Must have

Vestidos largos, porque gosto de vestidos e porque estou gordissima! Ainda bem que são a peça trendy da estação.
Ainda não realizei o meu sonho de ter um guarda roupa inteiro só em tons branco, beige e cinza claro; no entanto o verão é sempre uma oportunidade para apostar nestas cores que eu realmente gosto.
Umas Melissa girissimas num azul mistura chiclete-mar-petróleo; as havaianas compensadas, para gente mini como eu, em dourado; umas mules lindas da Massimo Dutti; uma belt bag gira da Aldo (isto de ser mãe afina a minha visão prática dos acessórios); um sol dourado (amuleto) para trazer ao pescoço; voltar ao meu perfume de eleição, Le parisienne de YSL; dar um saltinho à Oysho e renovar a minha roupa interior.
Para completar, uma bela massagem tão completa que envolta reiki e ayurveda, de preferência depois de um banho de mar; a seguir passar numa florista e trazer para casa um enorme ramo de margaridas brancas.
Para quem pensa que não ligo nadinha a estas coisas, pois pois, cá está a miúda contida.

Gente pior do que o vírus

No meu lento regresso à vida, vi máscaras cirúrgicas depositadas como lixo no chão. No parque da cidade, e aqui mesmo na rua onde moramos.
(...)
Impressiona-me bastante que numa praia cheia de gente, a única pessoa que foi capaz de sair em socorro de alguém que se afogava, foi precisamente um jovem que não sabia nadar.
(...)
Existe um antigo preceito místico que afirma que da mesma forma que Deus desempenha papel na vida dos Homens, os Homens modificam Deus, pelo seu comportamento.
Jacob Pinheiro Goldberg, in Psicologia e reflexões do inconsciente

Those are the days






Em dias de um calor doentio para mim, causa-me calafrios pensar nas nossas praias já tão cheias. 
O meu conceito de mar vem sempre associado a um silêncio bom onde só cabe a canção do mar e a voz do vento. Gosto tanto da falta de pegada do Homem nos areais. Adoro as manhãs cedo e os quase anoitecer.
Que saudades imensas da ilha.
Há um bichinho cá dentro, muito de estimação, que começa a despertar.
Quem procura, sempre encontra. E Deus ajuda quem muito muda.
Certo é que enquanto estivermos a tentar, o risco máximo que corremos, é quem sabe, conseguir.
(...)

A mudança a instalar-se

Hoje pela primeira vez vi uma oferta de emprego, novinha em folha à espera de candidatos, "exclusivamente em regime de teletrabalho".

Bom dia Vida

Obrigado pela pressão.
Obrigado pelas dificuldades, por vencê-las. Obrigado pela tua infinita paciência comigo. Tenho muito mal gasto os meus últimos dias mas ainda este ano quero sair da roda do hamster e ser do mundo e fazer coisas pelo mundo; aflige-me muito este vivermos tão só para nós mesmos, como se o nosso umbigo fosse uma espécie de sol ou rosa dos ventos. Prometo-te que vou estar atenta, devo-te isso.
Obrigado pela magia todos os dias, pelo milagre Maria e pelo amor Luís. Obrigado pelo pão, e pela paz. Obrigado por ter pernas, por causa do video que publiquei aqui há dias, sobre as shorts do Nobel Prize. Obrigado pela imensa sorte de viver em Portugal. Obrigado por ter um emprego, por ter uma família. Obrigado por cada dia, e por cada coisa pequenina que me esqueço de te agradecer.
(...)
Melhor do que ser feliz, é viver.
Vinicius de Moraes

Gente assim

No domingo vi uma foto do presidente da República de Portugal, o professor e jornalista Marcelo Rebelo de Sousa, de bermudão, esperando na fila de um supermercado em Lisboa, de máscara, guardando a distância regulamentar e respeitando a fila. Nenhum segurança à vista.
Nelson Motta, jornal O Globo

Amar



Assim.
Só por um dia vou esquecer os cursos que se acumulam e nunca mais termino. Vou esquecer as horas e o telefone, não vou dar corda às preocupações do momento. Vou ser bebé com a minha bebé, passar o dia inteiro de pijama, a dormir, a ver televisão e a comer chocolates. Vou dobrar os milhões de incontáveis beijos que passo a vida a dar-lhe. Vou preguiçar a 200%, sem remordimentos.
Não quero saber de mais nada; só por hoje tenho a certeza de que a vida não se vai importar com o meu offline mood.

