Expressão da minha terra que significa coisas tão diferentes e opostas como repugnância, enfado, surpresa, alegria, alivio, espanto. Expressão que me lembra a minha avó e me une à minha África-berço que não conheço. Uma palavra inteligente, que obriga a interpretar por inteiro a frase, incluindo a entoação e o sorriso ou a interrogação que dela fazem parte.
Sobre as pedras no caminho
E sobre aquilo que quero incutir à minha filha:
No fim de semana à conversa com o pai dela, demos por nós a olhar para o mar, embevecidos pela sua terapêutica canção forte que parecia uma coisa do além. Se não fosse o seixo, o mar cantaria assim?
Podemos nunca ser capazes de construir castelos com as nossas ruínas, mas podemos sempre - vamos sempre a tempo - de fazer bem, de fazer melhor.
Poeminha para descontrair
Não fossem as minhas incursões noveleiras. Cheguei aos 44 sem antes ter tropeçado nesta pérola:
História natural
Cobras cegas são noctívagas.
O orangotango é profundamente solitário.
Macacos também preferem o isolamento.
Certas árvores só frutificam de 25 em 25 anos.
As andorinhas copulam no voo.
O mundo não é o que pensamos.
Drummond de Andrade
É só mais uma
Sobre os nossos telhados de vidro
Ucrânia
Bom dia Vida
Desempregada há meio ano.
Continuar a confiar. Porque nunca, nunca mesmo, se me fechou uma porta sem que houvesse algures uma tal janela aberta de par em par para um lugar mais iluminado.
(...)
Quando os outros cuidam de nós
No sábado fiz caminhada com uma amiga-irmã. Que no meio de uma conversa, do nada, me disse que me considera uma boa mãe. Devo estar muito frágil porque aquela aprovação tocou num pontinho cá dentro, e fez a engrenagem desbloquear. Não vos sei dizer o quão importante foram para mim aquelas palavras.
(...)
Véspera de dias felizes
Fim de semana de cura
Mommy burnout
Infelizmente o termo não é meu, mas bem que poderia ser.
Esta manhã percebi que não aguento mais. Ser inteiramente responsável por 975 das mil tarefas a que a Maria obriga, no meio do caos emocional que tem estado a minha vida (falta de emprego, falta de dinheiro, falta de tempo não sei como, falta de noites bem dormidas, cursos que não me interessam nada à mistura, falta de colo, falta de mim mesma), em alguns momentos de hora de ponta do meu dia, faz-me descarrilar. E o pior é que a Maria é um doce, é um Amor, e não merece a angustia de não compreender uma mãe à deriva. Ela coitadinha, cobre-me de pensos para curar os meus dodóis que ela não sabe muito bem onde estão. E não, nem que eu tenha que aprender a ficar calada o resto da minha vida, nem que eu tenha que aceitar só os dias assim uns a seguir aos outros todos iguaizinhos sem horizonte, a Maria não tem que passar por isto, não vai passar por isto comigo como se fosse uma adulta ou um escape.
É como se tudo o que eu mais amo me estivesse a causar esta exaustão. É triste e é terrível passar por isto e ter ainda que lidar com sentimentos de culpa. Porque tenho uma família perfeita, porque tenho uma filha linda, porque tenho saúde, porque tenho tanta sorte! Porque hoje deixei a Maria no Colégio e pela primeira vez, aos três anos, ela estava triste. No meio da festa de Carnaval e dos amigos alegres fantasiados e aos pinotes, ela, a minha bebé, estava triste. Vim embora a chorar e de coração partido.
O dia de hoje representa um limite muito importante para mim.
Às vezes só queria poder dormir sem hora para acordar. Alguém que me dissesse deixa estar que eu faço.
(...)
Quero o colo da minha mãe.
Não posso deixar de comentar
As nossas tentativas de vida perfeita
Conversas de mãe e filha
- Mamã tu és umaaaaaaaa, uma cobra!
- Uma cobra filha, que horror! Sou antes uma ursa fofinha.
- Ai mãe mãe, tu não és uma cobra nem és uma ursa! Tu és só uma mãe!
(...)
