Nós

Cá em casa, com um bebé acabado de nascer, estamos emocionalmente apreensivos. 
Fizemos o que mais ou menos imagino que estarão a fazer todas as famílias: algum stock de bens essenciais, como água, o leite da Maria, fraldas, conservas. Cuidamos para que não falte nada na nossa mini farmácia de casa e o resto são orações e alguma tranquilidade, apesar de tudo.
Não açambarcamos mas não criticamos quem o decidiu fazer. Comportamento gera comportamento e o futuro está tão incerto, quem pode prever com garantias como vai terminar tudo isto? Qualquer sociólogo sabe o que aconteceu em outras sociedades num contexto de véspera de guerra. Não se raciona, não se pára muito para pensar no outro, "não se limpam armas", rapidamente transforma-se tudo num salve-se quem puder. Acredito que os lideres políticos tudo farão para impedir o deadline económico, pelo que albergo esperança de que dentro de algumas semanas começaremos a ter força neste braço de ferro.
Sinto uma dor imensa pela minha filha, pelos meus sobrinhos, por todas as nossas crianças e pelo mundo que lhes estamos a deixar. A Maria - nunca mais me hei-de esquecer - viu-me chorar e ficou com um ar triste a olhar para mim, parou de sugar o leite e ficamos só as duas, com as minhas lágrimas e o olhar redentor dela.
Penso muito nos meus pais e nos meus sogros, e em todos os nossos idosos. A minha mãe viveu a guerra em Angola; os sensores internos dela exponenciam ainda mais o medo do desfecho desta situação. Ás vezes rio-me com ela, ás vezes fico com o coração muito apertado.
Acho que percebemos todos que tudo isto que é o nosso mundo e a nossa vida diária que nos fazem correr tanto todos os dias, é afinal quase tão frágil como um castelo de cartas.
(...)

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