"Ai WeiWei desvenda "1000 Anos de Alegrias e Tristezas", a biografia em que fala do pai e do filho. E de como ficou emparedado entre eles." Expresso
Expressão da minha terra que significa coisas tão diferentes e opostas como repugnância, enfado, surpresa, alegria, alivio, espanto. Expressão que me lembra a minha avó e me une à minha África-berço que não conheço. Uma palavra inteligente, que obriga a interpretar por inteiro a frase, incluindo a entoação e o sorriso ou a interrogação que dela fazem parte.
O ano a terminar
"Não sei se já vos é nítida, aos meus olhos pôs-se nítida a ausência dos velhos. Os que morreram e os que se confinam (...)" Valter Hugo Mãe, in Cidadania impura
Reparei nisto no outro dia na missa. Teve mais impacto em mim do que é costume, ver tantas cabeças cobertas de branco. Talvez porque afinal no dia a dia já não veja tantas como era costume. Isto representa um vazio muito grande nas famílias, perda de sabedoria e perda de amparo. Perdas de valor incalculável na educação especial das nossas crianças, porque não há nos dias de hoje pais que substituam os avós.
Natal
Dizer-te Maria, que a mamã apreciou muito o teu carinho especial em relação à figura do Menino Jesus. Que ainda não tens 2 anos mas descobriste no primeiro minuto que o Pai Natal que nos entrou em casa, era afinal o avô Zé. Rimos muito mas eu fiquei triste: quero que Acredites. Abriste tantos presentes - demasiados - que a dada altura pensei e senti que não é nada daquilo que eu quero para ti. Por mais que me digam que és pequenina e que é assim mesmo. Ganhaste muitos livros - aspecto positivo. Recebeste dos teus avós a prenda mais linda do mundo: uma pulseirinha que foi do teu pai quando era pequenino como tu, e um fio que a tua avó ofereceu ao teu avô quando namoravam e que ele levou com ele para a guerra no Ultramar e perdeu e achou de novo.
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O Nelo ligou-me hoje, para desejar Bom Natal: Grande. Senti-me particularmente triste e cansada este Natal. Confesso que senti falta de que alguém me fechasse num abraço apertado. Como se o Amor ficasse uma coisa amorfa, sem quentinho nem magia. Lá em casa, do outro lado do mar, passaram bem; pelo menos a mãe está outra vez próxima das minhas irmãs e sobrinhos.
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Hoje assisti a uma missa e caminhei por ruas vazias, iluminadas.
Vicks vaporub
Voltar a usar este bálsamo depois de tantos anos, deixou-me uma saudade nostálgica da minha mãe e dos meus irmãos, de quando éramos pequeninos. Quando nos fazemos mais velhos, damo-nos conta de que até os dias mais difíceis da nossa infância, podem aflorar-nos na memória com uma espécie de doçura.
Um Dezembro sem cheiro nem sabor
No que vai de ano quase não choveu, agora em Dezembro tivemos um par de dias completamente primaveris apesar das manhãs muito frias. Para quem gosta de plantas como eu, para quem tem plantas de exterior, sabe o quanto elas estão numa aparência de estranha agonia, nem estão bonitas nem ficam feias de uma vez, estão num meio termo que parece compasso de sofrimento. São tão precisas as chuvas que acho que vai ser um dos meus pedidos este Natal.
Sobre os presentes, nem é desculpa nem dá muito jeito mas não consegui comprar nada além de uns livros à Maria. Dei um salto a Santa Catarina e um mar de gente à procura do espirito de Natal no meio das luzes e do fumo das castanhas do vendedor que lá anda, fizeram-me fugir.
Cá em casa estamos todos doentes com uma gripe como nunca tivemos. Vacinas e testes para a frente e para trás mas é neste ponto que estamos. Nunca antes fiquei com os brônquios neste estado. Apesar de ter perdido o olfacto e o paladar, estranhamente os testes dão negativo. Vamos passar ao antibiótico e ver no que isto dá.
