Um Porto sem vitalidade

Numa volta de carro pelo interior das ruas e ruelas da cidade, em pleno Junho, num domingo de sol, percebemos tão bem que as consequências desta pandemia não foram e não são brincadeira nenhuma. 
Não conseguimos no dia a dia comum, não somos os suficientes, para ser mar de gente a dar vida ao centro da cidade. O Porto fica quase cidade-fantasma sem os turistas, há uma certa tristeza em todo aquele vazio e silêncio que impera da ausência deles, as ruas parecem grandes demais, como uma roupa que de repente já não nos assenta tão bem. O coração aperta um bocadinho porque sentimos qualquer coisa em surdina a dizer-nos que sem eles não vamos aguentar. Para quem tem memória, éramos uma cidade quase sem vida, a lutar com bolas de naftalina contra o cheiro a mofo. Éramos uma gente cinzenta e deprimida, para aqui esquecidos num pontinho do mapa; éramos mesmo.
Alguma gente lamentava que os turistas nos tivessem roubado a cidade, conseguindo até bem argumentar, o que eu respeito. Mas eu acredito em todas as coisas melhores que eles nos trouxeram: maior criatividade, beleza que sempre tivemos mas de repente foi como se através dos olhos deles nos víssemos mais belos do que nunca, projecção no mundo, crescimento económico, até mesmo mais dignidade. Deixamos de ser tão cinzentos, passamos a valorizarmos-nos mais, vimos a cidade lavar a cara em tantos cantinhos outrora abandonados. 
Um Porto que apenas sobrevivia, passou a crescer. É dessa cidade saudável que sinto a falta. Dessa azáfama de gente, desse burburinho bom da vida a acontecer.
(...)

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