Sobre a nossa insignificância e finitude


Sobre a nossa grandeza também.
Num tempo de muita tristeza, de um cheiro a guerra e a pavor, num contraste absurdo tanta gente continua a viver centrada no próprio umbigo. É o mundo do dinheiro e do poder que finge que não se acagaça. É a era dos colecionadores do nada. É a proliferação desmesurada dos não amantes da vida profundamente enamorados de si mesmos. Num mundo cada vez mais egocêntrico e megalómano, ser gentil, ser educado, ser tolerante, ser simpático, ser igual, são as primeiras coisas que quero ensinar á minha filha. Quanto menos há, mais urgente é cultivar. Devo cuidar para que as minhas palavras sejam também os meus gestos, essa é a única forma de ensinar. Nas actuais ameaças que o mundo sofre, talvez o nosso amor e a forma como tratamos os outros, seja a única coisa que realmente nos distingue.
(...)

E de maneiras que é assim


Ando viciada em ouvir esta musica em modo repeat. Como se ela não tivesse uns trezentos e cinquenta e sete anos e dez dias!

O nosso Guterres


Numa lassidez que todos sabemos que não conseguirá muito, foi lá e fez a parte dele. Sabem a história daquela pombinha branca que voa aflita com uma gota de água no bico para apagar o fogo na floresta? Aquela que os outros criticam pelo ridículo de achar que com uma gota de água pode apagar um fogo imenso? Essa pomba branca faz simplesmente a parte dela. 
E fez a coisa certa e foi grande e inteligente em começar esta visita pela Rússia. 
Para mim seria este senhor o justo próximo Nobel da Paz.

As árvores, os jardins



É uma sorte imensa viver numa cidade assim. Tão cheia de verde, de árvores gigantes que quando se começam a vestir de folhagem generosa nesta altura do ano quase que nos ajudam a respirar melhor.
(...)

A mudança começa sempre em nós

Nós mulheres, mães, que trabalhamos fora e dentro e que nos entretantos deixamos de saber o que é ter tempo para nós. Não falo de tempo para um tratamento estético, uma massagem ayurveda que eu adoro, uma ida ao cabeleireiro, uma tarde nas compras só para mim, um almoço com amigas. Falo de tempo para dormir, para tomar um banho mais demorado, para ficar tombada no sofá a ler. Com alguma frequência, conhecidas mães de crianças pequenas referem-me que não têm tempo nem para uma adequada higiene própria. E quando no trabalho a correria e a pressão são na mesma linha, quando na nossa vida de casal já não encontramos do outro lado pachorra para ouvirem as nossas constantes queixas lamurientas, quando já não encontramos compreensão e colo porque nos estamos a transformar numas gordas chatas de galocha, então STOP.

Foi assim, nesta linha vermelha, que aos dois anos da Maria decidi que as minhas folgas passam a ser para mim. Ela vai para o colégio e se tiver que ir buscá-la no final do dia, assim será. Algum desse tempo - uma parte ainda assim considerável - continua a ser para tratar da casa e de assuntos dela e do pai dela. Mas chega. A sensação de que tudo isto está a passar demasiado rápido, obriga-me a esta reflexão, a esta necessidade de viver melhor, a esta rejeição a resignar-me. Em relação a tudo o resto é este o modo que quero trabalhar daqui por diante. Slow em tudo. Começar a ter tempo para respirar outra vez, para parar e tirar uma fotografia que gosto tanto, para ouvir musica, para fazer uma caminhada no parque, para ir mais vezes até ao mar que eu amo e que me cura gratuitamente. 

Tempo para mim, tempo de muitos nãos aos que em rodeiam.

Quero tanto ir ver

Tanto.

Agenda para os dias de folga

Saudades de voar













A vida era bem mais simples e leve na ilha. Aqui na cidade grande, eu que vim em busca do verde e da cultura, afinal nunca tenho tempo nem dinheiro para isso. Vivo claustrofobicamente resignada.

 

Imagem da web

Muitas saudades de me sentir assim protegida. De ser o Sol, o centro, da vida de alguém. Não quer dizer que não o seja, quer só dizer que não sinto que o seja.

Ontem tentei ensinar a minha filha a apreciar a beleza de um limoeiro carregado de limões, estão esplendorosos nesta altura do ano. Sempre gostei de limoeiros, mas talvez seja uma coisa só minha, que não se ensina ou se transmite. 
Ela só tem dois anos, mas em muitos comportamentos divergentes das minhas expectativas, lembra-me constantemente que ela é um desenho de Deus, não um desenho meu.
(...)                            

É isso

Tenho tentado manter-me à tona. Tenho procurado não perder a confiança em mim mesma, acima de tudo. Nem sempre é fácil lidar com aquele instante em que percebemos claramente que os nossos problemas são afinal só nossos. 

Sou eu quem tem que resolver. E vou resolver.

