Sonhos #1

Ter uma casa na aldeia. 

Ver da minha janela os campos e as ladeiras com geada, enquanto tomo um café de coar, daqueles que a minha avó fazia e que perfumavam a casa toda. Sair para lavrar a terra, para plantar e para colher. Ter gatos no quintal, pelo menos uma laranjeira e um limoeiro.

O Big Brother do exercicio politico no nosso país

Autêntico. De há uns tempos a esta parte, cada vez que ligo a televisão para ver noticiários, é esta a sensação. De uma coisa muito pouco séria, de todos serem promíscuos, de haver uma carência grave de valores e princípios, de não haver Raiz, de haver tantos abutres a rondar a carniça, de uma falta de elegância atroz naquilo que se define por ser humano distinto. Num momento em que se espreme o que se entende por bom líder, esquecendo-se que qualquer bom líder deve ter uma boa formação pessoal de base, se formos espremer bem as laranjas à procura de sumo, eu vejo muito pouco que interesse na nossa cena politica e governativa actual, desde as capelas às capelinhas: uma senhora Ana Mendes Godinho, muitas vezes uma senhora Catarina Martins, um senhor António Costa, um senhor Cotrim, um senhor Rui Moreira, um senhor Marcelo de Sousa. Gente que sabe, que discute com convicção sem perder a elegância, mesmo que depois o RAP nos faça rir muito deles. Tudo o resto têm sido só bandeiras e cores. E ruído.

Para mim serão sempre as pessoas que primeiro são Pessoas e só depois serão tudo o resto, que fazem uma diferença que marca.

(...)

Proibido não Viver

 










Dias assim, cheios de uma Luz que nos entra cá dentro e nos abre as janelas da alma e do coração de par em par. Que nos põe as emoções a corar e nos lembra que temos pulmões.
No fim de semana passado pegamos na miúda e fomos até ao parque da cidade. Correr, saltar, deixá-la gritar golo e correr atrás de uma bola da Peppa pig com o pai. Só ali lhe conseguimos finalmente explicar que jogar á bola não é dentro de casa. Ver aquela gente toda saída das tocas, que engane-se quem pensa que nós humanos somos muito diferentes dos bichos. E vê-la voltar para casa com as calças todas esverdeadas nos joelhos e as unhas cheias de terra. 

Parece que renasci, ou que pelo menos sacudi um pouco da minha depressão de cima dos ombros.

Agora a sério, muito a sério

 


Este nosso bichinho às vezes selvagem, tem detalhes que me espantam. Hoje quando a tia lhe perguntou pelos avós, respondeu A minha avó Rosa tem outro dodói na perna. Não contou sobre a pistola nova de fazer bolas de sabão que o avô lhe comprou. E pasmem como eu, que só ela viu esse pormenor tão grande, porque nem eu nem o pai nos apercebemos da ferida na perna da avó.
Acho que os filhos todos devem ser mais ou menos assim, nem só perfeitos nem só caldo entornado. Esta pessoinha pequena, que gosta infinitamente mais das pessoas do que dos presentes, tem só três anos de vida. E fui eu e o pai que a trouxemos até aqui. Ela é o nosso maior altar, a nossa coisa mais bem feita de todas.
Ás vezes penso no futuro e fico cheia de preocupação. Depois acalmo e penso naquela musica antiguinha de toda a vida que diz que viver é simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente. Assim simples. Um dia de cada vez. A Maria já tem três, uau! Agora dou-me conta das conversas chatas da minha mãe: Logo serão dezoito e quando ela tiver quarenta e quatro eu vou lembrar orgulhosa que fiz esse caminho todo com ela, sem nunca lhe soltar a mão.
Um dia de cada vez.

Cria-se uma filha para isto


Para ela ser uma miniatura de sem vergonha, que adora mas diz que não gosta seja de que presente for, que não diz obrigada, que já é uma mini ditadorazinha que qualquer dia faz frente ao Chega com o partido do Eu quero Posso e Mando. Uma miúda que aos três anos, só por estar na companhia da tia mais amada, me chamou de senhora cheia de altivez como se não me conhecesse de lado nenhum. Que já não quer a minha mão e que diz como quem faz queixas sérias que A mãe está farta de me chatear a cabeça. Não senhores, não gosto nadinha destes azeites nela. Mas não fiz escândalo, não maltratei nem castiguei. Sorri só e fiquei em choque. Ainda estou a processar, a preparar-me psicologicamente para a possibilidade de ela vir a ser mesmo muito diferente de mim. Vai deixar de ser minha filha? Não.
(...)
Ela hoje teve um dia mesmo muito feliz. E acima de tudo, isso foi o mais importante que nos aconteceu.

