sem trabalhar. Depois aconteceu uma coisa minúscula quando cheguei a casa - não me apetece escrever sobre isso - mas que me plantou uma sombra no olhar.

De resto cá em casa a Maria tem tido um comportamento que denuncia excesso de várias coisas e eu não estou nada feliz com isso. Pedi á família contenção nos presentes mas acho que não é isso que vai acontecer. Anyway é Natal e eu não posso controlar a vontade e a carteira alheias. Mas conheço-me, vou ficar preocupada e de coração apertado por ver a minha filha deslumbrada com demasiado e a achar que é o centro do mundo. Eu e o pai dela também nem sempre estamos de acordo em relação ao que é importante para ela e isso é outra coisa que me preocupa. Mas pfffffffffffffffffffffff, respira fundo miúda, filho pelos vistos é isso mesmo: lição de vida para aprendermos que não controlamos nada.

Entretanto o Inverno faz-se anunciar no calendário dentro de uns dias, mas nós por cá já o sentimos. Confesso que só assim me sabe a Dezembro, a Natal, a aconchego. Parece que só quando chegam os dias de gelo a sério, se acendem as luzes cá dentro. E por falar em Natal, não sei como vai ser mas vou policiar esta boca. Descobri que estou muito cansada fisicamente e não podia ser de outra forma: estou quadrada de tão gorda, ao ponto trágico de me perguntarem uma e outra vez se estou grávida. Amanhã começo a correr. Se calhar tipo Forrest Gump, correr por razões mais profundas, até resolver cá dentro. E olha, pode ser que se note por fora.

Manhã de nevoeiro no Porto com direito a muuuuito frio. Á porta do colégio, olho para a minha filha com apenas os olhinhos à vista (de gorro, luvas, cachecol, camisola de interior cardada, quilos de roupa e casado de pêlo) e pergunto de coração apertado:

- Estás quentinha Maria?

Resposta dela em tom lacónico: 

- Não mamã. Estou morna.

(...)

Nota: foi a primeira vez que a ouvi dizer a palavra morna.