Vale a pena ver. O Miguel é um dos poucos rebeldes que nos restam. Diz muita coisa acertada. Quero dizer: que a mim me parece bem.

Tão bom

Sobre a amizade e o amor


Há alguns anos que não me canso de ver.

O grande Eduardo Galeano


Voltar a ler. Voltar aos meus autores de cabeceira.

Sobre as pedras no caminho

E sobre aquilo que quero incutir à minha filha:

No fim de semana à conversa com o pai dela, demos por nós a olhar para o mar, embevecidos pela sua terapêutica canção forte que parecia uma coisa do além. Se não fosse o seixo, o mar cantaria assim?

Podemos nunca ser capazes de construir castelos com as nossas ruínas, mas podemos sempre - vamos sempre a tempo - de fazer bem, de fazer melhor.

Poeminha para descontrair

Não fossem as minhas incursões noveleiras. Cheguei aos 44 sem antes ter tropeçado nesta pérola:


História natural

Cobras cegas são noctívagas.

O orangotango é profundamente solitário.

Macacos também preferem o isolamento.

Certas árvores só frutificam de 25 em 25 anos.

As andorinhas copulam no voo.

O mundo não é o que pensamos.

Drummond de Andrade

É só mais uma


Faz-me um bocadinho de confusão esta nossa forte e tendenciosa capacidade de associativismo pelas dores do próprio umbigo, estendido às causas da moda. É que ninguém se junta por todos, já vimos que não. Mas grupinhos que ainda que também injustiçados, continuam a ser uns privilegiados neste país à beira-mar plantado, que montam o circo porque já não se aguenta, parece que não vivem no mesmo Portugal que eu. Será que não percebem que quase todos definham menos eles?
E certos defensores nas redes sociais, a bem das grandes e vaidosas verdades profissionais, que acham mesmo que é tão importante neste momento distinguir pedófilos de abusadores sexuais, porque é uma patologia senhores, e devemos respeito e consideração aos doentes. Fico cega e quase deixo de querer voltar a exercer a minha profissão. Devemos respeito às nossas crianças; em ultima análise os doentes respeitam-se em contexto profissional privado. Bem digo eu, que não tarda nadinha neste mundo normopata a pedofilia ainda há-de vir a ser considerada uma nova e normal vertente da sexualidade humana. Num mundo sinistro onde já nem podemos dizer o que pensamos, porque os abutres rondam para nos punir por qualquer palavrinha torta.

(...)

Aproveitem as poucas coisas boas. Já viram que sou fã: a garota não, é top.

Sobre os nossos telhados de vidro


Asqueroso mesmo, vomitivo, é à velocidade em que nos estão a transformar a todos em subsidio-dependentes. Aluga lá por 1300 euros, que eu dou-te 200. Ajudinhas piedosas para tudo quando o que as pessoas realmente precisam é de salários dignos, rendas que possam pagar sem esmolas do Estado, e no final sobrar um trocado para uns dias de férias. Ou não? Não. No meu país isso está a acabar-se. Estamos nós próprios, pessoas singulares, a transformar-nos em património do Estado.
Para cumulo deste azedume que trago dentro, ontem vi a reportagem da carrada de imigrantes que deixamos entrar para viver debaixo de uma ponte, em condições miseráveis e desumanas. 
E infelizmente a História não se repete, oxalá assim fosse:

"Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!"  
Salgueiro Maia, 25 de Abril de 1974

Começo a perceber agora, com um outro sentido mais profundo e mais sentido, o que aqueles Homens bravos foram capazes de fazer. Começo a sentir agora um respeito altivo pela Liberdade.

44 anos. Apetece-me emigrar. Apetece-me fugir.