Zelensky

É marcante o cansaço, a tristeza e o envelhecimento no olhar deste senhor. Desde o inicio da luta até ao dia de hoje, há uma mudança radical no semblante. Da maldita guerra, não se pode esperar outra coisa.

Obsceno

O plano de investimento da autarquia de Lisboa no altar do Papa para as Jornadas Mundiais da Juventude. Por mais que argumentem, não me convencem. Se Jesus Cristo fosse vivo duvido muito que pactuasse com um altar religioso com valor superior a 4 milhões de euros, no mundo tal como está. Por maior que seja a multidão esperada, por maior que seja a necessidade de segurança.

Ice merchants nos Óscares

Para mim que sou uma amante de curtas-metragens, esta é uma noticia tão feliz.

Ansiosa por ver.

Dias assim

Os mais bonitos do ano: gelados, de céu azul e sol poderoso. Apetece reagir, andar lá fora, fazer caminhadas e tirar fotografias.

Mas hoje não consegui. Depois de deixar a Maria no Colégio, vim para casa. Tomei um café com leite, sentei-me a responder a anúncios de emprego e confesso que ainda nem sequer abri as janelas de casa, eu que gosto tanto de dar passo à luz mal o dia nasce. 

Preciso de me deitar e dormir.


Hoje a minha mãe ligou-me três vezes. O habitual, para nada. Mas estava mais meiga e paciente do que o costume. A minha mãe sabe quando não estou bem, ela pressente quando preciso de colo. Dei comigo a pensar que se tudo correr mal na minha vida, enquanto ela viver terei sempre aquela asa para me abrigar, terei sempre uma casa para onde fugir. E pensamento traz pensamento: hoje por hoje, se não tivesse a Maria, teria comprado um bilhete de avião com dinheiro alheio, rumo à ilha. Rumo àqueles fins de tarde mágicos, rumo ao vento a rodopiar no cume das montanhas nuas, rumo ao silêncio. 
Para ficar.
(...)

O nível da minha filha

3 anos e 7 dias. Hoje quando a fui buscar ao colégio e lhe perguntei pelo dia dela, no meio da conversa disse duas frases deliciosas:

Hoje está um frio assustador mamã.  /  Tive um dia fantástico mamã.

Cada vez que ela usa uma palavra nova, essa palavra nasce para mim.

Ser como ela

Hoje lembrei-me da Luz Dari. Uma senhora colombiana dona de uma sabedoria invulgar, com muita idade, dócil, muito sofrida mas sempre a sorrir, a quem em oito anos de convívio nunca ouvi dizer palavras feias, negativas ou pesadas - nem por uma única vez sequer. Nunca falou mal de ninguém, e se porventura alguém tentar falar mal de outrem com ela, é das que desmancha a rede, desfaz o feitiço, desarma o mal falador. Não alinha em negativismos, não gosta, não se carrega com a má energia alheia. De forma exemplar tem uma boca sagrada, não semeia semente má, não contamina.

Nunca conheci ninguém como a Luz Dari.

Dia primeiro

66kg.
O que não nos mata torna-nos mais fortes.

Com o regresso da cria ao colégio, regressou também um pouco da minha liberdade. Por causa disso hoje consegui tomar um café com uma amiga do tempo da faculdade; falamos horas sem olhar para o relógio. Fiz uma caminhada e acabei a fotografar o jardim da faculdade de Belas Artes, não entrava lá desde a minha adolescência!






E fui feliz.

A extrema eficácia de um choque mental (ou era uma vez uma história de amor)

Que a nossa laranja inteira nos chame de gorda, assim com letras garrafais e bem redondas, a fazer pendant com as nossas desastrosas curvas (pelos vistos). É respirar fundo malta, e acreditar que assim se fazem Jennifer Lopez, Shakiras e Kardashians. 
Mais eficaz que a mais eficaz de todas as dietas. Olé.

