Mãe

Ser mãe não é a coisa mais romântica e bonita do mundo. Ser mãe é outra coisa, é a melhor coisa do mundo, mas não é bonita nem romântica:

Ser mãe é muitas vezes nem sequer ter tempo para tomar um banho em condições, mesmo estando desempregada. Ser mãe é correr a sério esse risco, o de ficar desempregada. Ser mãe é ficar para depois em tudo, na hora de comer e na hora de dormir, na hora de ser amada. Ser mãe é sentir-me incompetente mesmo estando a dar tudo de mim. Ser mãe para muita gente é planear bem o futuro, para mim é viver bem o presente: as duas coisas seria exaustão. Ser mãe é auto questionar-me tantas vezes, e ninguém gosta de duvidar de si mesmo. Tem dias que ser mãe é mesmo muito cansativo e insano. Ser mãe é abrir mão de metas porque viraram metinhas. E ser mãe é tantas outras coisas maravilhosas, sem duvida. É rir muito sem contar, é ter uma filha que fala brasileiro sem que eu jamais tenha tido sequer um caso com um brasileiro, é ser chamada para brincar na hora em que puxo as calças para sentar na sanita. Ser mãe, voltando outra vez ao lado cinzento, é viver com encosto.

Mães sozinhas - ou pais -, mães com filhos com necessidades especiais, mães de muitos filhos. Acho incrível a vossa dedicação e o vosso amor a tempo inteiro, sem queixas. Para mim vocês são seres de outra dimensão, e eu sei que é apenas o Amor imenso a operar.

Mas deixem-me dizer-vos: eu mãe, vou de rastos.

Há coisas na maternidade que me chocam, como o facto de passarmos a sentir que só temos aquele grande objectivo. Será sempre o maior de todos, será sempre a prioridade. Mas não creio que seja grande mensagem a deixar à minha filha: aqui jaz a tua mãe que achou que valia a pena deixar de ser feliz. É pequeno e redutor demais.

Sem o pai dela presente, eu já teria pifado. É o melhor pai do mundo, mesmo. Hoje, como tantas vezes, até trouxe o jantar como forma de me poupar. Ele brinca com ela às princesas e tem uma paciência infinita. Tem um sangue frio impressionante que ajuda a resolver quando ela se magoa. Mas ele nunca - nunca mesmo - vai adormecer a filha. Ele não lhe dá banho. Ele não atura a cria a tempo inteiro com cem por cento do pistão a queimar, isso não. E ela tão pequenina até já aprendeu: para fazer cocó, limpar o nariz, ir dormir, só a mãe. Sabem aquela hora para ler um pouco, ficar relaxada no sofá a ver uma série ou uma novela? Daqui a doze dias faz três anos que nunca mais tive. Acho que ser pai, para uma grande maioria, no século em que vivemos e apesar de todas as mudanças comportamentais, ainda é bem mais fácil do que ser mãe. E falar desse desgaste, dessa exaustão, causa ruido nas relações. 

Ser mãe é uma interminável oração em silêncio.

E pensar que a minha experiência de maternidade é ainda assim mil vezes melhor que a da minha mãe, que criou quatro filhos sozinha e nem deve ter tido tempo para estas mariquices modernas que agora me achacam.

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