De resto dizer-vos que este ano não quero o Natal. Sinto-me triste, cansada, vazia. Apesar de termos uma criança em casa, alguém que eu amo muito vive os seus últimos dias numa cama de hospital. E não há nada, mesmo nada, nem mesmo o Natal, que supere essa tristeza. No outro dia com a morte do Rogério Samora dei por mim a pensar que cada vez que nos morre alguém que faz parte da nossa história ou da nossa geração, ficamos nós também um pouco mais próximos do fim.
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Do que eu tenho medo
Que a minha filha não goste de livros. Que algum dia para ela o centro do mundo comece naquele pequeno umbigo que Deus lhe deu.
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O mistério insondável da Vida
As primeiras chuvas a sério chegam tarde para o que é habitual aqui no norte. Os dias ficaram bem pequeninos quase de repente - não foram ficando -, tudo o que é vidro está embaciado a toda a hora, todos os tons de cinzento bailam lá fora na rua, as árvores entregam-se vencidas numa procissão silenciosa de nudez. Durante muitos anos achei o Inverno uma estação bem triste, já não acho mais. De tal maneira que algo em mim sentia a falta destes dias de maior aconchego, de olhar mais dentro mais fundo, de no escuro plantar luzes, de beber um vinho tinto e sentir glória. Todas as estações são belas. Todas cumprem uma função ímpar em importância.
Só há um cansaço estranho no ar. De tudo, até mesmo do Natal.
As novas janelas do vírus
Estou numa fase difícil da minha vida. Nunca antes me tinha sentido vitima de assédio laboral. É um palavrão feio demais, e eu nunca tive perfil de vitima; eu nunca pensei também que um dia fosse acontecer comigo.
Primeiro foi logo que apareceu o vírus, a Maria acabada de nascer: uma proposta de redução do meu salário em 25%. Propus baixarem 50 euros e a resposta foi que isso não era significativo para a empresa. Algum tempo depois chegou a proposta de redução de folgas, que obviamente numa fase precoce da minha primeira viagem de mãe, neguei. Depois chegaram as situações dúbias e sem mais chegaram também as caras amarradas, de quem se pudesse não cruzaria mais comigo. Tudo o que eu sempre fiz com a mesma atitude durante cinco anos, de repente está sempre errado como se fosse a coisa mais grave do mundo. Até que ontem fui tratada literalmente como uma catraia que não sabe onde está a mão esquerda ou a direita. Á frente de colegas, com uma atitude do mais hostil que possam imaginar. Tenho 43 anos e foi a primeira vez em contexto de trabalho que passei por algo assim.
Á conversa com a minha médica, percebi que é comum acontecer. Com esta história da pandemia, patrões nervosos, sem poderem despedir, acontece ainda mais. Que entre outras coisas, é a forma mais económica de um empresário se ver livre de funcionários. E que a minha saúde se prejudica muito com o desgaste num braço de ferro absurdo. Em ultima análise este mau estar atinge a minha filha e isso para mim é a gota de água.
As coisas só nos magoam assim quando as pessoas envolvidas são pessoas que um dia admiramos tanto. Porque nem para todos tudo gira apenas à volta do dinheiro neste mundo.
Por mais que eu tente não ver, já não dá mais para ignorar.
Pensamentos baixinho, de mim para mim
Ao ouvir o Dr. Lair Ribeiro esta semana, dei-me conta de que ambos têm sucesso mas só um é bem sucedido, é que são coisas bem diferentes.
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A Vida
Chovia tanto quando cheguei com a Maria em braços à praça de táxis. O ultimo carro acabava de ser ocupado por um senhor de uns 70/80 anos. Ao ver-me chegar voltou a sair do táxi e disse: A menina vai primeiro, tem uma criança ao colo. Agradeci muito e não hesitei, mas antes de fechar a porta perguntei-lhe para onde ia porque se ficasse em caminho deixava-o ficar no percurso da minha viagem. Agradeceu, acenou, sorriu e disse: Vá descansada mãe, eu tenho tempo. Vocês sabem a quantidade de gente que fingiu não ver a minha barriga de grávida em simples filas de supermercado?
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Ontem ao sair do bus e esperar o semáforo verde abrir, também com a minha filha ao colo, alguém ao meu lado, um senhor também já na casa dos 70, sorriu e disse: Você tem uma menina mesmo muito linda sabe. Só que você tem uma cara muito triste. Respondi que tinha tido um dia difícil no trabalho e estava triste mesmo. Aquele senhor disse então num sotaque brasileiro: Pois é, mas não pode deixar que roubem um sorriso que é o da sua menina, esse você tem que ter sempre para ela.
