Fez-me chorar. É assim mesmo que me sinto a maior parte dos dias.

O silêncio das plantas

 


Admiro-lhes no carácter, a permanência. A forma quase humilde como enfrentam as estações, como esperam em silêncio. E como depois dão fruto e flor de forma tão generosa, mesmo esquecidas num canto; às vezes na beira de um caminho só com a rega das chuvas.
(...)

Retrato de uma família feliz

 


Aos olhos da Maria.

Tempo de grandes e novas lições

Aos 44 ainda me surpreendo e entristeço com a maldade alheia:

"Espíritos grandiosos encontrarão para sempre oposição violenta de mentes medíocres."

Já não lembro de quem é a autoria, lembro-me só da pessoa que mo escreveu há muitos anos atrás.

Às voltas com a vida

Deixei que as coisas fluíssem sem minha intervenção. A conversa foi frouxa, acho que ele não percebeu porque fiquei tão triste e acho que isso me incomoda. Mas eu percebi que não fez por mal e nem sequer tem noção do que fez. E não, não resolvemos o arrufo na cama, não é assim que funciona connosco. Vamos avançar juntos porque há um imenso amor que nos une, mas vou estar atenta. Aos dias em comum, às pequenas horas partilhadas, aos pequenos nadas e atenções.

A vida é breve demais para fingirmos que somos felizes.

Sobre a Maria

Ás vezes temos que decidir com o coração, e às vezes temos que decidir por nós.

Resolvi que hoje estando de folga, a Maria ia ficar por casa comigo. De manhã dormiu até perto das 10h, e a sestinha da tarde durou até agora, num total de quase três horas. Dá para perceber que ela estava mesmo a precisar deste treat. E eu nem sabia que íamos ter este dia assim frio e cinzento e chuvoso, mesmo bom para ficar de pijama todo o dia. Custou-me deixar de visitar uma amiga no hospital, para praticamente dedicar-me só à minha filha. Mas tendo em conta que para a semana temos uma prova de fogo em termos dos meus horários de trabalho, resolvi abdicar de tudo em prol de um bocadinho só para nós as duas.

Tão bom. Foi a melhor decisão que poderia ter tomado.

Pérolas do curso de Gestão de Projectos

 

A musica que a minha filha gosta faz tempo


A primeira musica de adultos, dela. E que só agora fez sentido para mim.
(...)

Planos

Este ano vou fazer umas férias sozinha, lá mais pelo final do ano, se o novo emprego correr bem e a vida permitir. Vou correr para a minha ilha, galgar sozinha nasceres do dia, todas aquelas orilhas do mar, nas minhas praias preferidas. Fotografar até à exaustão. Muito colo de mãe, muitas goiabas. Silêncio e mar a rodos.

(...)

Ficar longe da Maria pela primeira vez. Só uns dias, só para mim.

A minha oração

A vida é assim

Hoje acordei muito consciente. Do que quero, de quem sou, de tudo aquilo que realmente me prende à vida. Não faz grande sentido, a esta idade e a esta altura da vida, chorar sobre leite derramado. Há tanto pelo que viver: para a minha filha, para o meu trabalho, para mim mesma. Não aturo mais egos grandes nem falta de sensibilidade em questões básicas, não aturo mais a mínima falta de respeito ou consideração. Desenvolvi uma certa imunidade e naturalmente me fecho na presença desse tipo de comportamento. Acho que isso é crescer, e crescer é assim mesmo, dói mas é bom.

É tudo tão breve. Para quê perdermos tempo ou dedicarmo-nos tanto ao que definitivamente não encaixa no nosso mundo. Não quero chorar sozinha acompanhada, não preciso disso. Não quero precisar e ter que pedir. Não quero ter que explicar porquê que não aceito determinado comportamento, quero antes a sensibilidade de quem percebe porquê. Não quero fingir que está tudo bem.

Vou manter o respeito que me compete, em nome do amor à nossa filha; seria ridículo ignorar que teremos para sempre este projecto em comum. Não quero que nada de mal aconteça a um só fio de cabelo daquele que é o melhor amigo dela. No que eu puder colaborar, em nome do que foi a nossa história, farei de boa vontade. Mas eu avisei um dia, que havia uma linha vermelha a não passar uma segunda vez. Chegados aqui, que dizer. Que está tudo bem. Estou serena. Que cada um seja feliz nas suas escolhas e posturas escolhidas para a vida. 

Estou tão magoada que é mesmo sozinha que quero estar agora. Daqui para a frente, só pode correr melhor.

