Liderar com Eneagrama

Ferramenta importante de auto-conhecimento. Descobri que sou do eneatipo 8, bastante integrada no eneatipo 2. Só para perceberem a complexidade, os extremos deste tipo de liderança vão desde um Trump a um Gandhi. Percebi porquê que me incomoda tanto trabalhar com uma liderança de tipo 3, e isso ajudou a esclarecer alguma relação laboral passada mal sucedida.

Muito importante conhecermos e assumirmos os nossos pontos fracos, e trabalharmos sobre eles. Seja qual for o nosso eneatipo. Palavras-chave: observação e desenvolvimento.

Dia 12

As rosas de S. Valentim continuam tão bonitas como no dia 14 quando chegaram cá a casa. O eucalipto e a flor de cera vão cedendo, mas as rosas não.

No meio destes dias nublosos, é o Amor na minha vida que me sustenta. Olho para as flores e penso em toda a entrega. Sem esta pessoa ao meu lado, estes dias seriam absurdamente mais difíceis.

Uma mota à tio Carlitos

Daquelas que há trinta ou quarenta anos atrás eram as rainhas da poluição sonora. Rasgou o silêncio da noite às 4h14m da madrugada, num percurso longo a percorrer estridentemente aquela que é a segunda rua mais longa da cidade, naquilo que pareceu um zumbido irritante interminável.

E o velho do andar de cima, que viveu anos no Brasil. Á mesma hora a sintonizar o que quer que fosse a vomitar noticias em brasileiro (deu-lhe as saudades), num volume obsceno.

Não se dorme mais, só se fica com a pseudo-depressão ao rubro, com uma vontadinha louca de fugir para bem longe. Destes dias, destas pessoas.

orquídeas selvagens no topo da casa em ruínas

Há dias assim. De um profundo desânimo. De um total desarme de qualquer intenção de movimento. De um desencantamento geral. De uma tristeza oca, dessas que não fazem sentido porque ainda nada nos faltou e há tanta gente a passar tão mal. Dias de ficar quieta, em silêncio. A prestar um quase assistencialismo à minha filha, à espera que isto passe. Sem musica cá dentro, sem vento na alma, sem janelas no olhar.

News today

"Esta pandemia ceifou mais vidas num ano na América, do que a primeira guerra mundial, a segunda guerra mundial e a guerra do Vietnam, juntas." Joe Biden

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Maravilha das maravilhas

A live completa da Maria Bethânia, no Globoplay:

Eu quero vacina, respeito, verdade e misericórdia.

Life goes on

Voltei a ler assiduamente, de certa forma voltei a viajar. Sobre os livros gostaria de dizer que mais do que qualquer formação especifica, foram quem contribuiu mais significativamente para a construção da pessoa que sou hoje. Houve um interregno grande, de anos, nesta minha forma de me nutrir interiormente. Mas estou de volta e nesta ultima semana foi sem duvida um dos factores-pilar do meu bem estar. 

Cá em casa consigo deixar tudo e ir dormir a sesta com a minha filha, sem dores de consciência. Também consigo deixá-la choramingar porque preciso de meia hora para mim. Basicamente preguiço e ligo o turbo alternadamente, sem grande desgaste psicológico. Consigo desligar o telemóvel ou mantê-lo em silêncio durante horas, e tenho conseguido minimamente praticar sobre o meu calcanhar de Aquiles: organização.  Há tanta coisa alem dos nossos muros-muralha, o segredo é não superlativar a importância de dias que dadas as circunstancias são afinal, nada mais do que dias de uma imensa sorte maior.

Na nossa varanda citadina brotou uma camélia oponente, e temos orquídeas selvagens a florescer. Os dias de Sol estão a chegar timidamente. Além da Luz e da beleza das flores, procuramos animar-nos na constância de beijos e abraços apertados que todos os dias damos e nos quais incluímos a nossa pequena Maria. Ela há-de crescer com a certeza de que a pedra basilar é o Amor.

Vai ser tão bom voltarmos a ser livres.

