Ultimamente tenho reflectido sobre o facto de nunca nada ter caído do céu para mim. Tenho sabido ser uma mulher mais ou menos forte quando é preciso, tenho poder de encaixe e espírito de sacrifício, não me ando a lamber por causa das minhas competências que de resto nunca foram trampolim ou pedra no caminho para qualquer coisa que eu quisesse tentar fazer. Não me arrependi das minhas escolhas, também nunca tive ninguém a dar-me os parabéns por nada. Na fase da minha vida em que mais precisei, fiquei sozinha. Foi quando regressei a Portugal e precisei de procurar um emprego. Nessa altura percebi que tantos contactos valiam zero, descobri que ninguém vive de boas conversas, aprendi que se tiver que desbravar terreno debaixo de sol duro ou limpar latrinas, vou fazê-lo sem pestanejar, porque não vai haver ninguém além de mim mesma, para me ajudar a encontrar outra opção. A família, o meu núcleo duro mãe e irmãos, deu-me sempre colo; mas o resto do mundo deu-me apenas palmadinhas nos ombros e alguns nem isso. Mesmo assim, as pessoas continuam a ter poder sobre mim. Mesmo sem calçarem os meus sapatos em algum tramo do caminho, fazem observações sobre a minha garra que pelos vistos não é nenhuma, sobre o meu curso que pelos vistos há carradas de trabalho para os Psicólogos - eu só não estou a trabalhar na minha área porque não quero - sobre os meus medos que desde que tive que me desenrascar sozinha não me apetece partilhá-los com ninguém.
Que pena, aquela rapariga podia fazer tantas coisas interessantes.
De certeza que estas mesmas vozes vão ser as primeiras se um dia por acaso houver alguma nova oportunidade, em me dizer:
Vês, eu disse-te para ires à luta, só queria o melhor para ti.
É tão fácil sabermos o que faríamos se fossemos os outros. É tão fácil acreditarmos que seriamos bem mais fortes e espectaculares.
Com o passar dos anos, deixei de acreditar em algumas coisas. Nunca deixei de acreditar em mim, se é essa a duvida. Mas por sobrevivência ou necessidade, aprendi a perceber rapidamente onde me devo posicionar. E ainda bem que sou assim. Porque a grande verdade, é que continuo a não ter ninguém para resolver os meus problemas se eles acontecerem. Acrescento-lhe que agora tenho a Maria, o meu farol. Por ela, tudo o que realmente preciso é que nunca me faltem a saúde e a força para trabalhar. E que ninguém me distraia de mim mesma. Eu não preciso de ser uma rapariga inteligente e brilhante aos olhos dos outros, eu preciso da paz e do pão. Faz muito tempo que defini as minhas prioridades.
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