Da Sofia, do às nove no meu blog

 #1. somos capazes de fazer muitas coisas, mas não somos capazes de fazer todas as coisas. carregar o mundo às costas e querer agradar a todos é como rezar sem fé: não vale o esforço.

Sobre as adversidades da vida


Sobre constantes, sucessivos, demasiados dias enublados. 
Enquanto isso, sobrevivo à custa daqueles dias em que sou capaz: assobio para o lado, treino latte art e oiço Café de Flore.

Paradoxos

Jamais a inteligência deveria servir a maldade. Homens e mulheres ruins são comummente, de forma chocante, invulgarmente inteligentes.

O cenário parece-me assustadoramente demasiado predictor: caminhamos para a guerra mundial. Não sei se dentro de dias, se de meses, se de um ano. Não acho que esteja a ser pessimista, acho só que já não temos mais remédio, vai acontecer. Hoje de manhã a caminho do trabalho dei comigo a rezar o terço. Talvez seja hora de começar a rezar todos os dias. De pedir à Nossa Senhora forças para enfrentar o que nos estiver destinado.

Entretanto alguns reis e rainhas pançudos deste mundo, hão-de morrer só de susto. 

Kiev

Oxalá estejas vivo. E que nada te tenha feito matar, á força de sobreviver. Pela natureza que te conheci, se tiver acontecido, morrerás na mesma, de tristeza.

(...)

Sobre a pior doença do século

Ingratidão.

Os Homens vão deixando de ser bons uns com os outros, sempre pelas mesmas razões: dinheiro. E já não importa o bem que se fez, ou quem fomos juntos um dia.

Do que eu tenho saudades

Da minha mãe. Porque nenhum colo é igual ao dela.

Das minhas mãos bonitas. Parece que foi numa outra vida.

Da minha ilha. Das montanhas. Do vento lá. Do mar.

De dias grandes de praia. Da pele bronzeada.

De fazer asneiras com o meu amor.

(...)

Em breve

 

Vamos ter rosas nesta casa.

A coisa mais bonita deste Abril

 Os gatos bebés a correr lá em baixo no campo do vizinho, numa vadiez e alegria que comove.


Nenhum povo é só pobre, ou só violento, ou só moderno e civilizado. Todos os povos são donos de uma riqueza que os define e que os distingue. E nesse sentido, nenhum é mais importante do que o outro.

A minha filha

É a força de uma falha tectónica grave no seio deste lar. Ela é mais do que o esforço levado ao limite num ginásio de bairro. Tem energia e alegria, é exigente, a rainha das birras, a que nunca cede a chantagens, a que muitas vezes nos cansa até cedermos. Quando o pai chega a casa no fim do dia, faz com que ele corra atrás dela, se quer ganhar-lhe um beijo. Faz-nos sentir o peso da idade, ao mesmo tempo que nos faz perceber que ela é o melhor fruto da nossa maturidade. Quando abraça, cura. É sensível e inteligente. Já brinca com as bonecas às profissões; um dia vou contar-lhes que a primeira imitação que fez, foi de professora.

Esta semana quando saíamos do colégio, sobre o senhor porteiro de quem ela gosta tanto, disse-me numa entoação de quem sabia exactamente o que estava a dizer:

Mamã sabes, o senhor Nuno é um tesouro...

Tesouro. Todos os dias aparece com palavras novas, mas aquela encheu-me o coração. 

A mesma que é doce também é rebelde: Rasga os livros. Parte loiça. Desaparece com os pins do frigorifico. Risca as paredes. Adora brincar com bolas. Tem pavor a moscas.

Todos os dias me faz perceber que eu não tive uma princesa, mas sim uma Rainha.

(...)

E de repente chuva a sério


Já depois das árvores se terem coberto de rebentos de folhagem nova, chegam dias de chuva e frio. Sabíamos que a chuva viria, alguns de nós rezamos pela chegada destes dias. Agora que chegaram, juntam-se a uma tristeza gelada, que cresce cá dentro a cada dia que passa naquela Ucrânia a viver horrores que nem fazemos ideia, nós os que nunca vivemos uma guerra fora dos livros. E se lhe acrescentamos um rosto, se conhecemos alguém que está lá no meio das bombas e do horror, tudo ganha uma dimensão bem diferente. 
Assim, a esta adversidade do tempo, junta-se  a falta do calor da Paz que já não sentimos.

Pensar que um dia a minha mãe viveu uma guerra assim. Pensar que a minha filha não está livre de o viver.

(...)

A nossa AR

Incomoda-me cada vez mais a visceralidade expressa no comportamento humano. A Paz nos Homens é uma coisa que vem de dentro. E dito isto, acho que temos imensa sorte por ter um António Costa na frente do barco.

Nunca me esqueço da frase que a Dores me escreveu no dia em que decidi fazer uma pausa na minha carreira enquanto Psicóloga - sem saber que era afinal o fim:

Mentes grandiosas sempre encontrarão oposição violenta de mentes medíocres.

(...)