Bom dia


Tu Vida, és mesmo uma grande lição.

O Amor



Sempre o Amor.
O lay-off é uma almofada amortecedora.
Marcelo Rebelo de Sousa

É sim senhor, senhor Presidente. Se não fosse isso, talvez eu e tantos outros já tivéssemos perdido o emprego. Mas permita-me que lhe diga, que apenas estamos a dourar a pílula. Verá que quem tinha que ser despedido agora, vai ser logo após os sessenta dias findado o lay-off. As estatísticas do desemprego vão engrossar nessa altura, pode apostar.
O Estado apenas está a tentar evitar o inevitável: ficar com todos esses desempregados às costas.

Mistério

Eu não sei como fez a minha mãe para criar quatro filhos. Não sei como faz a Laura para criar gémeos. Se os dois irmãos da Maria tivessem vingado, a esta altura já teria todo o meu quinto piso mental em obras permanentes. Ando tão cansada, que penso no que será de mim quando logo logo tiver que encaixar nesta rotina um trabalho lá fora. Esta noite dei-lhe o ultimo biberão há meia noite. Ás duas da madrugada acordei para chamar o pai dela do sofá. Ás cinco horas voltei a acordar para ela mamar. Ás oito horas, tratar dela outra vez. Durante o dia entre tratar dela e da vida de casa, são muitas as vezes que não sobra nem tempo para mim. Talvez seja só mesmo eu que estou a mal gerir toda esta nova rotina familiar. A Maria está óptima, estamos a fazer bem as coisas com ela, disso não tenho duvidas. Eu é que ainda não encontrei a paz do gato, aquele tempo só para mim, para ler ou dormir. Mais ou menos perdi o direito a estar cansada, e reclamar até faz de mim fraca.
Em relação às despesas, se tivessem vindo três, parem de me dizer que tudo se cria, o tanas! Tudo se criava sim, noutros tempos.
Ser mãe é a melhor coisa do mundo, mas a mais exigente também.





Tenho imensas saudades da ilha. Da paz dos lugares. Da luz ideal para fotografar. Das praias silenciosas; da areia imaculada; do baloiço junto ao mar. Do vento a correr; do enorme céu azul; do cume das montanhas e das sombras das nuvens. Das roupas leves; dos dias longos. Do sabor a férias o ano inteiro. Da caldeirada de peixe com muita raia. Do colo e do cheiro da minha mãe; do riso alto e do abraço apertado dos outros sete que lá tenho. 
(...)
Na nossa saída para arejar no passado fim de semana, não percebi essa tal responsabilidade colectiva que alguns dizem que nos distingue. Vi muitas máscaras, sim. Mas não vi guardar distâncias como mudança comportamental assumida, vi um egoísmo enorme na forma geral de circularmos. As pessoas pareciam pavões, ansiosas por mostrar e viver o lado B da vida, o que é perfeitamente compreensível. Havia uma espécie de o resto vê-se depois no ar, sendo que esse resto pode surpreender-nos já no inicio do próximo semestre de chuva e frio. Daqui a quatro meses, portanto.
Não quero ser fatalista, mas assombra-me a possibilidade de o pior poder estar por vir.
(...)
É mesmo importante, se tivermos dinheiro, fazermos com que ele circule. Frequentar restaurantes, consumir cultura, ir ao cabeleireiro mudar o visual, fazer uma boa massagem, entre tantas outras coisas que costumavam fazer-nos tão felizes. Se formos capazes de o fazer, menos pessoas vão perder o emprego.
(...)


Houve um dia qualquer lá atrás, em que este foi o nosso drama, o nosso dilema. Por mais que conheçamos exemplos de famílias felizes onde há um portador de Sindrome de Down, não queríamos que acontecesse com a nossa menina. Hoje olho para a Maria e sei que se tivesse acontecido, não tenho duvidas de que ia amá-la da mesma forma, fosse ela preta azul ou amarela. O problema de qualquer criança desrespeitada e ferida na sua identidade, seja porque tem Sindrome de Down ou porque é uma Valentina, é o mundo lá fora. E por essa razão, eu continuo a agradecer a Deus todos os dias, não ter que ajudar a minha filha a lidar com essa limitação. Admiro muito os pais que fazem essas crianças maravilhosas tão felizes, e que têm a força para partir pedra neste mundo injusto, e arrancar o sol das nuvens todos os dias para os seus filhos. Para mim, esses pais são heróis.

