A roda do hamster

Ando muito cansada dos dias todos iguais. Ás vezes até bate uma tristeza miudinha, porque eu sei que isto que temos no agora vale muito e passa depressa. Então parece que sou eu que não estou a saber viver bem a vida e a culpa é uma coisa pesada de se carregar. O momento mais difícil do meu dia são sempre as manhãs, eu que sempre adorei as manhãs. Entro num processo de me não reconhecer e prometo a mim mesma que vou mudar tudo isto porque agora tem mesmo que ser: eu já não aguento mais. E depois misturam-se aquelas questões de uma vida a dois: mudar um já é difícil, mudar dois então! Mas se tiver que mudar sozinha começo aí uma bifurcação de caminhos que leva tantos casais a nunca mais se encontrarem: tenho pensado muito nisso nos últimos dias. Não quero ter que resolver coisas difíceis sozinha, só porque é mais confortável para o outro lado. Não deveria sequer existir essa coisa de o outro lado. 

Eu quero comer pão fresco de manhã, eu quero tomar o café da manhã sossegada, eu quero chegar ao trabalho a horas, sem desgaste e sem stress. Nas folgas eu quero ler o jornal. Eu quero ver o mar pelo menos uma vez por mês. Eu nem sei mais o que é um banho de imersão ou uma ida ao teatro. Eu quero tempo com as minhas amigas.

Sou eu que preciso de despertar. E quando leio sobre isso, que a vida de todas as mães é assim mesmo, lembro-me de pelo menos duas que conheço, mães recentemente, que vão almoçar com uma amiga, que vão ao cinema, que vão ao teatro, que vão ao cabeleireiro, que vão ao raio que as parta, mas vão! 

Chovam criticas. Como dizia a Duquesa de Alba: a mi me importa un pepino. 

A vida é breve demais. E não é esta a mensagem que quero passar à minha filha: a de uma super mãe que afinal nem tinha tempo para ser feliz. É sobretudo por ela - pela Maria - que eu preciso de abandonar esta roda.

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