Não ando nos meus melhores dias. Esta porra de não conseguir emprego, de ir passando por entrevistas que só me frustram mais, de ser obrigada a contar as massas eu que detesto sequer tocar neste assunto, de ver algumas prioridades passarem de leves a significativas no que me pesam às costas na montanha que agora subo, tudo isto mais estes dias tão frios de Janeiro, deixam-me assim com imensa vontade de hibernar.

Eu sei que é passageiro, mas a minha filha que não tem culpa absolutamente nenhuma, leva com o mau feitio e azedume que causa a circunstância. São mais os dias em que tento aproveitar o que de bom o momento actual me dá, por vezes dou comigo a pensar que dias assim não se voltarão mais a repetir. Mas há sempre os dias de maior acuidade da consciência: estou desempregada aos 44 anos, ponto. O meu campo de ação vivencial fica tão limitado que custa persistir de bom humor. No fim do dia é quando eu estou mais nuvem negra, mais um dia de nada, menos um dia de tudo. E coincide com a hora da bruxa na minha filha, que fica impaciente, impertinente e bebézinha aos quase três anos. É aí que normalmente eu pifo. Esta casa cheia de boa vibe vira um ringue, e sou eu quem deve ser socada sem reagir. Porque ela é a pequenina, aquela que merece o melhor de mim seja em que fase da vida for, seja em que fase do dia for.

E agora vocês dizem: esta tipa é bipolar. Pois. Complicado. Mas não, acho mesmo que é só a vida normal a acontecer. (...)

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