De resto a bebé deste video é a coisa mais linda do mundo.

Dia D

Hoje tantos portugueses retomam a vida laboral. É um marco muito importante, é a partir daqui que começamos de novo a erguer a cabeça. Foi providencial o fim de semana ter sido cheio de sol. Saímos à rua com a mesma alegria e ansiedade dos bichos que hibernam meses nas tocas. Fizemos um bocadinho a fotossíntese à alma, e isso em vésperas de se regressar ao trabalho, é mesmo importante. Desejo para quem tem essa sorte, que hoje os reencontros entre patrões e empregados sejam feitos de maior entrega, respeito, paciência, boa vontade.
As nossas crianças também voltam às creches hoje. Queridos pais, eu sei que custa, eu sei que dói muito especialmente no caso dos mais pequeninos, que não sabem nada sobre como se proteger, e vão ficar longe do vosso abraço e da vossa protecção tantas horas. Vai ser fundamental encontrarmos aqui rapidamente a normalidade, precisamos mesmo de tocar a vida adiante e se este dia tinha que chegar, que seja logo e que corra bem.
De resto, com muito mais gente a circular nas ruas, oxalá que os comerciantes encontrem dias inesperadamente felizes no que vem a partir de hoje.
Ganhamos algumas regras importantes. Muito mais higiene, é hoje muito mais seguro frequentar uma pastelaria ou um restaurante do que era antes, e não só por causa do CV19. O uso das máscaras já tão normalizado em outras sociedades e que olho para trás e nem sei como frequentava supermercados cheios em hora de ponta, sem usar luvas e máscara. O deixarmos os sapatos à entrada de casa, parece-me do mais básico e faz todo o sentido. Respeitarmos tanto o simples gesto de lavar bem as mãos, vai fazer tanta diferença nesta e em outras doenças.
A nossa sociedade, bem ou mal, adaptou-se quando foi preciso, e reinventa-se agora neste regresso pautado por muita expectativa.
Nem tudo foram perdas, definitivamente. Oxalá que de resto, tenhamos muita sorte.

Do melhor que a vida tem

E foi assim, o nosso fim de semana.
Feito de espreitar o mar, de encher os pulmões de cheiro a eucalipto, de uma boa caminhada para bombar o sangue, de sentir o sol na pele e agradecer a frescura da sombra. Foi tão bom tudo com a nossa filha. Depois de tanto tempo em casa, no nosso caso quatro meses, foi uma espécie de reconciliação com a Vida.

Uma boa fatia de mar






Céu azul, e esperança.
Diria que aconteça o que acontecer nas nossas vidas, a presença destas três coisas, há-de sempre ajudar-nos a respirar melhor.
É tudo o que eu almejo para este fim de semana, um passeio tranquilo junto ao mar.
A minha energia anímica anda péssima. Sinto um cansaço terrível e qualquer coisa que digam ou façam, boa ou má, afecta-me a 200%.
Ultimamente tenho reflectido sobre o facto de nunca nada ter caído do céu para mim. Tenho sabido ser uma mulher mais ou menos forte quando é preciso, tenho poder de encaixe e espírito de sacrifício, não me ando a lamber por causa das minhas competências que de resto nunca foram trampolim ou pedra no caminho para qualquer coisa que eu quisesse tentar fazer. Não me arrependi das minhas escolhas, também nunca tive ninguém a dar-me os parabéns por nada. Na fase da minha vida em que mais precisei, fiquei sozinha. Foi quando regressei a Portugal e precisei de procurar um emprego. Nessa altura percebi que tantos contactos valiam zero, descobri que ninguém vive de boas conversas, aprendi que se tiver que desbravar terreno debaixo de sol duro ou limpar latrinas, vou fazê-lo sem pestanejar, porque não vai haver ninguém além de mim mesma, para me ajudar a encontrar outra opção. A família, o meu núcleo duro mãe e irmãos, deu-me sempre colo; mas o resto do mundo deu-me apenas palmadinhas nos ombros e alguns nem isso. Mesmo assim, as pessoas continuam a ter poder sobre mim. Mesmo sem calçarem os meus sapatos em algum tramo do caminho, fazem observações sobre a minha garra que pelos vistos não é nenhuma, sobre o meu curso que pelos vistos há carradas de trabalho para os Psicólogos - eu só não estou a trabalhar na minha área porque não quero - sobre os meus medos que desde que tive que me desenrascar sozinha não me apetece partilhá-los com ninguém. 