Desânimo

Se temos um prazo de validade, o meu deve estar bem perto do fim. Pelo menos é o que sinto, um cansaço e uma tristeza que me vem de tudo. De uma vida a dois que me começa a desencantar, de uma filha que está cada vez mais exigente e eu cada vez mais sinto que não estou à altura e que deve haver por aí muita loira gira capaz de aceitar o presente de braços abertos e que de certeza absoluta fica melhor no retrato, de uma família que está longe e que eu já não sinto minha, de tentativas frustradas de continuar num barco profissional que eu já perdi faz tempo, das preocupações com dinheiro mês após mês - odeio dinheiro ao contrário de quase todos os que me rodeiam. Cansada de tudo e de todos. Hoje perdi a ultima conferência da Ordem em que me inscrevi. Depois de me levantar às 5h da manhã para ir trabalhar, de apanhar dois autocarros para ir buscar a Maria, portanto três para finalmente chegar a casa já às 18h, percebi que acabou. Pelo meio consegui ganhar dois palavrões num telefonema, e um vazio enorme por me sentir a cair num poço sozinha. 

Não há nada mais triste do que nos sentirmos sozinhos junto dos únicos que achamos que temos. Talvez a próxima decisão seja mesmo a de ir embora. Outra vez. Para sempre. E se já sobrevivi uma vez, sobrevivo de certeza novamente.

Preciso de mar

De andar por lá sozinha. De molhar os pés. De energizar a alma. Preciso da canção e da água viva, preciso de me oxigenar. Porque o peso das coisas tristes às vezes causa em mim uma carência de sal grosso em água da mão de Deus. É sempre assim nesta altura do ano, fico introspectiva e pouca coisa me desamarra como o mar. Umas férias da Páscoa na minha ilha do coração, isso é que era!

Nos últimos dias tenho feito aquilo que mais gosto: observar o comportamento humano. Deveras interessante e ao mesmo tempo impactante pelas diferenças atrozes que encontramos em dois seres humanos a viverem num tempo comum. Tenho assistido a muita deselegância no trato entre pessoas, muito maldizer, muita má intenção. Acabo mais murcha, meio decepcionada; daí precisar do mar para lamber as dores.

É fundamental tratar bem o outro, essa é a mensagem. Seja ele quem for, venha ele de onde vier, vá ele para onde for. Tratar bem o outro. O resto é a vida que acerta, que afina, que doutrina. 

Pessoas que se acham mais importantes, têm essa tendência, a de destratar. Desconhecem que todos somos milimetricamente igualmente importantes.

Foi por causa desse desconhecimento que tantos se juntaram um dia para abandonar Jesus. E hoje continuamos a fazê-lo, sempre que ignoramos o sofrimento alheio, sempre que causamos sofrimento porque achamos que por alguma razão temos esse direito.

(...)

De resto acho que inventamos as amêndoas e o pão de ló de Ovar porque precisamos mesmo de adoçar tanto azedume. Eu gosto, adoro. Mais uns quilos no lombo, é o que é.

Boa Páscoa.

Para a Maria


Como uma Oração Sagrada: 
meu Amor maior do que todos os amores maiores juntos, que eu possa ver-te sempre bem e feliz. 
De todas as impossibilidades da vida, essa é a que mais me assusta. 
Porque essas coisas terríveis não acontecem só aos maus.
(...)

Outra vez a acontecer

HGSA / a copa bela da Vida e a nossa infinita pequenez

Pouco mais de um ano depois, volto ao mesmo hospital para voltar a ver alguém amigo numa cama, sem esperança. Doloroso. Terrível.
O Fim é profundamente solitário, e a maioria de nós vive sem perceber que todos temos uma hora marcada.
Os mistérios da Vida são insondáveis. Que Deus nos proteja e que a Nossa Senhora alivie o sofrimento aos filhos abrigados sob o Seu manto.
(...)

Gente assim

Há muito tempo que admiro a senhora Fátima Campos Ferreira. Tive curiosidade especial em ver o Alta Definição na entrevista com ela. E logo na abertura disse uma coisa profundamente simples e bela:

- Fátima, o que dizem os teus olhos?

-Dizem que sou a filha muito amada dos meus pais.

Mulher órfã de pais, viúva, que de uma vida plena e rica de vivências, se define pelo Amor que recebeu na infância. Reconhecer isto é permanecer simples mas ao mesmo tempo grande em sabedoria. Comoveu-me inesperadamente; pensei na minha filha, e no que realmente importa no meio de tudo aquilo que lhe dou ou possa vir a dar.

(...)

Tem sido assim

"Assim que a falta de tempo se torna evidente, concentramo-nos."

Sendhil Mullainathan and Eldar Shafir, in A tirania da escassez

Gosto tanto


Para o meu Luís, o meu Amor de todas as vidas.

Tanta coisa nova aos três

A minha bebé já separa as cuequinhas e as meias dela quando recolho a roupa seca para dobrar.

(...)

Lembram-se do Sinatra?

Óbito declarado.

Mesmo coisa de mãe de primeira viagem: oferecer um peixe porque não podemos ter um cão ou um gato. Tivemos que contar uma história à miúda, que o Sinatra não gostava nada de estar sozinho e levamo-lo ao mar para viver com mais peixinhos. Agora olha-me para as jarras de água com flores e pergunta por ele.

Enfim, ideia de girino.