Ando desencantada. Com o cenário mundial que largamente escala a caminho da ruina comum, e com o cenário do nosso pequeno país plantado à beira-mar no qual cresce a falta de oportunidades que virou bola de pingue pongue num ringue politico vergonhoso. Assisto espantada aos professores que sem duvida são uma classe que nos merece o maior respeito, mas que andaram uma vida inteira domesticados e de repente querem tudo no mesmo dia e isso assim do pé para a mão para mim que não percebo nadinha de economia, parece-me só um bocadinho inconsequente. Assustada com a pobreza galopante como um surto servido em pratos cada vez mais vazios à mesa dos portugueses; e com a indigestão de uma criminalidade que aumenta e nos fecha em casa. Perplexa porque ainda se discute direitos dos animais quando deveriam ser questões mais que cimentadas em sociedades desenvolvidas. Indignada por estarmos a virar um país dos sem tecto (para quem compra e para quem aluga). Chocada com o galopar de uma medicina virtual nascida de uma pandemia sem carácter, que se venera incontestavelmente e que confesso me perturba. A assistir todos os dias em direto a uma caça às bruxas que na verdade tem acertado em todos os tiros e apesar dos pesares (quem anda à chuva molha-se), sobre isto continuo a achar que não voltaremos a ter a sorte de ter outro senhor no governo como o é o senhor António Costa. Todos os que agora lhe apontam o dedo são no mínimo assustadores, somos quase um Brasil em opções, só que com um povo mais letrado mas ao mesmo tempo mais domesticado.
Enfim, que o futuro tenha piedade de nós.

Aqui a reler este blog

Dei comigo a pensar que é impróprio para todas aquelas mulheres que abominam a maternidade (sim, muitas mesmo sem saberem o que é, abominam). Acho normal que não passe pelos planos de todos, acho que sim que se pode ser plenamente feliz com outros objectivos. Não acho normal abominar sem sequer saber do que se fala, tantas vezes numa atitude até de desprezo, de uma espécie de anti-maternidade desnecessária. Afinal tudo pertence ao mundo dos afectos, tudo é continuidade. E se já amaste alguém, se já estimaste muito um cão ou um gato, certamente podes imaginar que apregoar que não suportas mulheres mães que só falam nas suas crias, está longe de significar empatia pelos outros.

A verdade é que ninguém precisa de aturar ninguém. Mas a maternidade é uma coisa mesmo muito grande. Nunca tive instinto maternal, não sonhei ser mãe. Mas depois de o viver, para mim pessoalmente, é a única experiência realmente transcendente na vida. Definitivamente a melhor e mais plena experiência de todas, a mais transformadora e reveladora de quem realmente somos e quais os nossos verdadeiros limites. 

(...)

Do meu mau feitio, da minha bipolaridade fluorescente

Não é difícil andar na mó de baixo nos últimos dias, especialmente com tanta chuva e frio e cinzento-rato lá fora, especialmente se assistir a tudo isso desde a janela de casa, fechada a sete chaves e sem grandes perspectivas de futuro. Se ao menos eu pudesse ir espreitar o mar revolto e as árvores nuas no parque da cidade. Se ao menos eu pudesse ir lá fora respirar o ar gelado. Se ao menos houvesse outra luta à minha espera.

Dentro do meu coração há uma certeza que me conforta: tudo na vida acontece da forma certa, mesmo quando nos parece errado. Só quando eu perceber o significado maior da importância destes dias, estarei apta a avançar para a próxima etapa, que eu não sei sequer se vai ser mais feliz. É só uma ansiedade tola, uma garantia de nada, uma necessidade de viver não sei o quê para além do tanto que já tenho.

Porque quando eu conseguir um emprego, as coisas que são agora as mais importantes, continuarão a sê-lo.

(...)

Já não sou nenhum bébé

É a tua frase do momento, repetes por tudo e por nada. Como se de repente começasse a surgir um discreto esboço de menininha rebelde, com atitude, decidida, orgulhosa, valente.

Para o mundo talvez já não sejas mesmo nenhum bébé. Para mim hás-de ser sempre o meu bébé.

(...)
Não tive vontade de escrever nos últimos dias. A Maria esteve doente no aniversário mas foi bonito, esteve colmada de mimos e foi um serão inesperado de algumas gargalhadas na companhia daquelas quatro pessoas que são nossas para sempre. Devo dizer que a minha filha tem uns padrinhos fantásticos, sinto mesmo que são uma continuidade de nós pais e isso é um quentinho bom no coração, um conforto, um sossego.

De resto os dias com ela têm sido os melhores. Apesar das febres altas, das noites sem dormir (juro que estou quase a pifar), da versão encosto Maria que está no expoente máximo. No post anterior menciono o livro mamã, que ganhei de presente da minha amiga-irmã de muitas vidas. Há uma imagem que define na perfeição tudo o que tenho estado a viver, ininterruptamente, desde o dia em que ela nasceu:


É engraçado o poder curativo da partilha. No livro, esse pequeno monstrinho, esses vampiros, sanguessugas, ladrões do tempo, devoradores da vida, são na verdade o maior Amor que se pode experimentar, o maior milagre de todos.

