Esta cidade

 


Mudou drasticamente nos últimos anos. Em alguns aspectos, quase a ferros; mas ainda assim para melhor. Lembro-me quando era miúda - e eu já vou a caminho do meio século - de uma cidade lúgubre. Velha, escura, cancerosa incurável. Só nossa, de quem cá morava. Hoje a cidade é do mundo e para isso tivemos que abrir as portas e as janelas; para isso vivemos um processo interminável de lavagem da cara e maquilhagem da alma. Porque o Porto moderno há-de ser sempre o Porto velho. No meio de todas as mudanças profundas, há coisas da cidade - antigas - que me comovem. As luzes, o casario sobre as margens do rio, as manhãs de nevoeiro, as estátuas novas em jardins antigos. Tê-la visto um dia definhar e vê-la agora num rejuvenescimento espantoso.

Quando penso em emigrar, há uma mão invisível que me agarra e me detém: este é o único sitio no mundo inteiro, onde quero criar a minha filha.

Esta cidade tem aura de História de Amor.

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