As novas janelas do vírus

Estou numa fase difícil da minha vida. Nunca antes me tinha sentido vitima de assédio laboral. É um palavrão feio demais, e eu nunca tive perfil de vitima; eu nunca pensei também que um dia fosse acontecer comigo. 

Primeiro foi logo que apareceu o vírus, a Maria acabada de nascer: uma proposta de redução do meu salário em 25%. Propus baixarem 50 euros e a resposta foi que isso não era significativo para a empresa. Algum tempo depois chegou a proposta de redução de folgas, que obviamente numa fase precoce da minha primeira viagem de mãe, neguei. Depois chegaram as situações dúbias e sem mais chegaram também as caras amarradas, de quem se pudesse não cruzaria mais comigo. Tudo o que eu sempre fiz com a mesma atitude durante cinco anos, de repente está sempre errado como se fosse a coisa mais grave do mundo. Até que ontem fui tratada literalmente como uma catraia que não sabe onde está a mão esquerda ou a direita. Á frente de colegas, com uma atitude do mais hostil que possam imaginar. Tenho 43 anos e foi a primeira vez em contexto de trabalho que passei por algo assim.

Á conversa com a minha médica, percebi que é comum acontecer. Com esta história da pandemia, patrões nervosos, sem poderem despedir, acontece ainda mais. Que entre outras coisas, é a forma mais económica de um empresário se ver livre de funcionários. E que a minha saúde se prejudica muito com o desgaste num braço de ferro absurdo. Em ultima análise este mau estar atinge a minha filha e isso para mim é a gota de água.

As coisas só nos magoam assim quando as pessoas envolvidas são pessoas que um dia admiramos tanto. Porque nem para todos tudo gira apenas à volta do dinheiro neste mundo.

Por mais que eu tente não ver, já não dá mais para ignorar.

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