17 de Janeiro

 
imagens do livro mamã, de Helene Delforge e Quentin Greban

16h02m. 
3 anos de ti nas nossas vidas. O meu dia e hora preferidos da vida inteira, para sempre.

Numa conversa de casa sobre a Maria ter os pais certos para o tipo de menina que ela é, disse-me com total banalidade que eu sou uma mulher inteligente, como quem diz a maior verdade de todas. Nervosa mas inteligente. Fiquei a pensar que não me lembro de ter ouvido isso, se alguém disse foi há demasiado tempo de tal forma que não me lembro. O certo é que mexeu comigo. Aos 44, como se de repente eu precisasse muito de que alguém me dissesse calma, estás a fazer as coisas bem. E comove-me esta minha carência, esta falta de alimento ao ego, esta necessidade de feedback positivo, esta insegurança de quem não anda lá muito feliz.

Não estou bem, não estou a passar a fase mais fácil. Mas vou ficar bem. Esta bipolaridade dos meus dias dá passo a uma consciência que ao mesmo tempo confesso que me magoa muito: de que é sozinha que vou ter que me levantar. Vamos a isso.

E basta a Maria fazer febre

Um febrão dos diabos, como aconteceu esta noite. E tudo volta aos eixos nestes pensamentos desalinhados: nasci para cuidar dela, e a única coisa que realmente importa, é que a minha filha esteja bem. A partir daí tudo o resto são coisas pequenas e fáceis.

O que separa os casais de hoje


Antes de mais, acho a musica do momento horrível. Mas acho que faturaram todos, até mesmo as marcas mencionadas, pelo que aqui a que não percebe nada do assunto sou mesmo eu. Este novo hit espelha bem a moderna tragédia grega em que se podem transformar as relações hoje em dia. Num estalar de dedos.

Sobre o que separa os casais de hoje: 
A falta de tesão, a não partilha de tarefas domésticas, a visão diferente em relação à educação base dos filhos, a divergência na gestão financeira e um pouco mais além disso a divergência na importância que um e outro dão ao dinheiro, a falta de rir junto, a falta de férias em família e de fins de semana de sostrice em comum, a falta atroz de diálogo, a falta do novo, a falta de vontade, a falta de colo nas crises, a perda de significado da sinergia familiar, a falta de respeito.

Ninguém é só feliz, não acredito em casais felizes. Na lista das faltas há sempre um par delas que são nossas de estimação: eu não atiro a primeira pedra. A maior parte de nós quando se enamora, ainda tem tudo por construir. E construir a dois é um desafio para mentes brilhantes: somos cada vez mais individualistas e egoístas e na primeira curva do caminho estas características causam conflito. Numa época em que são admiradas pessoas que atiram a manta ao ar - por tudo e por nada - e vão ser felizes, eu cada vez mais admiro casais de longa duração, que lutam pelas suas relações, que não sucumbem ao mofo dos dias a dois. Não estou a falar dos que não se separam por causa da casa do carro e dos vizinhos. Estou a falar dos que brigam porque se importam. Dos que sabem que o segredo está em saber consertar. 

Eu sei, já me disseram algumas vezes, pareço uma velha nestes discursos. Talvez um dia eu possa ser velha junto, porque se há uma coisa que aprendi há muitos anos, foi a não dar nada por adquirido. De resto é tão triste quando as relações falham e se fica ferido de morte, quando relações esgotam o respeito e se acaba num ringue com filhos a servirem de plateia: Cruzes canhoto.

(...)

Como se eu soubesse coisa alguma. Estou tão em rota de colisão comigo mesma, que há dias que nem boa mãe me sinto. É insano não suportar o peso das horas e ao mesmo tempo a falta constante de tempo para mim. Para as merdices do dia, para não fazer nada, para pintar as unhas, para gritar, para chorar. Numa tarde inteira sem a minha filha, hoje, fiquei horas seguidas sentada numa cadeira, como morta. Horas e horas, até gelar. Já nem sei o que fazer com o tempo, desaprendi a cuidar de mim, deixei de me importar. No fim do dia ela chegou e foi o abraço das saudades. Mas logo a seguir outra vez mais do mesmo: já não tive direito a jantar sossegada, a parar para ver televisão, a sentar-me no sofá, a beber um copo de vinho. Estou cansada e sei que fico cinzenta e chata. E voltando ao que separa os casais, ninguém gosta de pessoas baças e ao mesmo tempo também ninguém gosta de se sentir a pedrinha que empanca a engrenagem.