Que pena, aquela rapariga podia fazer tantas coisas interessantes.
De certeza que estas mesmas vozes vão ser as primeiras se um dia por acaso houver alguma nova oportunidade, em me dizer: 
Vês, eu disse-te para ires à luta, só queria o melhor para ti.

É tão fácil sabermos o que faríamos se fossemos os outros. É tão fácil acreditarmos que seriamos bem mais fortes e espectaculares.

Com o passar dos anos, deixei de acreditar em algumas coisas. Nunca deixei de acreditar em mim, se é essa a duvida. Mas por sobrevivência ou necessidade, aprendi a perceber rapidamente onde me devo posicionar. E ainda bem que sou assim. Porque a grande verdade, é que continuo a não ter ninguém para resolver os meus problemas se eles acontecerem. Acrescento-lhe que agora tenho a Maria, o meu farol. Por ela, tudo o que realmente preciso é que nunca me faltem a saúde e a força para trabalhar. E que ninguém me distraia de mim mesma. Eu não preciso de ser uma rapariga inteligente e brilhante aos olhos dos outros, eu preciso da paz e do pão. Faz muito tempo que defini as minhas prioridades.

A Maria

Uma das coisas que eu desejei muito, acho que logo a seguir a que ela fosse saudável e perfeita, foi que fosse parecida com o pai. Eu queria olhar mais vezes para ele, mesmo se não estivesse com ele. Queria que se um dia ele for outra vez embora, de certa forma através dela me deixe ficar a imagem física comigo para sempre. Talvez seja porque um dia quase morri de saudades, são coisas difíceis de explicar. 
Aqui em casa sozinha com ela, olho-a e vejo-o. E sinto uma felicidade tão grande, uma coisa tão maior do que tudo... As minhas preces foram atendidas.
Algumas pessoas dizem que não, que é parecida comigo, e eu quase até meio entristeço. Não é não, a Maria é os dois; mas dos dois, muito mais o pai. 
Há outra coisa que eu pedi muito. Que em muitas coisas, ela me lembre a minha mãe. Pelas mesmas razões, pela continuidade e pelo Amor.
(...)

As idas à praia não me preocupam

Talvez porque haja sempre preocupações maiores.
Sinto com angustia que o desconfinamento não é de todo o regresso à normalidade. Roubaram-nos qualquer coisa que não sei bem explicar o que é, que agora por mais que saiamos, já não é mais a mesma coisa. Bem cá dentro fiquei aprisionada numa espécie de quarentena emocional sem data para terminar. Há uma grande instabilidade no ar, muita gente que começa a não estar bem. Muitos fins de linha inesperados, e o todo é o mesmo novelo, em que a ponta de outro quem sabe acabe na minha. Há muita gente - demasiada - a sofrer um doloroso baque financeiro. Há patrões desesperados, bons patrões. Há empregados - bons empregados - que perderam ou vão perder os seus empregos. Há uma necessidade urgente de bom senso nas relações, ao mesmo tempo que cabeças e corações começam a fervilhar. Há muito medo do futuro incerto. A crise de 2008 trouxe tantos suicídios, lembram-se? Dizem os entendidos que aquele cenário tão grave, é suave perto deste... 
Não sinto alegria praticamente nenhuma, em ir lá para fora aproveitar a vida e os dias.

13 de Maio


Que a Luz de Maria me guie em todos os meus dias; nos bons e nos maus.
Que a vela no meu coração permaneça acesa.

A pequena Valentina

Dói-me tanto esta história. Mais do que tudo, porque se sente claramente o quão sozinha esteve esta criança no meio deste filme de terror. Não deve haver nada pior do que pedirmos socorro e ninguém nos ouvir.
(...)
E uma criança dá sempre sinal quando alguma coisa não está bem, sempre.