Ucrânia



Quase um ano depois, as bandeiras ficaram gastas nas janelas.
Paulatinamente fomos percebendo que se fazem coisas tão atrozes como iniciar uma guerra, para durar ad eternum. Por maior que seja a solidariedade mundial, nós aqui no nosso cantinho por agora sossegado, mal sabemos do que viveu ou vive aquela gente. Seria impensável pensarmos que esta guerra iria durar tanto, uma guerra em que se continua a discutir vencidos e vencedores quando todos sem excepção já perderam. Estas coisas tenebrosas e inexplicáveis interessam e muito aos senhores que acreditam que mandam no mundo, mesmo que matem tanto numa guerra já de um ano, quanto a natureza mata em segundos. Eles, sejam eles quem forem, acreditam mesmo. Vivem ridiculamente com o rei nas ideias e nós somos espectadoras marionetas conformadas. Que nem sequer sabemos bem porque nos chocam mais os mortos da guerra na Ucrânia do que os mortos nos longos conflitos em outros lugares do mundo.
Mas hoje é sobre o povo da Ucrânia que estamos aqui a falar. Um povo que fica com marcas para os descendentes dos seus descendentes, porque uma guerra não se apaga da memória e dos comportamentos, só porque se vence ou só porque se perde. Os traumas continuarão a gritar dentro das pessoas, aquilo é terra queimada para muitas vidas. É pelo menos esta a vivência que me chega da guerra vivida em Angola pela minha mãe, que hoje já é velhinha e ainda tem pesadelos com o que lá viveu.
Gostaria só de dizer que hoje, quase um ano depois, não gosto da figura de nenhum deles. Nem do Putin, nem do Zelensky, nem do Biden, nem de nenhum outro. Nenhum deles me parece verdadeiramente interessado na Paz no nosso mundo.

Bom dia Vida

Desempregada há meio ano.

Continuar a confiar. Porque nunca, nunca mesmo, se me fechou uma porta sem que houvesse algures uma tal janela aberta de par em par para um lugar mais iluminado.

(...)


vi a minha vida na boca de um lobo

Quando os outros cuidam de nós

No sábado fiz caminhada com uma amiga-irmã. Que no meio de uma conversa, do nada, me disse que me considera uma boa mãe. Devo estar muito frágil porque aquela aprovação tocou num pontinho cá dentro, e fez a engrenagem desbloquear. Não vos sei dizer o quão importante foram para mim aquelas palavras.

(...)

Véspera de dias felizes

 



Pensar que temos uma Primavera novinha em folha a chegar. E a seguir um Verão, se Deus quiser com muito mar gelados e risos. Nunca fui mais destas estações do que das outras, mas agora com a Maria, subitamente dias maiores e iluminados são um tesouro incomparável.

Fim de semana de cura

 



Uma porção gigante de mar e parece que respiramos melhor.
Fomos muito felizes nestes dois dias. Obrigado meu Amor, pelo colo.
💚💚💚

Mommy burnout

Infelizmente o termo não é meu, mas bem que poderia ser.

Esta manhã percebi que não aguento mais. Ser inteiramente responsável por 975 das mil tarefas a que a Maria obriga, no meio do caos emocional que tem estado a minha vida (falta de emprego, falta de dinheiro, falta de tempo não sei como, falta de noites bem dormidas, cursos que não me interessam nada à mistura, falta de colo, falta de mim mesma), em alguns momentos de hora de ponta do meu dia, faz-me descarrilar. E o pior é que a Maria é um doce, é um Amor, e não merece a angustia de não compreender uma mãe à deriva. Ela coitadinha, cobre-me de pensos para curar os meus dodóis que ela não sabe muito bem onde estão. E não, nem que eu tenha que aprender a ficar calada o resto da minha vida, nem que eu tenha que aceitar só os dias assim uns a seguir aos outros todos iguaizinhos sem horizonte, a Maria não tem que passar por isto, não vai passar por isto comigo como se fosse uma adulta ou um escape.

É como se tudo o que eu mais amo me estivesse a causar esta exaustão. É triste e é terrível passar por isto e ter ainda que lidar com sentimentos de culpa. Porque tenho uma família perfeita, porque tenho uma filha linda, porque tenho saúde, porque tenho tanta sorte! Porque hoje deixei a Maria no Colégio e pela primeira vez, aos três anos, ela estava triste. No meio da festa de Carnaval e dos amigos alegres fantasiados e aos pinotes, ela, a minha bebé, estava triste. Vim embora a chorar e de coração partido.