Como é que eu me poderia esquecer: a depressão. Essa p...!, também separa os casais de hoje.

Nem sempre a gente aprende

Nesse meu caminhar cada vez mais próximo de meio século de aprendizagens, há uma difícil demais. Costumo gostar das pessoas, independentemente se elas gostam de mim ou não. E isto às vezes faz-me ser tonta e perder tempo, faz-me insistir em relacionamentos que não são de todo do interesse do outro. Gosto da originalidade, da força, da pujança na gargalhada, do imperativo na ação, da nobreza real que alguns têm mesmo que durmam na rua, do poder natural que alguns exalam - sempre me atraiu tanto. Mas nem sempre essas pessoas são pessoas para fazer caminhada junto. Então aprendo com alguma dificuldade a não procurar mais, a não admirar tanto, a não querer incluir na minha história. Para quê. Todos temos um percurso, e às vezes só temos mesmo que passar uns pelos outros. Passar e seguir, nada mais.

Não ando nos meus melhores dias. Esta porra de não conseguir emprego, de ir passando por entrevistas que só me frustram mais, de ser obrigada a contar as massas eu que detesto sequer tocar neste assunto, de ver algumas prioridades passarem de leves a significativas no que me pesam às costas na montanha que agora subo, tudo isto mais estes dias tão frios de Janeiro, deixam-me assim com imensa vontade de hibernar.

Eu sei que é passageiro, mas a minha filha que não tem culpa absolutamente nenhuma, leva com o mau feitio e azedume que causa a circunstância. São mais os dias em que tento aproveitar o que de bom o momento actual me dá, por vezes dou comigo a pensar que dias assim não se voltarão mais a repetir. Mas há sempre os dias de maior acuidade da consciência: estou desempregada aos 44 anos, ponto. O meu campo de ação vivencial fica tão limitado que custa persistir de bom humor. No fim do dia é quando eu estou mais nuvem negra, mais um dia de nada, menos um dia de tudo. E coincide com a hora da bruxa na minha filha, que fica impaciente, impertinente e bebézinha aos quase três anos. É aí que normalmente eu pifo. Esta casa cheia de boa vibe vira um ringue, e sou eu quem deve ser socada sem reagir. Porque ela é a pequenina, aquela que merece o melhor de mim seja em que fase da vida for, seja em que fase do dia for.

E agora vocês dizem: esta tipa é bipolar. Pois. Complicado. Mas não, acho mesmo que é só a vida normal a acontecer. (...)

Desabafo

É engraçado como no nosso país quase tudo funciona por amiguismos. Já quase não se encontra gente de bem que queira só dar oportunidades a quem apresente competências. Depois o espanto, o absurdo espanto em como vamos tão mal em áreas tão importantes com a Saúde, a Politica e outras. Considero que ser sugerido por alguém, ou ter uma mão que nos ajuda a subir o degrau, não é a raíz do problema; na realidade é só uma sorte que nem todos têm. Grave é quando isto acontece e a pessoa não tem sequer requisitos profissionais e morais para assumir. E mesmo assim é-lhe dada prioridade perante gente de real valor a nível de formação profissional especifica. Já passei por vários processos de seleção, já vi as situações mais vergonhas a acontecer. De uma total falta de respeito pelos valores de uma equidade e justiça social, pelos valores do outro, do zé ninguém, que está ali de currículo na mão a ouvir duas funcionárias comentarem em voz alta que o filho de fulano tal já lá passou para a candidatura. E surpreendam-se:

- Olha nem o currículo trouxe. Não precisa!

Dito entre risos de pura ignorância e total falta de empatia.