Breve reflexão sobre a actualidade

Só para contrariar


Estes dias azedos, cinzentos, incertos.
A boa energia está também numa musica, numa boa fatia de mar, num sorriso, no fazer o bem, na paz interior quando ela é inabalável.

Muito importante

"Aquilo que temia está formalizado. Embora reconhecendo dificuldades na aplicação, como se isso suavizasse alguma coisa, a DGS pede que nas CRECHES as crianças não partilhem brinquedos e que se tente um distanciamento de dois metros entre cada criança. Estamos a falar de crianças até aos 3 anos que nunca vão perceber porque não se podem aproximar dos outros. Que se forem sistematicamente impedidas de estarem juntas vão apenas assimilar que brincar é errado, que o afecto é errado, que elas mesmas têm algo de errado. E vão crescer com essa sensação, bastando alguns meses para lhes ficar impregnada.
Não se centrem na crítica de que isto não é possível de aplicar, desvalorizando o impacto destas medidas. Se os profissionais de educação se sentirem pressionados a diariamente tentarem impedir as crianças de interagir, há aqui uma forte possibilidade das crianças começarem realmente a alterar padrões inatos de comportamento. Quem já ouviu falar de Pavlov sabe bem do que falo. Ainda há a possibilidade das creches não abrirem. Mas caso abram, não vamos coletivamente permitir que se iniciem práticas que deixarão marcas emocionais profundas na infância. Ou se abre creches e protegemos as crianças de algo que pode muito bem ser bastante mais grave que o vírus, com medidas de higienização mas deixando o brincar INVIOLÁVEL, ou então não se podem abrir creches. E o mesmo para os Jardins de Infância. A minha filha não vai para a escola para ficar colectivamente isolada.
Só vejo uma solução. Isto já não vai lá com petições. É preciso uma RECUSA em MASSA de pais e profissionais de cumprir estas orientações."

Ana Rita Dias

Save with stories


Save the children.
É só ela e o filho dela, que coisa mais linda de se ver.

Uma nova ordem lá fora

Há mesmo uma aura doentia lá fora. Ontem debaixo de uma chuva-diluvio, havia filas absurdas de gente nas portas do talho, da farmácia, da peixaria, do pomar. Uns com guarda-chuva, outros sem guarda-chuva, alguns a guardarem distância, outros não. Dei comigo a pensar se no próximo Inverno vamos continuar assim tão antoninhos. Se sim, vai haver gripes e pneumonias com farturinha.

Tempos de paciência; e de Fé

Acredito muito na luz que brilha ao fundo do túnel. É talvez por isso, que sei que mais tarde ou mais cedo, ultrapasso as barreiras difíceis e inesperadas que vou encontrando no caminho. Nos últimos tempos então, com isto da maternidade sinto-me munida de uma espécie de auréola protectora divina, como se a minha filha fosse - e é - uma espécie de amuleto sagrado que veio para nos proteger, a mim e ao pai dela. 
O tempo que fico triste agarrada às boxes, a tentar respirar de novo bem, a lamber as feridas, é também o tempo do balanço. E da crença. De que tudo, mas tudo mesmo, acontece por alguma razão. A minha mãe diz muitas vezes que por cada porta que se nos fecha, Deus nos abre uma janela; e que por detrás de uma montanha alta, há-de haver sempre outra ainda mais alta. É por isso que acredito, porque até hoje encontrei sempre a nova janela, ou avistei a montanha mais alta.
Já vos aconteceu alguma vez irem por um caminho tortuoso, agreste, e desembocarem numa praia linda? Lugar tão comum. Pois é, ás vezes não compreendemos bem porquê que coisas que nos magoam, acontecem.
(...)

Só para lembrar


Acordei com a sensação de que é preciso ir fazendo, ir mudando as coisas de lugar. A vida só acontece se estivermos vivos, e invariavelmente preciso de colaborar para recuperar a minha boa energia. Não vale a pena reclamar, não serve de muito tentarmos mudar o que nos transcende. Vale muito a pena começarmos por nós, com as nossas capacidades, a nossa vontade séria de não despender energia em braços de ferro inglórios. Nem sequer reclamar; expio o que trago cá dentro com a luz da manhã, o primeiro sol na janela, o silêncio grande na casa. Aos poucos, vou ficando mais calma. Deixa ser assim, deixa acontecer miúda. Se te cansas, não sufoques. Pára e descansa. Mas retoma o teu caminho, sempre.