O dia de hoje representa um limite muito importante para mim.

Às vezes só queria poder dormir sem hora para acordar. Alguém que me dissesse deixa estar que eu faço. 

(...)

Quero o colo da minha mãe.

Não posso deixar de comentar



Eu, que tenho acima de tudo e cada vez mais, Fé.

Veio a descoberto nos últimos tempos aquilo que é só a ponta do iceberg: os abusos sexuais na igreja. Durante alguns anos em contexto de consulta atendi muita gente, muita mesmo, com história de abuso sexual na infância. Continuamos todos os dias a ouvir casos. E o que esta comissão muito bem definida fez, foi obrigar a lei e a sociedade a deixar de esconder. Existem pessoas no activo na igreja e nas instituições que continuam a agredir, temo que essas pessoas vão existir sempre, da mesma maneira que agora nos damos conta de que sempre existiram.
O mais grave, e por isso é que isto é ainda só a ponta do iceberg, é que na minha opinião e pela minha experiência profissional passada, a grande maioria dos abusos às nossas crianças, continuam a acontecer no seio das próprias famílias estendido ao circulo de amigos próximos.
É isto que é chocante. Que muito provavelmente um dia vamos concluir que mais de metade da nossa sociedade sofreu abusos na infância. E com base nisto, queremos hoje bons pais, bons lideres, crianças formatadas para salvar o planeta.
Já são tantos os abusadores, e a lei é tão à feição deles, que um dia por força de ser a maioria, ganham. A pedofilia vai ser só mais um modo de vida, vai ser um direito. E já ninguém vai ficar chocado neste doentio mundo normopata.

Isto nada tem que ver com Deus. Absolutamente nada.

As nossas tentativas de vida perfeita






São o que tantas vezes, nos adoece.
Basta-nos sairmos um bocadinho para fora da rede dos dias na cidade, que percebemos o quanto estamos à deriva. Já nem sequer sabemos respirar direito, ficamos inquietos se houver silêncio, fazemos coleção de medos novos. Esquecemo-nos da nossa finitude e da nossa insignificância.
(...)

Conversas de mãe e filha

 - Mamã tu és umaaaaaaaa, uma cobra!

- Uma cobra filha, que horror! Sou antes uma ursa fofinha.

- Ai mãe mãe, tu não és uma cobra nem és uma ursa! Tu és só uma mãe!

(...)

Muito dificil


Depois de três dias seguidos de bicicleta, esmoreci. Acho que ainda estou a lutar com todo o mal que me fez seis meses de antidepressivo; às vezes acho que além dos problemas que já tinha, ganhei um problema novo que foi excesso de peso. É por isso que estou muito feliz por ter parado a medicação há mais de um mês, e fisicamente não sentir falta alguma. Fazer exercício físico, dietas, mentalizações, tomar pastilhas para não sentir, quando as rotinas cá fora continuam a asfixiar-nos, é particularmente difícil e inglório. Por isso resolvi também não forçar mais nada. Os médicos, por melhor que sejam, nunca nos conhecerão melhor do que nós próprios. 

Peço a Deus que isto não se converta num cancro porque stress e ansiedade como modo de vida, nunca levaram ninguém a boas paragens. De resto vou tentar trabalhar a minha serenidade, só isso. Que por agora não tenho vontade de mais.

Hás-de ter sempre destas coisas


Oferecer-me presentes sem que seja o dia dos namorados. Agarrares-me do nada e dares-me beijos apertados. Encher-me de calor nos dias mais frios do ano. Fazeres o jantar em todos aqueles dias em que eu acho que não aguento mais.
(...)

Empenho e Fé

Resolvi inscrever-me numa carrada de cursos ao mesmo tempo, a bem dizer tenho cartaz completo para quase o ano inteiro. Chega de pasmaceira: mente vazia é oficina do diabo, bem antiguinho. Alguns horários interferem com as rotinas da miúda, mas vamos ver como corre. Acho que uma mãe mais focada é do interesse de todos.