Muito dificil
Depois de três dias seguidos de bicicleta, esmoreci. Acho que ainda estou a lutar com todo o mal que me fez seis meses de antidepressivo; às vezes acho que além dos problemas que já tinha, ganhei um problema novo que foi excesso de peso. É por isso que estou muito feliz por ter parado a medicação há mais de um mês, e fisicamente não sentir falta alguma. Fazer exercício físico, dietas, mentalizações, tomar pastilhas para não sentir, quando as rotinas cá fora continuam a asfixiar-nos, é particularmente difícil e inglório. Por isso resolvi também não forçar mais nada. Os médicos, por melhor que sejam, nunca nos conhecerão melhor do que nós próprios.
Peço a Deus que isto não se converta num cancro porque stress e ansiedade como modo de vida, nunca levaram ninguém a boas paragens. De resto vou tentar trabalhar a minha serenidade, só isso. Que por agora não tenho vontade de mais.
Sonhos perfeitos e impossíveis aos três anos de idade
Ao fim de quase uma hora no escorrega e nos baloiços:
"Mamã quero ficar aqui no parque para sempre. E tu também."
Hás-de ter sempre destas coisas
Empenho e Fé
Resolvi inscrever-me numa carrada de cursos ao mesmo tempo, a bem dizer tenho cartaz completo para quase o ano inteiro. Chega de pasmaceira: mente vazia é oficina do diabo, bem antiguinho. Alguns horários interferem com as rotinas da miúda, mas vamos ver como corre. Acho que uma mãe mais focada é do interesse de todos.
Assim vai ser mais fácil esperar pelo dia em que o telefone vai tocar. Porque esse dia vai chegar.
O nosso presidente Marcelo
Desde o alto da classe dos seus mais de setenta anos, a viajar incansavelmente dia após dia para atender a uma agenda de compromissos que nós sabemos lá bem, foi pessoalmente pedir desculpa ao imigrante que há dias foi espancado na rua por um grupo de jovens. Alguém tinha que o ter feito. Portugal envergonha-se destes actos e é preciso que alguém o diga olhos nos olhos da pessoa ferida.
(...)
Turquia / Siria
Eu não quero
Os famosos terríveis três
Que só começaram agora.
Quem foi que disse que é fácil? Mesmo ela sendo uma menina muito boa - graças a Deus é - tem dias, momentos, em que é mesmo difícil educar a Maria. Ontem de manhã a caminho do colégio portou-se tão mal que deu-me vontade de lhe dar um estouro valente e enviá-la diretamente ao espaço, assim pelo menos só umas duas vezes. Mas não, claro que não. Saiu-me só um Porra Maria! que já me deixou a sentir bastante mal, com ela feito papagaio pica miolos a repetir sem parar Essa palavra não se diz mamã, essa palavra é muito feia!
Como se ela fosse a mãe e eu a filha, tal e qual.
Pipocas!
É impressionante o quanto se fala em Liderança em LinkedIn e afins. Devo dizer que no mínimo é curioso este paradoxo: quanto piores lideres temos, mais gente entendida no assunto aparece.
E tudo se resume ao ADN das empresas. Ao que realmente querem e procuram. À essência, que é coisa que muito poucas têm hoje em dia. Porque o pior líder consegue os melhores resultados quando se trata só de números, e a realidade é que muitas vezes pouco mais importa além disso. Isto significa que nem sempre se trata de maus lideres mas sim de lideres ajustados. Vivemos uma actualidade em que predomina a ambição sem limites e em nome disso assiste-se a uma espécie de liderança camaleónica que não raras vezes resulta em pessoas tóxicas que também elas mais tarde ou mais cedo, garantidamente, acabam por adoecer.
E às pessoas, à sua formação pessoal de base, ao berço. Tudo o que vão ser ou fazer depois de uma aprendizagem profissional especifica, depende do background que já existe. E isto aplica-se a lideres mas também a médicos ou varredores de rua.
O futuro? Começa nas escolas e sobretudo nas nossas casas. Começa nas nossas crianças e no que priorizamos naquilo que lhes queremos incutir. Só uma Maria boa pessoa e bem formada poderá ser um dia um líder completo.
O mais difícil mesmo? Obviamente que não é a formação profissional. É mesmo fazer de uma criança um bom adulto, um ser humano integro, com valores e ideais que assentem numa base de respeito e tolerância.
O resto são teorias.