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Comove-me tanto esta elegância na educação. Talvez porque já não se encontre muita gente assim.
Não sou, de todo, negacionista. Tomei as duas doses da Pfizer e tinha muita esperança de não voltar a ver os noticiários abrirem com esta mesma conversa sobre o fim do mundo a aproximar-se. Não sou negacionista, tenho por hábito pensar sobre o mundo ao meu redor. Vislumbro que em Janeiro me vão querer dar a terceira dose e juro que tudo isto começa a não fazer sentido nenhum. Tantas vacinas de sabe-se lá bem o quê, em tão pouco tempo, para quê afinal?
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43
Anunciavam chuva para hoje, mas amanhecemos com mais um dia de Sol e céu azul, o que para mim foi o um belo presente de aniversário. De resto a ameaça do Covid entrou-nos pela casa adentro e devido a um caso no Colégio da Maria, temos a bebé em isolamento profilático, pelo que estamos fechados, mas na paz da nossa casa e com abraços bons para partilhar entre nós. Logo cedo liguei à minha mãe para lhe agradecer a Vida que ela me deu e o Amor grande que ela é na minha história. Vou aproveitar uma parte do meu dia para fazer mais um módulo de uma formação na OPP (A intervenção do Psicólogo com comunidades LGBTQ). Vou preparar um banho relaxante para mim e para a Maria. Vamos dormir mais uma sestinha bem agarradinhas. E vou mesmo aproveitar o sossego bom de um dia assim em casa, com as pessoas mais importantes do meu mundo presentes para mim.
Sinto que isto está tudo a passar muito rápido. Acuso um cansaço que não sei se é dos 40 ou só mesmo da correria desenfreada da vida a pesar. Mas olho para o percurso e estou feliz e grata a Deus: alcancei coisas importantes.
Aos 43 sei que são mesmo as coisas mais simples que nos fazem mais felizes.
Saúde, para poder continuar.
As cores
A árvore de Natal
Este meu Novembro
Deste lado do mundo, trouxe-nos os dias mais bonitos do ano. Apesar das adversidades, Novembro está a ser um mês para renascer. Cheio de luz e de cor, Novembro traz bom presságio. Um mês sem dramas: olhar as coisas de frente, sem nunca me esquecer de quem sou eu.
Um mês de foco, ainda vou a tempo na recta final do ano: inscrevi-me em duas formações na Ordem para que o ano não termine em branco. Voltar ao reiki. Encontrar uma hora nos meus dias para abraçar os amigos. Reaprender a respirar.
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Bom dia Vida
Sobre Novembro
Depois de um Outubro absolutamente generoso em dias de Sol, eis que Novembro nos traz o mais bonito verão de S. Martinho. Um presente para nos enchermos de certezas:
"be a source of good life to everyone around you"
A minha filha
Nossa Senhora, que Amor maior. Que cresce e cresce e não para de crescer. E me ensina definitivamente que o Amor não tem tamanho mensurável ao entendimento dos Homens.
E que nos salva e nos faz felizes, acima de todas as coisas.
Sobre as crises em Portugal
Certezas no percurso
Não esquecer o que construímos juntos. As vezes que nos sentimos mais seguros e confortáveis pelo simples facto de estarmos lado a lado. O sabor da partilha nos dias mais felizes. Manter a diplomacia e a educação seja qual for o rumo das relações que sabemos de cor que um dia foram bonitas. Manter a diplomacia e a educação, mesmo que a outra parte não o faça.
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Outono
O que dizer deste Outubro generoso
Pergunto-me amiúde se sou só eu a sentir um profundo desencanto e desconforto com o mundo como ele vai. Parece só uma bola obesa que definitivamente se nos escapou das mãos, num emaranhado de gente cada vez mais aparvalhada.
(...)
A boa noticia é que finalmente sinto e sei que saí da roda do rato, essa que desde o inicio do ano tem sido o grande grilho para mim.