De bem comigo mesma

Ajuda muito o ambiente que criamos em casa. Rodeio-me de silêncio, muita luz, plantas, aquele pequeno detalhe em macramé, cascalho das árvores, livros, velas brancas, um altar, pedras de qualquer rua e conchas do mar. Tenho a mania herdada da minha mãe, de que haja sempre uma cesta com fruta.
Quero trazer um limoeiro para viver connosco; há-de sempre faltar-me um gato que se chamaria Sinatra. Destralho tudo o que posso, ao mesmo tempo começo a ter cuidado em não atirar por uma janela e deixar entrar pela outra.
Quase não ouço musica, não vejo televisão nem escuto rádio; o lado mau é que tenho sempre o feed de noticias no telemóvel actualizado, de tal maneira que é a ultima coisa que faço antes de ir dormir. 
Agora que tenho tido mais tempo livre, e que aqui em casa acontecem entrevistas de trabalho e pesquisa, estas paredes ganham também contornos de confessionário. Algumas vezes são confissões com elevado teor de honestidade de mim comigo mesma. No que quero, no que procuro, no que tenho para oferecer, em quem sou.
Ando em busca de mais amanheceres. De dormir melhor (ainda). De revolucionar a minha cozinha e criar uma muralha que proteja a nossa saúde. Voltei a cuidar das minhas mãos, e a beber chá. Ainda me irrito com assustadora facilidade, mas estou em busca de ser mais calma e de falar menos.
Meia vida ou mais, está vivida. Essa consciência leva-me inevitavelmente para um lugar melhor.

Quem vem lá

 



Os dias já estão maiores. Alguns passarinhos chegaram mais cedo e já andam em guerras felizes naquelas árvores de folha perene. Já vi brotos verdinhos em ramos nus.
Não me canso de fotografar o céu azul, as árvores despidas, os tapetes de camélias desfeitas no chão. Há uma grandeza comovente no silêncio em que as estações acontecem. No dia a dia das nossas vidas atarefadas e atrofiadas, quase nem percebemos a força e a certeza com que se veste e cose a natureza. E o que somos nós, senão filhos dessa mesma mãe-natureza? Que constipamos no Inverno, suicidamo-nos na Primavera, somos mais felizes no Verão e deprimimos no Outono.

Preocupamo-nos demais. As coisas vão acontecer.

Este é o mood


Apesar da canseira politica que vai pelo mundo e pelo país. Apesar do desemprego. Apesar da senhora idosa toda urinada que vi ontem a dormir na rua, a quem perguntei se queria comer uma refeição e me respondeu de olhos fechados, num semblante profundamente triste, que não tinha fome. Apesar da maioria das esmolas que não passam de migalhas balofas. Apesar da violação grave dos direitos das crianças, que acontece banalmente todos os dias. Apesar de uma Ucrânia destruída, de uma África e uma América com fome e sem educação. Apesar de ainda haver quem envenene gatos vadios porque dão cabo dos terrenos cultivados. 
Apesar de tantos pesares, é preciso agradecer e ser feliz.

Pérolas nas redes sociais

Un proverbio griego dice:

No dejes que tus sartenes brillen más que tú. No te tomes demasiado en serio la limpieza de casa. Quita el polvo si es necesario pero tómate un tiempo para pintar un cuadro, o escribir un poema, visitar a un amigo, cocinar lo que quieras, regar las ollas. Diviértete bebiendo cerveza, nadando en el mar, escalando montañas, jugando con perros, escuchando música, leyendo libros, haciendo crecer tu círculo de amigos y disfrutando de la vida. A medida que desempolvamos la vida exterior continúa, y nos estamos haciendo mayores, creciendo, ya que todos nos iremos de aquí algún día. Nadie se acordará de cuántas cuentas pagaste, ni tu casa limpia y ni siquiera cuánto polvo tenia. Pero ellos recordarán tu amistad, tu energía estallida y la alegría de la vida, las carcajadas rodadas, las tonterías que hacías y todo lo que les enseñaste y les dejaste.

A minha cidade






Amanheceu como eu gosto, com um nevoeiro cerrado. Uma coisa densa e fria, que faz do adn desta cidade uma coisa de bicho que hiberna. O que depois deu passo a um céu quase limpo, a  deixar espreitar um Sol que sabe a milagre em qualquer Janeiro.
As japoneiras estão esplendorosas; o chão dos jardins mostra tapetes majestosos.
(...)

Acabou-se o regabofe das festas

Hoje fiz uma bela caminhada pela cidade, depois de deixar a Maria no Colégio. A reação destes 66 kg de loucuras cometidas a torto e a direito, foi pregar-me uma boa de uma urticária nestas pernas gordas a meio do caminho. Só me apetecia atirar-me para o chão a rebolar numa coçadeira agreste.

É preciso persistir.

Bom dia Vida

Hoje foi dia de deixar a cria no Colégio. Louvo aqui todos os professores, educadores, auxiliares, todos os envolvidos na máquina Educativa para que ela funcione bem oleada. Esta manhã dei comigo a pensar que foi a escola que me fez; a escola, os livros e os amigos que por lá fiz. Apesar de ter estado duas semanas seguidas em casa, hoje a Maria foi alegre para a creche e ao chegar lá só vos digo que me encheu o coração ver os amiguinhos dela correrem para ela e abraçarem-se. É mesmo preciso outro mundo - o mundo deles -, construir amizades, aprender, ter rotinas, ser só mais um entre os demais.