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A minha bébé

Se fosse um desenho animado, em termos de fisionomia seria a Heidi. Oxalá em tantas outras coisas cresça parecida com a menina preferida da minha infância.

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Flash

 

sobre a beleza e sobre a luz

Observarmos como faz a natureza no seu compasso sereno e silencioso, ao praticar a espera. Termos por certo que esses dias - os mais bonitos e iluminados - hão-de sempre chegar.

Flash

 

Teatro Nacional S. João

Tenho fome de cultura, agora mais do que nunca. Só precisamos que tudo reabra, que haveremos de ajudar a salvar uns aos outros.

Estado de saturação

Por aqui vive-se numa sensação de enfartamento, de indigestão permanente sobre toda esta parafernália à volta de um continuo estado de emergência que nunca mais termina.

Continuo a achar que muitos dos que não vão morrer de COVID19, vão morrer de fome, de depressão e de dividas. Que a tentar tapar um buraco, estamos a abrir outro maior, e vá-se lá saber como vamos resolver no futuro. Continuo a achar que o rei vai nú e a COVID19 veio só destapar muitos problemas organizacionais graves no nosso SNS. E vejo que em cima de erros estão a cometer-se outros maiores, e já quase não se pode emitir uma opinião sobre o assunto porque o que é a própria democracia em si, também vai manca. Ninguém nos contou que a COVID19 também estrangula mas quando chegar a fase dos suicídios por desespero - que infelizmente vai chegar - vamos todos perceber que esses serão no final das contas as outras vitimas, as que ninguém protegeu porque vão morrer da doença sem sequer a contrair.

Concordo que não deve ser nada fácil para o Governo gerir tudo isto, é impossível faze-lo sem cometer erros. Mas há momentos e decisões que algumas vezes me causam uma certa urticária mental. Louvo o esforço em todas estas medidas para apoiar as famílias, mas os apoios hão-de terminar e as quase novecentas mil pessoas que já perderam os empregos, como vão fazer? Porque a criação de emprego não vai ser imediata nem suficiente, e o apoio às empresas vai precisar que antes de mais estas não estejam já traumatizadas e com um certo medo entranhado de novos confinamentos.

Tudo isto me preocupa muito e faz-me olhar para o futuro com algumas interrogações pertinentes. Uma delas é o dia em que decidirmos onde vai estudar a Maria, e se vou ter possibilidades para dar uma resposta à minha filha. Eu estudei numa escola publica e considero que foi um lugar perfeito na minha formação e educação. Gostava que acontecesse o mesmo com a Maria, mas são tantas novas e inesperadas questões.

Por agora só queria mesmo que isto terminasse, já ninguém aguenta mais.

Flash

Primeiro dia de Sol a sério. Na rua encontrei este senhor, com a máscara ao redor do pescoço, evidentemente a não cumprir nenhum dos critérios de circulação. A dar de comer aos bichos, aparentemente alheio a tudo o resto que se passa no mundo. Confesso que quase lhe invejei a liberdade de ação e a determinação sobre as coisas que são realmente importantes. Lembro as palavras de Bergeret: "A dama que leva o cão pequeno pela trela: quem à meia-noite numa rua sem saída, tem o outro em seu poder?" 

As eternas questões sobre a Saúde Mental.


o velho sem máscara e os pássaros felizes

"Aquela interrogação que intrigou várias gerações: pode o bater das asas de uma borboleta em Java provocar uma tempestade em Nova Iorque? encontrou resposta numa pandemia que veio de longe, e já deu a volta ao mundo, e que permite a um queiroziano interpretar o Mandarim de forma inversa:
o toque de uma campainha na China, pode matar idosos em Lisboa?"
Francisco Silva Dias, Presidente da Associação de Arquitectos Portugueses, in Jornal Arquitectos, número 260

Adoro


Para ouvir até ao fim.

Sobre a nudez psicológica


Muito interessante esta iniciativa da Vogue. Pessoalmente sendo mãe, há dias em que a escolha de uma carteira se transforma numa verdadeira questão em que o que menos importa, sou eu. E perceber que a belíssima Anjie afinal tem tanto em comum com tantas de nós mulheres anónimas. 