Duas mãos capazes
e um coração que não desiste. Dos dias grandes, feitos de sol e gargalhadas. Desse lado B da vida que por vezes é tão de dura persistência na conquista.
Sabem aquela história do cair duas vezes e levantarmos-mos três? Havendo saúde, serei sempre feita dessa massa. É por isso que pela primeira vez, aos meus 42 anos de busca e crescimento, resolvi procurar e aceitar ajuda. Uma ajuda que ando a evitar desde que nasceu a minha filha. Mas porque não aguento o peso do mundo no meu regaço - por tantas razões - resolvi inverter a vertigem acelerada cá dentro. Aprendo as pausas necessárias entre stops e nãos, tão importantes e necessários quanto os sim. Aprendo que o mundo dos outros não é mais importante nem urgente do que o meu. Aprendo uma coisa tão simples como não dar importância ao que afinal não a tem.
Vão ser seis meses de um caminho que para muitos ainda representa estigma e vergonha. Para mim é só uma questão de saúde, de bem estar, de verticalidade comigo mesma, de querer ficar bem, de ser melhor para todos, em especial para a minha Maria e para o meu Luís.
É bom demais
Ficar junto dos meus: o Amor da minha mãe e as gargalhadas dos meus sobrinhos. Viver dias grandes cheios de Sol e de uma Luz para além das palavras. Amanhecer com a canção do mar. Sentir a pele dourar e o sal colado ao corpo todo o dia. Ver a minha filha Feliz, vê-la crescer tanto numa só semana. Goiabas e o cheiro delas a perfumar a casa. Os braços do meu amor como a minha muralha-fortaleza.
É tão bom Viver.
Chegaram as nossas férias
A roda do hamster
Ando muito cansada dos dias todos iguais. Ás vezes até bate uma tristeza miudinha, porque eu sei que isto que temos no agora vale muito e passa depressa. Então parece que sou eu que não estou a saber viver bem a vida e a culpa é uma coisa pesada de se carregar. O momento mais difícil do meu dia são sempre as manhãs, eu que sempre adorei as manhãs. Entro num processo de me não reconhecer e prometo a mim mesma que vou mudar tudo isto porque agora tem mesmo que ser: eu já não aguento mais. E depois misturam-se aquelas questões de uma vida a dois: mudar um já é difícil, mudar dois então! Mas se tiver que mudar sozinha começo aí uma bifurcação de caminhos que leva tantos casais a nunca mais se encontrarem: tenho pensado muito nisso nos últimos dias. Não quero ter que resolver coisas difíceis sozinha, só porque é mais confortável para o outro lado. Não deveria sequer existir essa coisa de o outro lado.
Eu quero comer pão fresco de manhã, eu quero tomar o café da manhã sossegada, eu quero chegar ao trabalho a horas, sem desgaste e sem stress. Nas folgas eu quero ler o jornal. Eu quero ver o mar pelo menos uma vez por mês. Eu nem sei mais o que é um banho de imersão ou uma ida ao teatro. Eu quero tempo com as minhas amigas.
Sou eu que preciso de despertar. E quando leio sobre isso, que a vida de todas as mães é assim mesmo, lembro-me de pelo menos duas que conheço, mães recentemente, que vão almoçar com uma amiga, que vão ao cinema, que vão ao teatro, que vão ao cabeleireiro, que vão ao raio que as parta, mas vão!
Chovam criticas. Como dizia a Duquesa de Alba: a mi me importa un pepino.
A vida é breve demais. E não é esta a mensagem que quero passar à minha filha: a de uma super mãe que afinal nem tinha tempo para ser feliz. É sobretudo por ela - pela Maria - que eu preciso de abandonar esta roda.
A primeira reunião no Colégio da Maria
Eramos 17, um número importante nesta casa. Entre tantas mães cheias de duvidas e perguntas, havia dois pais: igualmente interessados e interventivos.
(...)
O lado B da Vida
No meio do sufoco dos dias, há forças invisíveis que nos seguram. Nunca perder de vista a grandeza superior das pequenas coisas.