É das coisas que me faz mais feliz na vida, poder levar a minha filha todos os dias à escola.

Quatro dias de Sol em Janeiro




São estes dias assim iluminados, os presentes maiores. 
Ontem a bem da minha sanidade mental, tive a sorte dos avós da Maria a virem buscar para passarem a tarde com ela. Estendi roupa grossa ao sol, abri todas as janelas da casa para o ar brincar cá dentro, e saí. Fui bater às portas à procura de oportunidades de emprego, por ruelas e travessas que é onde se escondem a maior parte dos centros sociais, onde eu almejo encontrar um lugar. Aproveitei para alinhavar a possibilidade de um voluntariado; lancei a semente. Conversei com gente na rua, fui tomar um café, comprei plantas, fiz caminhada. Quando voltei a casa já a lua cheia - linda - estava feito diamante a iluminar a noite. Que tarde. Vi a beleza dos limoeiros e das laranjeiras carregadinhos de fruto, vi os gatos vadios por terrenos abandonados, nos muros a lamberem-se ao sol, numa pasmaceira de sábios.
Há tanta coisa má a acontecer no nosso mundo, que é um privilégio imenso viver dias assim. Feitos de nada, só de Paz.

Dia de Reis

Este dia traz-nos uma mensagem mágica, a chave para todos os problemas do nosso mundo:

Todas as crianças sem excepção deveriam ser adoradas como adoraram aqueles Reis Magos ao menino Jesus.

Adenda ao post anterior

"Uma mãe não é nada além de uma filha que brinca."   Elena Ferrante

Fui uma criança que brincou muito pouco, se brincou. Não me lembro de mim verdadeiramente feliz na infância, não gosto de revisitar os meus álbuns de quando era pequenina, fui sempre adulta desde que tenho memória. Talvez seja por isso que hoje encontre tanta dificuldade em ser mãe. Porque a minha filha é feliz e brinca, e nem sempre eu me sei encontrar com ela. Fico profundamente cansada e desgastada à procura de ser melhor, e perco os risos e as danças e os pulos no sofá. Nunca contei a ninguém que não fui uma criança feliz.

É por isso que os pais, sem duvida, também crescem com os filhos.

Mãe

Ser mãe não é a coisa mais romântica e bonita do mundo. Ser mãe é outra coisa, é a melhor coisa do mundo, mas não é bonita nem romântica:

Ser mãe é muitas vezes nem sequer ter tempo para tomar um banho em condições, mesmo estando desempregada. Ser mãe é correr a sério esse risco, o de ficar desempregada. Ser mãe é ficar para depois em tudo, na hora de comer e na hora de dormir, na hora de ser amada. Ser mãe é sentir-me incompetente mesmo estando a dar tudo de mim. Ser mãe para muita gente é planear bem o futuro, para mim é viver bem o presente: as duas coisas seria exaustão. Ser mãe é auto questionar-me tantas vezes, e ninguém gosta de duvidar de si mesmo. Tem dias que ser mãe é mesmo muito cansativo e insano. Ser mãe é abrir mão de metas porque viraram metinhas. E ser mãe é tantas outras coisas maravilhosas, sem duvida. É rir muito sem contar, é ter uma filha que fala brasileiro sem que eu jamais tenha tido sequer um caso com um brasileiro, é ser chamada para brincar na hora em que puxo as calças para sentar na sanita. Ser mãe, voltando outra vez ao lado cinzento, é viver com encosto.

Mães sozinhas - ou pais -, mães com filhos com necessidades especiais, mães de muitos filhos. Acho incrível a vossa dedicação e o vosso amor a tempo inteiro, sem queixas. Para mim vocês são seres de outra dimensão, e eu sei que é apenas o Amor imenso a operar.

Mas deixem-me dizer-vos: eu mãe, vou de rastos.

Há coisas na maternidade que me chocam, como o facto de passarmos a sentir que só temos aquele grande objectivo. Será sempre o maior de todos, será sempre a prioridade. Mas não creio que seja grande mensagem a deixar à minha filha: aqui jaz a tua mãe que achou que valia a pena deixar de ser feliz. É pequeno e redutor demais.

