Asma

Estamos os três a aprender a lidar com os sintomas. O que mais custa é o sofrimento da Maria, em noites inteiras de tosse descontrolada.

Sentimento de impotência. Reconhecer que cada macaco no seu galho e sim, às vezes os médicos sabem mais do que as mães. Saber da importância de uma noite bem dormida. Vontade de ficar com ela agora. E depois, e depois, e depois...

Ó tempo volta para trás


Claro que não. Mas esta semana vim no bus com uma grupo de miúdos trajados e pfffffffffff, morri de saudades daqueles tempos. Foi a primeira vez na minha vida que percebi mesmo a idade, o tempo e a vida a passar. Aquela juventude, aquela alegria e burburinho na alma, aquela coisa fresca nas semanas que antecedem a Queima das fitas, aquela inocência bonita de parecer que vai ser sempre assim.

O Sinatra veio morar connosco

Sempre gostei de gatos e o pai da Maria sempre gostou de cães. Tivemos as nossas vivências com bichos muito especiais que nos marcaram para a vida toda. Mas hoje não encaixa na nossa gestão termos um animal de estimação. Sabemos que seria muito importante para o desenvolvimento da Maria, mas sabemos também que não podemos. Trouxemos um peixinho para nos fazer companhia, e oxalá viva algum tempo. Senti-me murchar por dentro com a reação da Maria quando o viu. Claro que ela gostou, mas o peixe nem sequer fala mãe...

Tudo dito logo ali na apresentação.

Andamos às voltas com os dias e com a vida, a tentar perceber se somos capazes de fazer mais. A querer muito todos os dias encaixar este mundo louco lá fora na nossa bolha de amor. Porque não há outra forma para olear a máquina. Hoje conversei com a Maria sobre o facto de voltar a trabalhar e não ter todo o tempo para ela. Resumi tudo a que nos próximos dias ela vai ter que tomar conta do papá e de mim, que eu vou ter que tomar conta dos dois e que o papá vai ter que tomar conta de nós as duas. Dei-lhe o exemplo dos dedos das mãos entrelaçados forte uns nos outros - disse-lhe que vamos ter que ser assim o tempo todo, sem margem para preguiças, pelo menos neste primeiro mês de mudanças radicais nos nossos horários. Franziu a testa, visivelmente pareceram-lhe contas a mais. É tão pequenina, que por momentos duvido muito de tudo. Se não devia fazer o que faz uma fatia significativa da sociedade, ficar de papo para o ar a viver de subsídios. Mas não sou capaz, nunca foi uma possível forma de vida para mim, não é de todo o que quero para a minha família.

Só preciso de muita sorte neste recomeço. E seja o que Deus quiser.

3 anos e dois meses

O meu metro inteirinho de gente de cá de casa, dormiu a primeira noite da vida dela, este fim de semana, sem gota de urina. Deixar as fraldas é um marco na vida de todos, seja o rei ou o pedinte.

Cada vitória dela, cada palavra nova que usa, cada imposição da personalidade, sabem-me a Vida. 

F......


Pensei que isto ia ser mais fácil.
Já tive esta sensação algumas vezes na vida. De que somos absolutamente sozinhos. Normalmente quando tudo flui não nos damos conta disso. Mas há horas e momentos tão cuesta arriba cargada, que se as pessoas tivessem sequer a empatia para perceber, nem falavam, nem opinavam, davam só uma palmadinha nas costas e diziam baixinho

estou aqui se precisares

Bom dia Vida

Vêm aí novos desafios; Obrigada Vida por seres tão generosa comigo. Pelas oportunidades e por tudo aquilo que elas me possam trazer. Algumas pessoas alegraram-se por mim, outras nem por isso, mas o certo é que sou eu quem paga as minhas contas e o mais certo ainda é que ninguém me vai arranjar um emprego. Portanto, com Deus.
Vou precisar de muita disciplina - meu calcanhar de Aquiles. De gerir horários e de andar sempre a correr, para tentar minimizar o impacto das minhas decisões na vida da minha filha. O pai dela vai ser arrastado, vai ter que correr comigo, vai ter que mudar a rotina dele também - e ele é bichinho de rotinas confortáveis - pelo que estou um bocadinho preocupada com essa ponta do novelo. Mas não devo subestimar ninguém, menos ainda o pai da Maria. Quem sabe tudo isto nos obriga a uma gestão que transforma a nossa vida em algo melhor.

Acho que vai dar certo; tenho Fé.

Olhar para o lado e ficar atento


Nunca nunca nunca, tratar mal ninguém.
Diz a estatística que em Portugal se suicidam cerca de três pessoas por dia.

