A propósito de racismo

Acho piada àquela gente tão superior, tão acima do acima, que nem sequer se consegue colocar no lugar dos outros, que chama preto quase enaltecendo a sua forma leve de brincar às cores afirmando que elas não têm importância nenhuma e que o problema está de facto nos pretos (ou nos brancos ou amarelos) que têm qualquer coisa mal resolvida e doem-se por nada.
Acho mesmo incrível quando na minha presença numa qualquer conversa banal falam em algum "preto" e logo a seguir interrompem o tema para me dizer "desculpa, não leves a mal, eu sou mesmo assim, não é por mal, até gostava de ter a tua cor". E eu, que não fico de todo ofendida, até porque muitas vezes reconheço que efectivamente aquela pessoa não tem nada de racista, dou comigo a pensar que num mundo tão avançado as pessoas ainda se definem por cores, raças, religiões, com tanta facilidade (não raramente o nome próprio da pessoa vem depois, quando vem).
A primeira fotografia do filho da Meghan Markle foi tão esperada; mais do que ser filho dos Duques, poderia ter nascido a tirar ao lado da mãe (que de resto é mais bonita do que o pai). Expectativas assim ainda tem tanto impacto nos dias de hoje, confesso que isso me choca.
Pior são aqueles iluminados que desconhecem a História e nunca ouviram falar em estigma e espraiam o tema ao ponto de dizerem "se és preto não deves ter problemas com isso, eu não me importo que me chamem branco", esses quase parecem os verdadeiros profetas da razão.
O Bernardo Silva não é de todo racista, para mim é evidente. Apenas fez o que faz desde miúdo e brincou com uma situação tão normal para ele (para os pais, família, amigos, whatever...). Cresceu num meio onde brincadeiras assim se fazem sem maldade, ao mesmo tempo que sem consciência nenhuma do alcance que podem ter (quantas e quantas crianças e adultos se sentem ofendidos em brincadeiras assim e ficam calados e até riem numa triste tentativa de inclusão). Certamente a esta altura já percebeu que a questão do racismo é muito mais ampla e séria do que apenas o ponto de vista dele. Acho que já tem a lição aprendida (vamos sempre a tempo de aprendermos a comportar-nos um bocadinho melhor), a partir daqui deixar evoluir o tema ridiculariza a discussão.
Em questões mais amplas, mantenho o meu lado racional, não confundo alhos com bugalhos. Nunca vi com bons olhos tanta abertura do espaço Schengen. Acho que actualmente os países não estão a saber driblar bem a bola de forma a praticar uma solidariedade equilibrada, abrir a porta e deixar entrar tudo e todos terá obviamente sérias consequências no futuro (o Trump não é tão tolo como parece, peca no tratamento através do qual denuncia não ver todos como seres humanos iguais).
De resto, aqui mesmo neste cantinho plantado à beira mar, somos naturalmente hipócritas em muitas questões; sempre fomos um povo especialmente solidário, muito atento às Matildes e a não conseguir sequer ver as grávidas na fila do supermercado. Seria importante que os governantes do mundo se preocupassem de facto em explorar as questões de fundo da forma mais vertical possível. E com isto não quero dizer que devemos ignorar as gentes desesperadas a fugir com crianças por trilhos de trem até onde calhar. (...)
Anyway.
Racismo é como feminismo e outros temas, tudo o que ultrapassa o limite, cheira mal. Lutar tanto contra a diferença tantas vezes não é mais do que exacerbá-la.
De qualquer forma, discutir racismo é o mesmo que discutir o sexo dos anjos.
E este é também só e apenas o meu ponto de vista.

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