Aconteceu num tempo não muito longe, não muito perto. Eu que já vou nos 44, era ainda uma miúda verde. Lembro-me da Gisberta muito antes daquele fatídico dia. Lembro-me da figura escandalosa que tinha quando cruzava com ela na rua, lembro-me de uma diferença que chocava a olho nu, de nós estudantes cruzarmos com ela e vermos apenas uma realidade que associávamos a prostituição e que portanto não nos dizia respeito a não ser que fosse para nos rirmos entre nós. Lembro-me que era alta, de cabeleira oponente, e das roupas justas e coloridas. Cresci muito tarde, muito depois. Lamentavelmente a Gisberta foi também sem-abrigo, uma realidade com a qual trabalhei cerca de oito anos e para a qual desenvolvi uma sensibilidade especial. Só me lembro dela como pessoa, infelizmente, depois daquele acontecimento hediondo e inacreditável. Porque fiquei tão chocada que percebi que por mais que a Gisberta fosse diferente e sozinha, ninguém tinha o direito de lhe fazer mal.
A Gisberta parece ter vindo ao mundo para marcar a diferença entre um antes e um depois. Infelizmente todos os dias a descriminação, o mau-trato, a violência extrema, continuam a acontecer. Mas alguma coisa vai mudando. Mais alem do que tolerar ou aceitar, o mundo vai percebendo que a diferença faz parte, é bela e merece respeito. Foram precisos muitos gritos de Amor e de inteligência emocional para hoje termos chegado a um brilhante spot publicitário como este.
A Gisberta ia gostar tanto de ver.
Sem comentários:
Enviar um comentário