Esta cidade

 


Mudou drasticamente nos últimos anos. Em alguns aspectos, quase a ferros; mas ainda assim para melhor. Lembro-me quando era miúda - e eu já vou a caminho do meio século - de uma cidade lúgubre. Velha, escura, cancerosa incurável. Só nossa, de quem cá morava. Hoje a cidade é do mundo e para isso tivemos que abrir as portas e as janelas; para isso vivemos um processo interminável de lavagem da cara e maquilhagem da alma. Porque o Porto moderno há-de ser sempre o Porto velho. No meio de todas as mudanças profundas, há coisas da cidade - antigas - que me comovem. As luzes, o casario sobre as margens do rio, as manhãs de nevoeiro, as estátuas novas em jardins antigos. Tê-la visto um dia definhar e vê-la agora num rejuvenescimento espantoso.

Quando penso em emigrar, há uma mão invisível que me agarra e me detém: este é o único sitio no mundo inteiro, onde quero criar a minha filha.

Esta cidade tem aura de História de Amor.

Adenda ao post anterior

 

da base

para o topo

coisa que só raízes muito profundas permitem.

É por ti, filha

Que volto a ter coragem. E que seja o que Deus quiser.

Conheço e valorizo essa conversa de que primeiro temos que gostar de nós, que primeiro é por nós. E que só assim seremos exemplo para os nossos filhos. Mas eu, perdoem-me, não consigo. Desde o dia em que fui mãe, primeiro está ela. Depois ela. E depois ainda ela. E só depois vem tudo o resto. É assim e será assim enquanto vivermos. Isto para dizer que provavelmente nunca farei um doutoramento como tanto gostaria, provavelmente não poderei ficar à espera do emprego dos meus sonhos, porque a mensalidade do colégio cai certinha. A vida ganhou outras prioridades. Ver a Maria crescer, rodeada daquilo que eu considero importante para que ela tenha as bases, é o que mais me faz feliz na vida. A minha maior alegria agora é poder cumprir, poder corresponder.

Um bocadinho mais do que resignar-me, acho importante para o desenvolvimento do ser humano que alguns sonhos nunca se realizem. O que é preciso é ser feliz com o caminho. E não sair dele.

Almost Spring

 



Estamos todos a precisar tanto. De deixar os casacos pesados e acordar com dias iluminados. Ás quatro da madrugada os passarinhos cantam e aquela euforia no silêncio total da noite, enche-me de uma alegria que não sei descrever.

Os jardins da cidade estão preciosos. 

Gosto tanto

Receitas mágicas

Uns dizem-me para cortar arrozes, massas, pão e afins. Tirem-me tudo menos o pão, please!

Outros dizem-me para caminhar, correr, whatever. Ok, parece-me sensato. É só trabalhar a preguiça e votar às caminhadas, afinal sempre gostei. Correr só quando abater banha. E o meu affair com a bicicleta também não passou de uma semana. A modos que não parece que vá ser fácil.

Este fim de semana ouvi falar em doze horas de trabalho seguidas, parece que ajuda. A mim de certeza absoluta que não, não e não. Pele de galinha. É que eu alem de trabalhar fora também trabalho em casa. Diz-me a experiência que ao virar dos quarenta, chega de cometer os mesmos erros. Oito horinhas para mim está bom, só preciso que apareça.

Entretanto hoje acordei com um mal estar geral, uma coisa pavorosa, vesicula ou fígado. Acho que infelizmente só mesmo isso me vai colocar na linha outra vez. Ah, e quando tirar a roupa de Verão dos arrumos e perceber que nada me serve. Aí morro de certeza. Tipo humpty dumpty, a rebolar pela escada a baixo.

Desde que soube que andam a fazer uma caça às bruxas à palavra gordo na literatura, então é uma alegria. Pior do que gorda são todas as tentativas falhadas de definir a coisa: 

- Estás mais cheinha. ou - Estás roliça. Fico azul roxa e amarela. Pois, se não fosse o roxo quase seria a díade de bem estar do Van Gogh. Cof cof. Estas duas são mortais, prefiro que me digam que pareço grávida, mil vezes.

And the Oscar goes to?: Baleia assassina, esta semana chamaram-me baleia assassina! Coisa permitida só mesmo às mais altas esferas familiares.

Cruel o nosso mundo. Tudo o que uma mulher passa por ter chegado aos 68kg.

(...)

Outra vez?

Já não se pode ser gorda em paz! Toda a gente me pergunta se estou grávida.

Não sei se é bom ou mau


Apetecia-me fazer uma viagem longa. Sozinha.

