Nas traseiras de minha casa existe um campo de cultivo. Tem pássaros, galinhas, limoeiro, laranjeira, cercas, espantalhos, algum gato vadio; e um senhor de oitenta anos, indiferente aos medos, a cultivar a terra. Todo aquele cenário dá-me imensa esperança.
À janela ouvem-se no meio do silêncio grande, só os bichos. Sabe tão bem, fica-se tão cá dentro. O ruído da nossa existência parece quase não fazer falta. Ao mesmo tempo que o gato dá dois pinotes no telhado de zinco, a vida prossegue serena e imparável, alheia se tememos, se inventamos, se crescemos ou apalermamos.
Na varanda mais alta do prédio vizinho, um casal jovem semi nu apanha sol; é preciso continuar a saborear as coisas boas da vida, porque ela merece.
(...)
Não passa nenhum avião ao longe. Os plátanos da rua estão cheios de folhagem, há sombra nova e ninguém para aproveitar.
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