Gente assim

http://ateja.pt/2020/05/06/palavras-em-tempo-de-pandemia-4-o-olhar-de-guerra/

Dia de colo



Com a mesma musica de sempre.
Por aqui a apatia continua.
Não sei como está a vida a acontecer lá fora. Espero que as pessoas estejam novamente um bocadinho mais felizes, que haja frenesim, boas palavras, boa sorte a fazer-se nos movimentos de cada um. Ninguém mudou para melhor, o que talvez tenha mudado foi a nossa forma de olhar as coisas; talvez a nossa percepção sofra agora algum tempo de acutilância, e basicamente isso é uma oportunidade de conseguirmos fazer e ver o mundo mais bonito.
Eu preciso de sair do meu bunker, de ir lá fora apanhar sol, de chorar muito, e rir.
(...)

The show must go on

Hoje chegaram-me noticias de Espanha. Os restaurantes sempre com lotação esgotada. Grave se pensarmos na pandemia, excelente se pensarmos na economia. O ser humano esteve demasiado tempo encerrado; estamos ávidos por esplanadas, festas noites adentro, jantaradas e convívios. 
Daqui a muitos anos este comportamento vai estar nas entrelinhas dos grandes livros de História. Para o bem ou para o mal.

O nosso comportamento estético

Está a sofrer dias horribilis.
As máscaras, por mais giras que se façam, não ficam bem a ninguém. As viseiras então nem se fala, só me consigo lembrar dos cães com colar anti coceira.
Vai ser estranho adaptar o look. Colocar brincos giros, fazer uma make up obrigatória para tanta gente, e depois por cima colocar aquela catrefada de acessórios para nos protegerem a vida, a nossa e a dos outros. E quando chegar o calor a sério, o efeito estufa vai causar sérios estragos aos arranjos matinais. As pessoas vão ficar naturalmente menos atractivas e mais frustradas na sua tentativa de brilhar. Num mundo onde a aparência estética é cada vez mais o único cartão de visita de muitos.
(...)

Saudades dos dias assim. Das gentes assim.
Da descontração natural, da falta de amarras, dos abraços ao sol nas ruas velhas da cidade, das pessoas a fluir como um rio de margens a transbordar.
Ando irritada e triste. Não tem nada a ver com a minha bebé, que de resto me esgota.
É um tremer por dentro, uma falta de energia física, uma incapacidade para organizar, um apagão anímico.
São interrogações difíceis para desvendar num futuro muito próximo. É o medo, a incerteza, o não estar perto.
É uma vontade de chorar antes de acontecer, em modo de mau presságio.
(...)