Ontem foi dia da Mulher e eu não tive vontade de escrever. Nenhuma. No meu dia fizeram diferença sincera a minha cunhada que está em Angola e é aquela pessoa-Sol que irradia esse amor constante e alegria e que portanto me incluiu num post giríssimo sobre as Mulheres da vida dela. E a minha sogra. Que almoçou comigo e me ofereceu um guarda-chuva novo, no dia em que por coincidência um temporal lá fora partiu o meu como se ele fosse feito de papel. A minha sogra é uma pessoa inigualável, uma pessoa que me comove muitas vezes de forma inesperada. Às vezes ela é comigo aquilo que eu gostaria que a minha mãe fosse: preocupada, atenta, zero egoísmo e total entrega. Mas são mulheres com percursos totalmente diferentes e com os limões que teve a minha mãe fez a melhor limonada possível, não sei se muitas mulheres conseguiriam tanto. É só que às vezes preciso tanto dela e ela está tão centrada nela mesma que nem se apercebe. (...) Ou sou eu, que sou uma sensível doentia, e passa um avião e eu fico a chorar e ninguém sabe porquê. Na verdade ontem o que eu senti todo o dia, foi que ninguém se importa porquê.

Mas já me enredei, este post é sobre o dia de ontem e o que ele representa. Li alguma coisa, recebi mensagens engraçadas, outras bonitas. O curioso é que a única pessoa que disse exactamente aquilo que eu sinto sobre ser mulher-mãe-dona de casa-desempregada, foi um homem. Eu acho que são os homens que escolhemos para a nossa vida, que hão-de fazer a diferença neste dia e em todos. Para o bem e para o mal. Porque há muitos homens que ainda acham que este dia não faz sentido nenhum. E que não percebem a importância de saber dar importância.

Estas palavras 

Das minhas viagens de autocarro

Almodovarianas, digo-vos! Para quem pensa que andar de autocarro em certos percursos da cidade e em certas horas de ponta é uma actividade de risco, é ver quem lá anda e não tem mais opção. São verdadeiras incursões sobre a riqueza humana em histórias de vida às vezes tão trágicas e ao mesmo tempo interessantes.

Uma senhora sozinha, com duas próteses nas pernas, de muletas, em modo altifalante:

- Ó Senhor cuidado, não me caia sobre as pernas senão mata-me! Olhe que já são 87 anos, seis meses e quatro dias! (risos no autocarro) São pois!, que a contagem agora já é ao dia. Tenho seis filhos, vinte netos, vinte bisnetos e um trisneto. 

Curvada sobre a janela e como quem fala sozinha, continua:

- Oh, ali vai aquele! Cheio de pressa para Barros Lima.. é meu filho. Ele não me viu mas eu vi-o! Vai a casa do filho. 

Alguém alimenta a conversa dizendo que se calhar ele viu-a.

- Não viu não. Este não me fala há 17 anos. Nem pelo natal, nem quando fui operada às duas pernas. Mas Deus não dorme, que ele também tem pernas e também já teve que operar as dele. (risos de fundo)

A mesma voz de antes diz E a senhora, foi vê-lo?

- Eu? Cruzes! O filho não vai ver a mãe e a mãe vai ver o filho? Eu não! Olhe dessa cambada toda só um neto é que me acompanhou quando fui operada. E sabe porquê? Porque não tenho dinheiro nem herança para deixar. O meu marido morreu com 55 anos e deixou-me 22 contos, que ele ganhava 44. Batia-me muito, numa ocasião matou-me uma filha na barriga de tantos pontapés que me deu no chão. Eu criei-os a todos. Graças a Deus estou fina, e não sou sozinha, ando com Deus.

(...)

Outra senhora que entra e se junta à conversa:

- Pois olhe eu já tenho 90! E sabe de onde venho? Do calista, fui arranjar os meus pés! Que a gente quer é andar e viver! 

(...)

Por esta altura já havia um silêncio importante no autocarro. Alguns jovens estudantes e adultos de idade madura entreolhavam-se calados. A sensação que tenho é que um dia, esta qualidade muito estilo nortenha de gente, acaba-se. Fiquei o resto do dia a pensar naquela conversa, e nas saudades imensas que tenho de praticar a escuta ativa nas minhas conversas em contexto terapêutico. Histórias de Vida: não há nada mais enriquecedor do que perscrutar o comportamento humano no que lhe tocou viver.

"Uma igreja que não se moderniza,

morre."
Foi assim, com esta frase pequenina e simples, que cá em casa a minha meia laranja definiu aquilo que vimos acontecer estes dias. Uma igreja-rato, que se esconde. Que não defende os oprimidos, contra tudo e contra todos. Uma igreja que se camufla em burocracias de quem se está mesmo a ver que podendo, tantos séculos depois, faz o mesmo que fez Pôncio Pilatos: lavar as mãos perante a crucificação de Jesus.

(...)

Vocês acreditam em milagres?