Flash


fev21

Existe uma fenda em tudo. É assim que a Luz entra.
Leonard Cohen

Para depois da pandemia

Vamos ficar aflitos por viver. Muito mais consumistas. Muito mais problemáticos no regresso à vida laboral, mais conflituosos na vida pessoal. Do ponto de vista da Saúde Mental o que nos aconteceu agora vai trazer repercussões sem precedentes. 

(...)

Flash

 



Nunca pensei que as gruas na cidade, e as árvores maiores do que as casas, me fizessem sentir tanta esperança.
(...)

Nós e a pandemia

Cá em casa os dias têm sido de algum nervoso miudinho. A tempo inteiro com a Maria dou comigo a pensar nas mulheres de antigamente; que não tinham um emprego, eram exclusivamente cuidadoras do lar e da família. Aquele que continua a ser nos dias de hoje o papel mais importante na vida de uma mulher, por si só, é redutor. Eu dou em louca neste ram-ram de casa-cozinha-Maria. 

Casa de ferreiro, espeto de pau. Verdade verdadinha. A Maria tem tido umas reações menos próprias com as pessoas do nosso entorno. Aquilo que inicialmente pensei ser alguma ansiedade de separação típica de um período de desenvolvimento normal, considero agora que são apenas reflexos da vida de uma criança confinada. Numa tentativa de estimular a adaptação gradativa a pessoas desconhecidas - que por causa da pandemia interrompemos abruptamente - ontem levei-a comigo ao supermercado. A minha filha não é empática, não é simpática, e vai tendo uma ou outra reação de bichinho assustado, coisa que confesso me tira o sono. Acabo por lhe repreender o choro inconsolável e esqueço-me que é só do meu colo e da segurança que ele lhe transmite, que ela precisa. Por outro lado anda a viver este binómio de redução da relação umbilical comigo e intensificação de uma relação triangular na qual o pai tem sido o protagonista. Dá gosto ver como se amam aqueles dois, é puro e genuíno o entusiasmo dela quando sente a chaves do pai na porta, na hora em que ele regressa a casa. Mas de resto eu continuo sozinha com as fraldas e os biberões, e só me apetece gritar e fugir. Sem sequer ser razoável estar para aqui a queixar-me, uma vez que quem está em casa, afinal, sou eu. Lido mal com a chamada hora da bruxa (arsenic hour), que acontece no final do dia quando ambas estamos exaustas e com stress acumulado. E ele chega e também só quer descomprimir de um dia duro de trabalho. Ficamos os três meio à toa e eu afogo-me nesta péssima sensação de andar ainda à procura de conforto neste meu papel de mãe.

Tudo isto tem servido para perceber o que é de facto essencial. A minha filha precisa de apanhar sol, de correr nos parques, de rebolar e rir alto fora de casa. Eu preciso de por ela, nunca mais desperdiçar um só dia de luz.

(...)

As montras dos comércios contam coisas. Quase no Valentine's day, tantas continuam ainda enfeitadas para o Natal 2020. Os proprietários simplesmente fecharam as portas e foram embora, num desânimo cortante. As vidas ficaram suspensas e as iniciativas estagnadas, num prenuncio de pessoas adormecidas e sem vontade.

(...)

A gente da minha terra


Vive numa pobreza tão grande, numa inferioridade tão triste. As ultimas imagens que nos chegaram, da violência em Luanda, demonstram o quanto a guerra marca o ser humano, e o quanto a memória fresca desses dias vividos, é a qualquer instante o rastilho para novas feridas arderem. Ali matar e morrer vale tão pouco, choca tão pouco.
Não me tentem convencer que homens magros como cães de rua, descalços e rotos, sem armas nas mãos, são uma ameaça.
Acontece em toda a parte, neste mundo cão. E não deveria acontecer em lado nenhum.
(...)

Que saudades do mar. E da cidade, morando nela.

