Esta semana no final de um tratamento, ouvi as terapeutas falarem sobre mim e a minha espiritualidade, sem que elas se dessem conta de que as escutava. Teve tanto impacto em mim, como se há muitos anos eu andasse em busca desta resposta. Descobri porque desde sempre, gostei tanto, em particular de um poema. Descobri finalmente de onde me vem tanta tristeza sem explicação:

Retrato de uma princesa desconhecida

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária, exilada, sem destino.

Shopia de Mello Breyner Andresen

Sem comentários:

Enviar um comentário