Da inocência

Do poder que tem para nos salvar. Ontem a minha Maria, ao sentir que eu estava derrotada pela tristeza, apresentou-me uma solução:

- Mãe, porquê que tu não usas os teus super poderes?

E foi assim que eu fiquei a saber que aconteça o que acontecer, não posso fraquejar.

Quando bato no fundo

procuro sempre agarrar-me a um nada. Ao desenho silencioso de um aviãozinho que atravessa o céu lá longe. Ao pinheiro lindo, enorme, do campo nas traseiras de casa; olho para ele e só me ocorre o Natal. Ao abraço da minha filha, ao sorriso dela. Aos gatos a brincarem nos telhados de zinco que avisto da janela. Ao pézinho de framboesa que me ofereceram esta semana. Ás copas comoventes das árvores frondosas; aos laivos de luz em tons rosa e laranja a espreitarem no céu. Ao colo de quem já me conhece, e sabe que estou triste, e tenta soprar-me as sombras do olhar.

(...)

Tenho vivido alguns dias violentos no trabalho. Ás vezes olho para mim mesma e fico cheia de pena. Disto em que me transformei, numa máquina só de limpar, que já nem sequer é capaz de impor alguma consciência sobre limites. Ao longo de toda a minha vida é sempre nesta pedra que tropeço. E sim, começo mesmo a acreditar que se não consigo mais, é porque não mereço mais.

Ponto do caminho em que não aguento. Outra vez. É o trabalho mas não só; são as pessoas, é o tempo frio e cinzento há demasiados dias, sou eu mesma, é este corpo, é esta casa, é o não sair da cepa torta. Acho que está na hora de ter coragem para pelo menos querer mudar. Ir, nem que seja sozinha. Depois quem sabe, morrer. Mas ficar a viver castigos, num modo permanente, está a causar em mim um desgaste que me aproxima também do fim.

Perdida por cem, perdida por mil.

Roda viva

Os dias têm sido assim. Ora descontente com quase tudo, ora imensamente feliz com quase nada. Têm sido sempre as pessoas a fazer a diferença na minha vida. A dar a força, o alento, a luz que eu preciso.

Têm sido sempre os detalhes a salvar-me. E a Fé.

O meu Luís às vezes falha um dia, mas depois acerta dois. E cuida-me como nunca ninguém fez. A minha filha diz-me que me ama muitas vezes no caminho. Sempre que faço noites, chego a casa e encontro um desenho dela sobre a mesa, pintado para mim. E traz-me pedrinhas da rua, que ela apanhou, que ela escolheu para mim, com um valor imenso, acima de todos os diamantes do mundo juntos.

Às vezes a vida também tem dias assim. Cheios de amor e de certezas.

O importante é isso mesmo, que a roda seja viva 

13 de Maio

 


Avé Maria.

Tu sempre minha Mãe. Tu para sempre. A tua presença em todos os dias da minha vida.

Vontade de viajar

Sozinha.

Eu e a Torre

Outra vez parada aqui, nesta minha tão pequena e insignificante mas por vezes dolorosa existência. Ao fim de uns dias a fazer noites, mesmo repondo algum sono em manhãs partidas, desmorono cá dentro. Porque há coisas que não vão bem com a Maria, com a casa, comigo mesma. Há um nível de incompreensão que fica a saber a falta de colo, a falta de quem cuide. Ao ponto de não estar já sequer a conseguir manter o telefonema diário para a minha mãe. Não me apetece. Já não me apetece nada nem ninguém. Momentos da batalha em que me sinto sozinha e em que tentar desabafar só piora as coisas. E eu aguento tudo, mais ou menos ao longo da vida fui sempre sozinha nas minhas batalhas, pelo menos foi assim que sempre me senti no caminho. Fraquejo num ponto chamado Maria. Ninguém percebe que a minha filha não pode tomar penicilina como quem toma benurons. E que ela não é uma barbie ou um peluche. E eu só tenho mais é que perceber que ninguém tem obrigação de nada e que se eu não estou bem, ponho-me. E porra, deixem-me em paz, que bastam-me as obras infernais no andar de cima. Deitar-me às 2h da madrugada, levantar-me às 7h para preparar a minha filha e não voltar a dormir mais porque às 8h começam as marteladas. E não há ninguém - ninguém - que me cuide ou valorize. Há quem me estique, quem puxe ainda mais por mim, quem me repreenda, quem ache sempre que eu tenho que fazer melhor.

A fritar a pipoca, sabem. Vontade de desligar o botão e ser esquecida de vez por todos.

Eu só quero dormir.

Talento puro

Alguma esperança neste mundo cão

Saber daqueles jovens universitários, que nos Estados Unidos se manifestaram e se sujeitaram à violência policial, para dizer NÃO à guerra em Gaza.

(...)

Brutal

Maio

Mês de Maria. Mês de Amor. Mês de Luz.

(...)

Dia da Mãe

Foi ontem, dia 5 de Maio.

Ás vezes tento, forço uma ponte de ternura com a minha mãe, e essa ponte precisa de dois lados para existir. Tento. Ontem só fiz um esboço de tentativa, nem sequer fui capaz de insistir. Ontem estava tão exausta que optei por ser só mãe. Mãe da minha Maria, do meu Sol de menina, do meu Amor perfeito.

Que me perguntou do nada: "Mamã, porquê que tu nunca ficas doente?"

(...)

Ontem dia da Mãe. Dia de festa para ela e o pai, dois leõezinhos autênticos, felizes, porque o Sporting foi Campeão. E enquanto eu me dedicava a dobrar um Evereste de meias e cuecas, eu e o pai decidimos coisas importantes. Porque é assim que a vida acontece de verdade, nas decisões. No Viver, sem ficar à espera da hora perfeita ou de grandes momentos.

Dia da Mãe, dia de muitas coisas que nunca mais vamos esquecer.

Adenda ao post anterior

Ás vezes surge o dilema entre o que sabemos que não deve ser negociável, e os nossos valores muitas vezes acima de direitos e deveres, de décadas de luta, bulas papais e o diabo a quatro.

Gente, fazer um turno das 7h à meia-noite num Hospital, pode mesmo ser necessário. O que não pode é ser um hábito, uma coisa que se repete. Mas num caso isolado, sim. Trabalhamos para o doente, a máquina tem que funcionar sempre. E nos bastidores estão pessoas, que adoecem, que morrem, que falham. 

Aos 45 anos o turno mais longo de trabalho que fiz, foi num dia do trabalhador. Voltarei a fazê-lo, se a minha consciência ditar. Sem que isso ponha em perigo tudo aquilo em que acredito e o quão estou grata a todos aqueles que lutam arduamente pela garantia dos direitos assegurados de todos nós.