Assim vai ser mais fácil esperar pelo dia em que o telefone vai tocar. Porque esse dia vai chegar.

O nosso presidente Marcelo

Desde o alto da classe dos seus mais de setenta anos, a viajar incansavelmente dia após dia para atender a uma agenda de compromissos que nós sabemos lá bem, foi pessoalmente pedir desculpa ao imigrante que há dias foi espancado na rua por um grupo de jovens. Alguém tinha que o ter feito. Portugal envergonha-se destes actos e é preciso que alguém o diga olhos nos olhos da pessoa ferida.

(...)

Slow J

Gosto tanto.

Ainda é cedo para falar mas hoje consegui fazer uma hora de bicicleta. Foi fácil, a ouvir Slow J. Não deixei foi de comer tudo o que me passa pela cabeça, incluindo três quadrados enormes de chocolate. Mas devagar meto-me a caminho.

(...)

Turquia / Siria

Unimo-nos quando a desgraça e a tragédia são de uma dimensão que nos supera. E o mundo unido em algo, apesar das circunstâncias chocantes, comove tanto. Porque nem pela Ucrânia estivemos ou estamos unidos. Infelizmente vamos perdendo a consciência da força e do poder que temos juntos.

É tão tremendo. Tão avassalador que tudo sejam apenas escombros em alguns segundos. Homens de infinitas coisas pequenas; que vivemos como se fossemos deuses. 

Olho para as imagens dos resgates, e choro.

Eu não quero

Deixar para trás tudo o que me engorda: as pessoas, as relações, as rotinas, tudo o que perpetua o meu padrão. Eu sou preguiçosa e eu tenho uma mente obesa que sempre aguentou demais e não me permite viver de forma equilibrada, dentro da absoluta normalidade dos limites. Eu, ainda por cima, gosto de comer.
(...)

Os famosos terríveis três

Que só começaram agora. 

Quem foi que disse que é fácil? Mesmo ela sendo uma menina muito boa - graças a Deus é - tem dias, momentos, em que é mesmo difícil educar a Maria. Ontem de manhã a caminho do colégio portou-se tão mal que deu-me vontade de lhe dar um estouro valente e enviá-la diretamente ao espaço, assim pelo menos só umas duas vezes. Mas não, claro que não. Saiu-me só um Porra Maria! que já me deixou a sentir bastante mal, com ela feito papagaio pica miolos a repetir sem parar Essa palavra não se diz mamã, essa palavra é muito feia! 

Como se ela fosse a mãe e eu a filha, tal e qual.

Resposta aos dias dificeis

💚💚💚

Pipocas!

É impressionante o quanto se fala em Liderança em LinkedIn e afins. Devo dizer que no mínimo é curioso este paradoxo: quanto piores lideres temos, mais gente entendida no assunto aparece.

E tudo se resume ao ADN das empresas. Ao que realmente querem e procuram. À essência, que é coisa que muito poucas têm hoje em dia. Porque o pior líder consegue os melhores resultados quando se trata só de números, e a realidade é que muitas vezes pouco mais importa além disso. Isto significa que nem sempre se trata de maus lideres mas sim de lideres ajustados. Vivemos uma actualidade em que predomina a ambição sem limites e em nome disso assiste-se a uma espécie de liderança camaleónica que não raras vezes resulta em pessoas tóxicas que também elas mais tarde ou mais cedo, garantidamente, acabam por adoecer.

E às pessoas, à sua formação pessoal de base, ao berço. Tudo o que vão ser ou fazer depois de uma aprendizagem profissional especifica, depende do background que já existe. E isto aplica-se a lideres mas também a médicos ou varredores de rua.

O futuro? Começa nas escolas e sobretudo nas nossas casas. Começa nas nossas crianças e no que priorizamos naquilo que lhes queremos incutir. Só uma Maria boa pessoa e bem formada poderá ser um dia um líder completo. 

O mais difícil mesmo? Obviamente que não é a formação profissional. É mesmo fazer de uma criança um bom adulto, um ser humano integro, com valores e ideais que assentem numa base de respeito e tolerância.

O resto são teorias.