Nó na garganta


Eu sei, eu sei. Que não devo dizer palavrões à frente da Maria. Eu sei que voltei a estar nervosa e triste. E eu sei sobretudo, que é sozinha que vou ter que resolver isto.

Entretanto aprendo o que sempre soube: que nunca ninguém no mundo terá braços abertos para mim como tem a minha mãe. Na maior parte dos contextos, não importa se estou bem, importa que seja funcional.

Bem triste.

 




Aos poucos volto ao prazer do flash, ás imagens mais dentro do meu olhar do que fora dele. Aos poucos folheio de novo livros, procuro a luz entre as sombras, descubro uma nova canção para sempre. Sou capaz de ficar detida a olhar os gatos adolescentes a brincar lá em baixo no campo do vizinho e ter a certeza absoluta de que aquilo é para guardar cá dentro, porque ali o nosso mundo ainda tem vislumbre de paz e alegria. Sou capaz de ficar a ver a chuva fina cair e sentir o cheiro a ameno que desprende a terra depois do calor. 
O processo de cura, seja do que for, é sempre um processo de auto-amor.
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Viver cansada



Sufoca. Esta nossa falta de tempo para tudo. Este corre-corre para chegar a tempo a todos os lugares, a todas as nossas pessoas. De repente tudo o que eu queria era só ficar assim quieta, na paz de um jardim, a beber um vinho em silêncio, absorvida pela aspersão da rega num fim de tarde quente.
Parar é tão importante como prosseguir. É nos patamares que ganhamos fôlego.
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Tenho sido feliz a ouvir french jazz, a fazer a muda de plantas, a bebicar amarguinha, a cozinhar para os meus dois amores. Tenho sido indescritivelmente feliz nos abraços da minha filha, na cumplicidade do olhar dela. Temos tido mais momentos em família - infelizmente e que ironia, graças ao Covid.

Quero mais. Falta-nos o mar. A serra. A paz do silêncio. Os três a partilhar.

E parece, aos poucos, que a guerra afinal não sai de lá bem longe, e vamos poder continuar a assistir em modo segurança desde as nossas confortáveis casas. Graças a Deus que tem sido assim, embora com profunda tristeza pelos homens e mulheres que do lado de lá continuam a viver aberrações e atrocidades perpetuadas por outros homens iguais a eles.

Infelizmente - acho que já o disse aqui - acredito que é só uma questão de tempo. São alguns os homens poderosos que dão indícios de muito interesse nessa tal guerra nuclear. Portanto ela já está na agenda, só não tem data.

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Ainda a Ucrânia

Não vi o festival da canção mas espero - sinceramente - que a Ucrânia tenha sido justa vencedora. Um prémio para atenuar dores seria incrivelmente injusto com todos os outros participantes: não era o festival da solidariedade, era o festival da canção.

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De maneiras que é isto

Covid ao pequeno almoço, ao almoço e ao jantar. Dizia eu que nos foi leve, o tanas! Depois da alta caí de quatro, entupida de expetoração, com uma falta de ar dos diabos e uma tosse de tuberculosa. Ainda cá andamos a braços com isto, a ver quando passa. Sempre de máscara e a pensar na varíola dos macacos e na hepatite dos miúdos: isto está mesmo a virar um circo de acrobacias nunca pensadas.

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Das coisas muito boas que descobri nos últimos tempos

Foi-me dito por uma indiana que o segredo do melhor garam masala está guardado na junção de 33 especiarias douradas ao sol:

"O garam masala é uma das combinações de especiarias em pó mais utilizadas e conhecidas na culinária indiana. Os masalas em pó são preparados agregando as especiarias e torrando-as, antes de colocar a mistura em um pilão para triturar. Normalmente, o garam masala powder é composto de pimenta preta, canela, cravo, cardamomo preto, sementes de coentro e cominho. Já outras versões aceitam cardamomo verde, folha de louro, funcho, macis, pimenta da Jamaica e até pétalas de rosa!" 
Por André Mafra

Em modo repeat

Dos filmes mais lindos


Coisas que ainda gostaria de partilhar contigo. 
Mas que já nem partilho...

Porque nem tudo são ervas daninhas

Luz e Beleza

Plantinha apanhada na rua, numa beira de estrada. Veio morar cá em casa e fazer-nos felizes.

Na Ucrânia

É tão horrível e triste o que continua a acontecer àquela gente, por mais de setenta dias consecutivos. Nós Humanidade conseguimos ser pior do que erva daninha.  

Quase um acto de confissão


Sempre gostei desta musica de forma especial: soa a uma incrível sinceridade sobre o que há do lado mais dentro. Leva-me a ter vontade de ficar mais limpa também, a reflectir sobre o meu lado sombra, a cuidar do meu lado Luz.
Perdoar e não julgar: duas coisas em que sou péssima. Aos 43 - não sei se cedo ou tarde - sinto necessidade de parar e refletir sobre isto. Exercício terrivelmente difícil, pelo menos para mim.
Não há hipótese de o mundo ser um lugar melhor, se esse trabalho não começar cá dentro de cada um de nós.

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De maneiras que é isto

A COVID chegou cá a casa, mãe e filha em modo turbulência e isolamento por uns dias. Devo dizer que Deus à sua maneira é sempre generoso connosco, no sentido de que quando ficou o pai, nós estávamos negativas e agora que estamos nós, temos o pai negativo. Facilita muito vidas e satisfação de necessidades extra cativeiro.

De qualquer forma aborrece-me imenso esta sensação de que eu nem sequer tirei a máscara com o fim da restrição, mantive aliás todos os cuidados; eu que não tinha tido COVID antes, fiquei doente agora. São milhares de pessoas sem máscara nas ruas, são queimas das fitas com os miúdos eufóricos a celebrar por dois anos, são festivais de Verão todos aí à porta; alguém acha que esta libertação da manada poderia dar outro resultado? Ao mesmo tempo é imperativo retomarmos a normalidade nas nossas vidas e compreendo todos aqueles que têm necessidade de recuperar todo esse ar fresco perdido nos últimos tempos. O próprio governo maquia a situação para pelo menos passem para cá a meia dúzia de patacas do turismo e o emprego se segure uns meses. Se o vírus for ficando fraquinho, com uma gripe normal podemos bem nós. O pior é se este é precisamente o cenário ideal para novas mutações, e estamos só a ignorar e a ser muito irresponsáveis.

Morreu demasiada gente. Ficamos todos fechados por demasiado tempo. Muita incerteza e medo. 

A ver vamos. Eu vou continuar a ter cuidado.