Tanta coisa a acontecer
Aquele vulcão em Canárias. Nunca saberei explicar a ninguém o quanto eu adoro o Timanfaya em Lanzarote e o ar que se respira em terras vulcânicas. O quanto eu me identifico com tamanha proximidade às forças mais pulsantes da natureza, o quanto eu realmente compreendo aquela gente que apesar do risco escolhe e ama viver ali, no sopé de montanhas que guardam fogo dentro. O quanto para sempre, fiquei a pertencer a Fuerteventura como se ali tivesse nascido. Ao mesmo tempo uma tristeza grande e velas acesas por toda aquela gente que perdeu tudo. Por mais que sejam tudo só coisas, que o são. Mas nós não sabemos disso até que se viva dias assim. Vivemos para casas e carros, e um dia tudo o vento levou. Pensar que vizinhos da ilha ao lado pagam quinhentos euros para ir e vir, só para espreitar ao vivo o vulcão em erupção, e outros lá apenas com a roupa do corpo e sem perspectivas. Pensar que uns oferecem casas a quem perdeu tudo e outros in loco aproveitam para aumentar o aluguer das casas. É nesta disparidade gritante que o comportamento humano indicia que temos sempre muito a crescer e a aprender com todas as lições que a natureza nos dá. Por mais doloroso que seja. / E de resto o medo imenso porque os meus pais vivem ali ao lado. E dentro de dias viajamos para os visitar.
Mais uma amiga que perdeu a mãe. Palavras para quê. A dor quando é assim grande, transforma todos os conceitos e perspectivas. É ao mesmo tempo, a morte e o fim da vida, a marcarem inexoravelmente um definitivo nosso para lá da idade adulta. Um lugar que nem tem nome, para o qual nunca ninguém nos soube preparar.
As eleições. Sair do trabalho, exausta pelos dias e pela vida, e ir numa corrida votar, já na curva final da tarde. Porque ainda acho que não há outro caminho, e porque tenho - felizmente - as minhas opções de voto muito bem definidas. Um apelo a quem quer que ganhe: por favor não continuem a fazer vista grossa ao problema dos sem-abrigo nesta cidade. É muito grave, e muito triste. E resolvam sem demora o trânsito caótico numa cidade tão pequena; torna-se saturante começar e terminar os dias com tanto stress.
Uns picos baixos de energia que me andam a preocupar. Como uma bateria que pisca e já não vamos a tempo: ando a viver esta sensação no meu corpo duas vezes por dia. Carradas de açúcar e seja o que Deus quiser. Alem disso, só sérias suspeitas de uma menopausa muito precoce.
And the last but not the least: o colégio da Maria. Tem sido uma boa surpresa. É mesmo boa a sensação de termos acertado, especialmente no que diz respeito aos nossos filhos.
Jorge Sampaio
É particularmente significativo no mundo actual, a perda de qualquer homem ou mulher que tenham empreendido lutas em nome da Liberdade e da Solidariedade.
No meio de tanta saliva gasta sobre a pandemia e os vírus
É reconfortante saber que alguém estuda as coisas muito a sério. E que perspectivas mais inteligentes por fim afloram:
Setembro
O mês de agarrar a luz com a alma. O mês certo para definir e estabelecer as regras de um novo recomeço.
Ainda cheira a férias, e os morangos ainda são doces.
(...)
Muito mais do que Amor
Apercebi-me da chegada do Outono logo nos primeiros dias de Agosto. É sempre assim, ele chega bem mais cedo do que os livros e os professores nos ensinaram. De certa forma perco um pouco do Verão nesta extrema sensibilidade que aguça a perceção. É assim com todas as coisas.
Eu tenho pena de sentir assim.
Afeganistões da nossa História
Angustias
Não sei nada sobre a juventude de agora. Não sei como é que eles se divertem, não sei no que acreditam. Olho para a minha filha e apenas quero que ela seja - mesmo - uma boa pessoa. Vou procurar dar-lhe a educação mais cuidada que estiver ao meu alcance, mantendo-me sempre alerta de que no futuro as escolhas dela podem não ser sequer parecidas com as que eu e o pai possamos almejar. E não, para mim não importa só que ela seja feliz; importa sobretudo a qualidade de ser humano que ela será. E preciso rapidamente de recuperar anos, de voltar aos livros e dessa forma crescer em silêncio como as plantas: para aliviar este fosso de uma falta de conhecimento sobre quase tudo, que me abafa e me preocupa nos últimos tempos.