Impossible relationships

O que domina a actualidade é no mínimo prova do quão assustadoramente balofa se está a tornar a sociedade.
Não há pachorra para os mais diversos reality shows que diariamente invadem os meios de comunicação, com caras caretas e histórias que confesso que não compreendo como podem interessar a alguém. São formas de esvaziar a mente, e enchê-la de novo com coisa nenhuma. São formas estranhas de espiar a vida alheia, formas graves de vender a própria história. Mas é isto a tal barreira da liberdade, que diz que onde começa a minha acaba a do outro. Zero pontos para mim.
E num país onde se passa de bestial a besta em segundos, parece-me incrível que os portugueses estejam mais preocupados em criticar o jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho na sua entrevista à senhora ministra da Saúde, do que com o fundo e importância das questões colocadas. Questões essas que ficaram sem uma resposta objectiva alguém reparou?, questões essas que são também a preocupação de outros tantos portugueses que agradecem ao jornalista ter tido a coragem de lhes dar a voz. Afinal o senhor Rodrigo também é português, também ele vive os mesmos difíceis tempos de CV19 que todos nós, e também ele se deve ter saturado uma e outra vez com recorrentes discursos incoerentes sobre a necessidade do uso de máscara, num governo no qual também eu votei, que nos deve respostas sim senhor. Não foi isento e foi inquisitório, e eu agradeço-lhe porque me aborrece solenemente vivermos num país de falsos bem educadinhos onde é tão primordial mantermos as aparências. Foi conciso e não acusou ninguém. A noticia faz-se em busca da verdade e fazer a verdade aparecer, ás vezes dói. Desta feita, numa conversa cá em casa a propósito da dita entrevista, foi-me dito que o que mais há são portugueses de segunda - nos quais claramente o discurso me envolvia - que mesmo que além fronteiras se diga que somos os maiores, estão sempre dispostos a criticar e a puxar as orelhas. Ora bolas, essa doeu. Mas de todo, não me incluo nessa classe de portugueses, os maldizentes só porque sim. Incluo-me na classe que puxa as orelhas sempre que acredita que falta crescer. Acho importante mas não me envaidece que lá fora digam que somos os maiores nem sempre concordo, sinto-me mais focada no que realmente somos cá dentro.
Ter opinião própria, às vezes custa. E digo-o por experiência: respeitar a dos outros, também.
Não consigo ter tempo para mais nada. Hoje pensei bastante nisso, e no quanto me aborrece começar a habituar-me a viver neste estado de antecâmara da exaustão. Os cursos da Ordem acumulam-se, e como têm prazo de validade, vou perdê-los. Ou encho-me de força e coragem e aproveito as madrugadas sossegadas, e mato os cursos; ou desisto.
Se calhar é hora de arrumar de vez com alguns sonhos latentes.
(...)
Ontem fiz da ida ao supermercado, uma ida ao teatro. 
In loco, todos os personagens estavam devidamente equipados com máscaras, alguns com luvas; excepto alguns funcionários que não usavam nem máscara nem luvas. Uma espécie de altifalante ia lembrando que devemos guardar a distância mas olhando à volta, a voz do aviso era só um cromo repetido do qual já todos pareciam estar fartos e que portanto ao qual já ninguém fazia caso. Algumas vezes, numa atitude de completa fobia social fundamentada, senti-me a fugir de estranhos que irresponsavelmente se colavam a mim. 
Todo o cenário me altera bastante. Sábado após sábado, vinda do supermercado volto a casa com uma sensação enorme de despersonalização, de desencontro. Como se me tivessem metido numa cápsula filmática para viajar ao futuro, e na volta ao presente eu me encontrasse profundamente estranha e preocupada.
No percurso até casa, quase ninguém de máscara e ou luvas, quase ninguém a fazer desvio para cumprir a distância recomendada. Muito pólen no ar, gente vestida com roupas frescas, um primeiro agradável dia de Primavera que todos pareciam querer respirar. Mesmo assim, algo diferente nos semblantes. A suspeita da mesma incerteza partilhada por todos, por mais que uns finjam estarem alheios aos outros.
Começo a pensar no quão complexo vai ser retomar as nossas vidas lá fora, a nossa normalidade no trabalho, as rotinas tão fundamentais para tantos.
(...)

Mãe*

 
Imagem da web

*Das palavras pequenas, a maior que o mundo tem.

Tenho poucas certezas na vida. Uma delas é que terei sempre um lugar junto da minha mãe.
(...)
Pela primeira vez, celebro este dia sendo alem de filha, mãe também. Compreendo mais coisas. Sei agora que mães fortes são às vezes tão frágeis. Aprendi que afinal também se vive com o coração a bater lá fora, noutro peito. Descobri que aumentam os medos, mas também a força.

Quando as coisas acontecem naturalmente

O spinning cá em casa ficou adiado até vésperas do fim do estado de emergência. Não houve vontade antes. Aconteceu agora, porque esta semana tem sido a de todas em que mais me sinto decaída mentalmente. Assim sendo, toca a oxigenar este cérebro, a cansar o corpo para dormir melhor, a suar com musica boa vibe para alegrar qualquer coisa e pensar menos em tudo. O certo é que com meia hora de manhã e meia hora de tarde, logo de inicio aumentou a minha necessidade de beber água e funciona bem melhor o meu metabolismo.
Isto num pós-parto e pós-quarentena, é quase recomendação médica. Se bem que a instrutora oficial cá em casa é mesmo a Maria. É ela quem dita as regras e marca os tempos. Ás vezes acaba comigo antes de que me ocorra sequer um esboço de plano de me sentar na bicicleta. De maneiras que não sei ainda que ritmo vai ditar este compasso.
(...)