O ano em que fiquei desempregada, em que travei uma dolorosa batalha profissional, em que voltei a comungar depois de mais de uma década sem o fazer. O ano em que gastei manhãs inteiras a dormir, em que tomei antidepressivos pela primeira vez, em que deixei de os tomar. O ano das pessoas terem ficado ainda mais diferentes e indiferentes e isso ser chique e normal, o ano da tolerância e o ano da violência. Um ano inteiro sem o Nelo. O ano em que errei muito na minha alimentação e fiquei gorda. O ano em que voltei a ler e a fotografar. Um ano forte no desenvolvimento da minha espiritualidade, o ano de muitos dias de Sol. O ano da inflação, o ano da fome. O ano em que a rainha de Inglaterra faleceu. O ano em que a Ucrânia se transformou numa prolongada guerra em directo. O ano do começo do desapego, de sentir que cada vez menos preciso da maioria das coisas. Um ano em que quase todos equacionamos uma guerra mundial. O ano em que pela primeira vez floriram cá em casa mais camélias do que orquídeas. Um ano de faz de conta, de contar a Deus e a mais ninguém. O ano em que deixei de ser escrava da casa, forçada pela minha filha, uma indiazinha sábia com somente dois anos. Um ano de fortes mudanças, um ano primeiro incómodo para depois ser feliz.
Tenho crescido em 2022. À data de hoje mantenho-me com esperança. Estou grata.
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