Por mim e pela Maria.
Essa coisa de irmãos
Que se amam, que se dão bem, que se protegem, que se preocupam, que partilham, que são a fortaleza do outro, que hão-de sempre ser miúdos quando se juntam, eu não sei o que isso é.
Somos quatro. E a dor dessa fartura que afinal é nula, eu nunca saberei explicar a ninguém. É como se me morresse alguém todos os dias, cada vez que eu sinto a falta deles. Mas o tempo e a vida são assim mesmo, apertam uns laços e afrouxam outros.
(...)
Saúde mental
Sempre tive mais medo das limitações mentais do que das físicas, pelo simples facto de que as mentais são mais sujeitas a maior imprevisibilidade no que diz respeito a cura. Quando de repente todos os becos são sem saída, quando só queremos descansar e dormir, quando já nem sequer queremos falar com ninguém, quando nos sentimos incapazes e a falhar em todas as áreas da nossa vida - e temos tudo para afinal estarmos bem mas porra não conseguimos estar - quando deixamos de perceber aquele rasto branco dos aviões no céu do verão, porque já nem olhamos nem reparamos mais, talvez seja hora de pedir ajuda.
Casa de ferreiro, espeto de pau.
Coisas boas a acontecer
O Cantinho do Zeca, transmitido pela RTP no dia 2.
Muito especial ver a nossa extraordinária juventude do mundo da musica actual cantar aquele que foi a voz da Liberdade. Nos tempos que correm, teve para mim um sabor especial. Há tantas formas bonitas de lutar, de nos exprimirmos.
(...)
Palavra para o mês de Agosto
Catarse.
Substantivo feminino, com origem filosófica, provem do grego Katharsis.
Significa libertação do que estava reprimido ou sensação de alivio causada pela consciência de sentimentos; limpeza ou purificação pessoal.
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Cansada
Isto a que chamam de pandemia faz-me perceber o quão dramáticos eram afinal o coelho branco com o relógio - sempre com uma pressa desalmada que ninguém entendia - e o gato sorridente com ares de alienado, da Alice no país das maravilhas.
(...)
Há muito tempo que o meu coração não se enchia assim, como num passe de mágica. Espreitei a minha menina de apenas ano e meio de vida, num daqueles momentos de silêncio muito típicos de quando as crianças estão a fazer alguma asneira, a pegar num porta-retrato com uma fotografia minha abraçada ao pai dela, literalmente a encher-nos de beijinhos.
Foi a coisa mais linda de sempre.
Da absurda leviandade do ser humano
Sobre os dias
Morreu-me a sério a vontade de escrever. Durante um bom tempo foi de um silêncio vital para mim que aprendi a segurar as pontas. Sabem aquela coisa de dias maus e pesados, em que só podemos mesmo ter a ousadia de vencer apenas um de cada vez? Foi um cansaço acumulado, uma falta de sal todos os dias a roubar o sabor à vida, uma tristeza miudinha a moer e a matar.
Malgastamos os dias. Morremos de medo de tudo. Da morte. Da falta de saúde. Da falta de dinheiro. Da falta de afecto. Da falta de sonhos. Da falta de tesão. Descobri nos últimos tempos que tenho medo a sério da falta de educação e da falta de sensibilidade.
Além da pobreza que cresce de forma alarmante nas ruas, é sobretudo uma certa indiferença colectiva ao aumento da miséria humana no estado mais grosseiro e chocante de sempre, que realmente me perturba.
Entre algumas coisas que me inquietam, está o facto de me sentir misturada com a corrente do rio.
(...)
Fé e certezas
Uma nova etapa
Abrir as janelas de par em par, deixar a pouca luz de sol de um Abril águas mil, entrar. Vestir esta casa de branco, caminhar nela descalça, ficar nua. Faz parte do meu show, esta coisa de abrir mão da plateia.
Recomeçar.
Flash
Acho incrível que alguém acredite que a seguir fazemos férias, tiramos as máscaras, e fica tudo resolvido. Tomem bem nota, que os nossos filhos agora pequeninos, ainda cá andarão a tentar resolver no futuro as sequelas deixadas por esta pandemia.