Aqueles dias


uma enfermeira na família

visitas familiares; os meninos à janela

prateleiras do supermercado vazias e o mundo inteiro atrás de papel higiénico

Foi uma loucura o que vivemos, nunca mais fomos os mesmos por mais que sejamos animais às vezes de memória curta. O medo, a incerteza, o desvario, a adaptação a regras nunca pensadas: ao rever estas fotografias sinto-me ainda estranha. Parece que já passou, a COVID-19 instalou-se e nós aprendemos que com tudo se vive. Mas o certo é que vamos entrar em 2023 e algumas consequências seguem connosco. Estou farta da história das vacinas, por exemplo. Há oito dias que as tonturas não me largam; esta despersonalização estranha começou no dia em que fui tomar a terceira dose. E os médicos ficaram pobres de repente, parece que nada mais sabem dizer a não ser deve tomar.
No meio daqueles dias, há uma imagem da qual não tenho retrato, mas que me marcou profundamente. Foi ver desde a janela da varanda, o senhor padre Diz varrer todo o átrio da igreja. Sozinho, de portão fechado, a recolher o lixo do chão. Em silêncio, sem espectadores mas a fazer o melhor de si, numa espera paciente pelo fim daqueles dias.
A minha mãe fez-me uma pega de cozinha linda, durante o tempo de clausura.
(...)

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