Sem o pai dela presente, eu já teria pifado. É o melhor pai do mundo, mesmo. Hoje, como tantas vezes, até trouxe o jantar como forma de me poupar. Ele brinca com ela às princesas e tem uma paciência infinita. Tem um sangue frio impressionante que ajuda a resolver quando ela se magoa. Mas ele nunca - nunca mesmo - vai adormecer a filha. Ele não lhe dá banho. Ele não atura a cria a tempo inteiro com cem por cento do pistão a queimar, isso não. E ela tão pequenina até já aprendeu: para fazer cocó, limpar o nariz, ir dormir, só a mãe. Sabem aquela hora para ler um pouco, ficar relaxada no sofá a ver uma série ou uma novela? Daqui a doze dias faz três anos que nunca mais tive. Acho que ser pai, para uma grande maioria, no século em que vivemos e apesar de todas as mudanças comportamentais, ainda é bem mais fácil do que ser mãe. E falar desse desgaste, dessa exaustão, causa ruido nas relações. 

Ser mãe é uma interminável oração em silêncio.

E pensar que a minha experiência de maternidade é ainda assim mil vezes melhor que a da minha mãe, que criou quatro filhos sozinha e nem deve ter tido tempo para estas mariquices modernas que agora me achacam.

Declarações de Amor


Com os anos deixamos de as fazer. 
Para quem viu este filme e percebe a letra desta musica:
A única pessoa no mundo com quem eu seria capaz de viver uma história assim, seria com o pai da minha filha.
Suponho que é isso o Amor. Agradeço todos os minutos de vida partilhada, a tempo, antes do fim.

Embora eu seja profundamente crente em Deus, amo a forma crua e sincera - e visivelmente inquietante - com que Saramago expõe a sua descrença. Quando estive em casa dele, por toda a parte - paredes, livros, quadros, objectos - havia esta questão muito presente. De tal forma que cheguei à conclusão que Deus para ele era mais importante do que para a maioria.
Cá em casa tenho um descrente crente em part-time. Ás vezes discutimos por questões destas. Mas o importante é ele ser lucido e bom, ser limpo de ideias e praticar o Bem. Como disse Caetano Veloso a uma Bethânia que se auto-questionava: Deus sou eu.
Nisso eu acredito: Deus está e é cada um de nós. Respeito a forma divergente de pensar ou sentir, compreendo exposições claras e que fazem muito sentido, especialmente em Homens de ação construtiva. Quem conhece bem a obra de Saramago, até ao ultimo caderno escrito, sabe que ele era um ser humano com profundas preocupações sociais. Era um ser inquieto, e do Bem. E isso basta.

Recados importantes

Encontrei isto no LinkedIn:

Se não escutas a tua ira, ela falar-te-á com uma gastrite.

Se não escutas os teus medos, eles falar-te-ão com prisão de ventre.

Se não escutas o teu desejo de dizer "não", ele falar-te-á com problemas estomacais.

Se não escutas a tua paixão, ela falar-te-á com uma infeção.

Se não escutas a tua criatividade e o teu talento, eles falar-te-ão com aumento de peso.

Se não escutas a tua afectividade, ela falar-te-á com uma dermatite.

Se não escutas a tua espiritualidade, ela falar-te-á com o corpo, que adoece.

Cada emoção deixa uma marca no corpo.

Confesso que fiquei comovida com a parte que me toca.

Tudo a rolar

A Maria dormiu muito melhor esta noite. Cravejada de lesões da varicela mas muito valente a minha menina.

Está um sol radiante lá fora. Um sol que muda tudo. Daquelas coisas tão poderosas que mexem cá dentro de nós. Uma luminosidade que me faz abrir as janelas da casa de par em par, que me  causa um alivio tremendo porque tenho kilos e kilos de roupa para secar e arejar. Um boost para as minhas plantas, as orquídeas já têm brotos. Assim de repente fico cheia de saudades das manhãs na minha ilha. Tenho recebido fotografias tiradas desde casa da minha mãe, as fotos estão péssimas mas aquilo é que é:



E de repente apetece ir de férias, amanhecer ali todos os dias, dourar a pele, tomar banhos de mar, ficar no colo da minha mãe. É a ervilha debaixo do meu colchão: serei sempre uma Princesa.




Tudo a rolar, sentimentos alinhados, aspirações alegres e positivas. Atrevo-me a dizer que já venci os dias de ausência do antidepressivo. Ainda bem que fui valente, ainda bem que continuo a saber o que é melhor para mim.

E foi assim


Entramos no ano com a baby com uma boa de uma varicela. Muita muita chuva a obrigar-nos a uma pasmaceira total.