Seria bom que nenhum de nós se habituasse a este autismo forçado. Oiço falar em idosos fechados em casa há um ano, e é tão preocupante. O medo a marcar a vida das gentes, a atrofia física e mental a ganhar terreno, e todos tão ligados ao ecrã a tentar encontrar normalidade numa vida assim. 

(...)

Flash

um botão no tecido da calçada

espelhos

Se puderes olhar, vê. Se puderes ver, repara.
José Saramago

Foi assim um dia, e sobreviveu-se

"Nos tempos em que os animais falavam da minha infância na Vitória, nada se deitava fora. Nada se perdia e tudo se transformava. Nos sapatos punham-se meias solas e “protectores”, para não gastar tacões e biqueiras. Os fatos e sobretudos viravam-se. Colarinhos e punhos das camisas eram mudados. Os buracos das calças remendavam-se, aproveitando o pano de outros sítios (chamava-se pôr fundilhos) e os das peúgas eram cosidos por mãos de fada, até ficarem rendas. As malhas das meias «de vidro» eram apanhadas por «apanhadeiras» instaladas em vãos de portas. E até as gravatas eram viradas. Mudando a geografia: tachos, panelas e jarros levavam «pingos» de solda quando furados e os fundos, quando gastos, eram substituídos. O mesmo sucedia com recipientes de metal, incluindo penicos. No caso da louça, pratos, travessas e tampas partidos, eram reconstruídos usando «gatos» de arame. Para quem os possuía, quando os pneus dos automóveis ficavam carecas, mandavam-se recauchutar. De comidas aproveitava-se tudo. Do jantar para a ceia. De um dia para o outro. Deitar fora (sobretudo pão) era considerado pecado, e deixar no prato absolutamente proibido. Faziam-se prodígios com espinhas e peles de peixe (especialmente bacalhau), ossos e cartilagens dos animais. A geração para quem Vigo era o estrangeiro e a praia no Molhe, as férias possíveis, que, nos tempos da II Guerra e do pós-Guerra limpou o cu a papel de jornal, habituada ao sacrifício, poupança e a usar a imaginação para sobreviver, conhece os contornos da situação para que o país está a ser empurrado. (...)"

Helder Pacheco, in O Regresso das dificuldades, 2013

Miúdos em casa

Isto de achar que a minha filha ia ser diferente dos outros, foi só a visão mais romântica da minha vida. A Maria grita como se fosse um hooligan da claque do Porto. Apanha ciscos do chão e come! Destrói-me as plantas e praticamente todos os dias temos um directo por estas bandas do Querido mudei a casa. Só quer comandos e ipads e telemóveis - e não, eu não lhe dou estas coisas para a mão. Viciada na televisão, de tal maneira que agora costumo desligá-la umas horas, para ela apreciar o silêncio e descobrir que tem brinquedos. Não perdoa o momento de comer e de dormir, a casa vem abaixo se me atraso, e eu fico a pensar de onde me saiu esta mini ditadorazinha.

A juntar a isto, eu estou em casa. Portanto qualquer irritação extra, tenho o pai da Maria para me lembrar que tanta fralda, tanto biberão, musculação constante no ginásio pega-ao-colo, intolerância ao choro dela no fim do dia, são só entretenimentos que o Estado ou o Patrão nos financiam a nós mães super sortudas. Eu só lhe queria dizer que preciso de tempo. Para pintar as unhas, para ter uma aula de yoga online, para me concentrar na formação ou numa reunião de trabalho, para arrumar a casa, whatever!

E depois a consciência a pesar. O pensamento base: ela é só um bebé de um ano. E a verdade é que me vê muitas horas com o computador ligado, e nós não percebemos mas tudo são aprendizagens. No fundo eu é que estou com dificuldades de gerir isto a tempo inteiro. E que sorte a minha, que ainda não são para aqui chamadas ao barulho circunstâncias escolares.

De resto, Amo muito a minha mémémé. Qualquer dia passado com ela, é sempre o melhor dia da minha vida.