Ontem adormeci a pensar nisso. De uma forma muito objectiva. Sobre quando foi a primeira vez que presenciei um milagre a acontecer-me. Sem contar com o meu nascimento, é claro. Era miúda, teria uns seis anos. Foi no fim da escadaria de uma igreja em Oleiros. Não vem ao caso o que me aconteceu, mas hoje, quarenta anos depois, continuo a não encontrar explicação para o que me aconteceu. E se não me tivesse eu esquecido muitas vezes desse dia, teria mais confiança em tudo daí por diante. Depois aconteceram sucessivas sortes grandes, na vida de uma miúda que muito facilmente poderia ter dado errado. As duas ou três pessoas fora de série com quem cruzei, com particular destaque para o dia em que ocasionalmente conheci o pai da Maria. Para o facto de nos perdermos e voltarmos a reencontrar quase quinze anos depois. O momento mais alto, o nascimento da Maria. Cada porta que se fechou e cada porta que se abriu.

Não. Não tenho nada a temer. Tenho a certeza absoluta que existem milagres e que é dentro do nosso coração, das nossas vontades férreas e desejos destemidos, que eles se cozinham. E é tão poderoso e certo e inexplicável e justo o que vos digo, que milagres acontecem todos os dias, para todos, em qualquer parte do mundo.

Declaração de Amor

Enquanto brincávamos:

- Mamã, tu és a minha boneca mais grande de todas.

(...)

Das minhas favoritas


De sempre.

Foi assim este fim de semana

Fiz aquilo que eu sei que resulta sempre: quando os pensamentos nos carregam a nuvem mental, responder com acção. Sem sair de casa, acabei por fazer uma data de coisas e fiquei a sentir-me melhor comigo mesma. A melhor parte foi que cuidei das cinquenta plantas que vivem neste apartamento; já era hora de alimentar aquelas alminhas que na verdade a maior parte do tempo cuidam de mim. E finalmente destronei a pilha de roupa à espera do ferro. Ainda consegui brincar com a Maria e ver um filme. Já fora de horas e na cama, ainda consegui aprovar no primeiro exame dos seis cursos de Gestão de Projectos.

Perdi a exposição de camélias, é verdade. Mas a vida é feita de prioridades, só isso, sem dramas.

Alguns dias não são nada fáceis para mim. Sem que nada monstruoso me tenha acontecido, sinto-me à deriva. Pela correria louca todas as manhãs - roubaram-me a paz incomparável das manhãs para sempre e eu sinto-me perdidamente à toa por causa disso. Seja porque a Maria faz um xixi inesperado no caminho - estamos já a viver sem fraldas - e chega toda molhada ao colégio. Seja porque tenho a casa virada do avesso e continuo a procrastinar porque a verdade é que não me apetece - não há ânimo - para sequer soprar o pó das coisas. Ou porque nem a bolsa que ganhei para fazer Gestão de Projectos me anima, de tal maneira que confesso que preferia não ter sido selecionada. Ou ainda porque já tenho mais 2kg neste lombo e a situação começa a virar karmica e assusta-me. Ou por causa de todos os mil pensamentos que me cansam a mente todos os dias, algumas vezes até à exaustão, pela minha condição de mãe à qual acrescento a minha condição de desempregada.

Enfim. Hora de dar um murro na mesa. De enfrentar todas as pequeninas situações e trepar todos os muros invisíveis que construi à minha volta. Preciso de respirar. De mudar a minha cara e a minha disposição. Eu sou uma privilegiada neste mundo torto e só por isso, chega. Chega de lamentos miúda. Faz-te à vida, porra!

Bom dia Vida


Gosto de revisitar lugares onde sempre que volto sou tão feliz.

Sobre a Esperança

Nos dias que correm, Esperança é como pão ou água para a boca. Quando encontramos pessoas boas, desinteressadas, genuinamente interessadas no melhor para o mundo e para todos, pessoas verdadeiras e profissionais, eh pá! de repente nós mesmos ficamos melhores pessoas também. E disso se trata, do que cada um consegue despertar em cada um.

Uma coisa muito boa que me tem acontecido é que tenho encontrado pessoas fantásticas no mundo do Recrutamento e Seleção. Hoje especialmente, tive uma conversa cheia de Luz. É a sensação boa de estar a lançar sementes novas.

Who knows?

 


Não há, em mil mundos, Amor que se compare. És muito mais do que uma carreira brilhante, um portfolio de viagens, ou a minha alma de gato e os meus momentos a sós que sempre valorizei tanto. 
Só contigo aprendi que a Vida é o maior segredo.




Continuar a ver a serenidade com que a vida natural se impõe, às seis da tarde, desde a janela da nossa cozinha. Perceber que há um mistério profundo quando coisas grandes se alinham. Não sou muito crente nos acasos. Gosto de respirar fundo nestes momentos a sós, em que o trânsito louco da cidade fica um burburinho lá ao fundo, bem lá ao fundo de mim e dos meus pensamentos. Gosto desta paz pequenina pela qual estou tão grata, neste mundo de pessoas aos tiros.

(...)