Sobre a ditadura da felicidade

Nos últimos anos tornou-se quase imperativo ser-se feliz, como se não fossemos na realidade fadados também para tragédias e lágrimas. Nascemos a chorar, de um grande grito para podermos respirar melhor. Alimentamos hoje a ideia de que aconteça o que acontecer devemos permanecer intocáveis e só assim demonstramos sabedoria. Há quem venda esse tal cultivo de um espírito iluminado, essa tal ideia de uma paz interior que não permite salpicos. De tal maneira que o nosso mundo pode estar a ruir mas tanta gente só consegue admitir focar-se na promoção de energias positivas, como se estivesse tudo bem e fossemos quase imunes ao que está a acontecer. Eu tento fazer esse exercício todos os dias, principalmente porque sou mãe mas também porque acredito que é, apesar de tudo, a melhor forma de estarmos na vida. Mas alguns dias, algumas horas, uma ou outra madrugada, não consigo de todo fazê-lo. Sinto tristeza - muita - e medo.
Receio a falta de positivismo nas pessoas, mas receio bem mais a falta de capacidade de olharem de frente a realidade e enfrentá-la nua e crua como ela se apresenta.
As lições vêm depois, vamos todos ter muito tempo para assimilar devagarinho as mudanças profundas que estes dias nos vão trazer.
(...)

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