Esta semana pensei muito no amor. No que é realmente. Na sorte grande de todos os que sabem o que é. Em tudo o que nasce e o que criamos a partir desse conhecimento. Nas borboletas desalinhadas no estômago, na mão invisível que nos aperta a garganta, nas melhores noites da nossa vida, nas insónias por amor, na paz imensa de um amor sossegado. Na força do amor. Na loucura do amor. No rasto que deixa, mesmo quando se acaba apesar de ser eterno.
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Tenho percebido nos últimos tempos que cada um constrói o seu caminho. Mais ou menos como pode, mais ou menos como sabe.

Tenho trabalhado em mim a regra do silêncio. Para lutar pela aceitação de tudo aquilo que não é porque não tem que ser. A maior parte das vezes ficamos à espera dos outros para viver. E os outros, são só os outros, apertados também nos seus mundos e sonhos, como nós.

Concentro-me no meu papel de mãe e percebo que isso em nada é redutor. Permito-me desistir por horas. Permito-me o cansaço, e ser mortal. Não quero esperar nada de ninguém, e isso tem sido particularmente difícil de praticar. Porque toda a minha vida tem sido uma espera, e estou cansada. Quero ser a partir deste ponto do caminho, o monge que cozinhou arroz em silêncio durante doze anos, para os outros monges comerem.

Após a tristeza, que nos últimos dias tem-me superado, que nada mais me perturbe Senhor.

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Isto de ser mãe

Todas as crianças adoram o mundo lá fora, mais do que tudo.

Esta semana estive numa palestra sobre as crianças e as tecnologias. Para ouvir, para tentar ter algumas certezas, para saber. Algumas partilhas foram básicas, outras deixaram-me a pensar. Acho que só agora que a Maria já tem quatro anos, lido bem com o facto de ela trazer as calças rotas nos joelhos ou as sapatilhas irreconhecíveis de terra porque brincou nos parques. Só agora percebo claramente que a nível de desenvolvimento motor é fundamental que a Maria quando brinca não tenha que lidar com o medo de se sujar ou magoar. É importante que ela tenha consciência mas sem se desviar do fundamental que é bom: brincar. Todas as vezes que ela veio para casa cheia de areia nas sapatilhas porque andou a brincar com o avô no parque, e só porque ele não é tão cuidadoso como eu, ela foi realmente feliz. Só agora olho para a minha filha e percebo que ela gosta tanto de brincar com plasticina e slime que se esquece que tem um ipad. Só agora sei que ela gosta, mais do que de qualquer outra coisa, de jogar às escondidas ou à bola com o pai. E que tudo o resto à nossa volta são só coisas. E que as tecnologias quando se tornam um problema, normalmente são um problema que começou em nós pais.

No final de contas importa a gargalhada inteira e saudável da Maria. Há muita coisa boa nas tecnologias. Só precisamos de ter regras na família, de filtrar e de acompanhar. Nem sempre é tão fácil ou linear, mas acredito que seja a melhor forma de tentarmos não perder o fio à meada. Que o mundo lá fora engole os nossos pequeninos à nossa menor distração.

Da inocência

Do poder que tem para nos salvar. Ontem a minha Maria, ao sentir que eu estava derrotada pela tristeza, apresentou-me uma solução:

- Mãe, porquê que tu não usas os teus super poderes?

E foi assim que eu fiquei a saber que aconteça o que acontecer, não posso fraquejar.

Quando bato no fundo

procuro sempre agarrar-me a um nada. Ao desenho silencioso de um aviãozinho que atravessa o céu lá longe. Ao pinheiro lindo, enorme, do campo nas traseiras de casa; olho para ele e só me ocorre o Natal. Ao abraço da minha filha, ao sorriso dela. Aos gatos a brincarem nos telhados de zinco que avisto da janela. Ao pézinho de framboesa que me ofereceram esta semana. Ás copas comoventes das árvores frondosas; aos laivos de luz em tons rosa e laranja a espreitarem no céu. Ao colo de quem já me conhece, e sabe que estou triste, e tenta soprar-me as sombras do olhar.

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Tenho vivido alguns dias violentos no trabalho. Ás vezes olho para mim mesma e fico cheia de pena. Disto em que me transformei, numa máquina só de limpar, que já nem sequer é capaz de impor alguma consciência sobre limites. Ao longo de toda a minha vida é sempre nesta pedra que tropeço. E sim, começo mesmo a acreditar que se não consigo mais, é porque não mereço mais.

Ponto do caminho em que não aguento. Outra vez. É o trabalho mas não só; são as pessoas, é o tempo frio e cinzento há demasiados dias, sou eu mesma, é este corpo, é esta casa, é o não sair da cepa torta. Acho que está na hora de ter coragem para pelo menos querer mudar. Ir, nem que seja sozinha. Depois quem sabe, morrer. Mas ficar a viver castigos, num modo permanente, está a causar em mim um desgaste que me aproxima também do fim.

Perdida por cem, perdida por mil.

Roda viva

Os dias têm sido assim. Ora descontente com quase tudo, ora imensamente feliz com quase nada. Têm sido sempre as pessoas a fazer a diferença na minha vida. A dar a força, o alento, a luz que eu preciso.

Têm sido sempre os detalhes a salvar-me. E a Fé.

O meu Luís às vezes falha um dia, mas depois acerta dois. E cuida-me como nunca ninguém fez. A minha filha diz-me que me ama muitas vezes no caminho. Sempre que faço noites, chego a casa e encontro um desenho dela sobre a mesa, pintado para mim. E traz-me pedrinhas da rua, que ela apanhou, que ela escolheu para mim, com um valor imenso, acima de todos os diamantes do mundo juntos.

Às vezes a vida também tem dias assim. Cheios de amor e de certezas.

O importante é isso mesmo, que a roda seja viva 

13 de Maio

 


Avé Maria.

Tu sempre minha Mãe. Tu para sempre. A tua presença em todos os dias da minha vida.

Vontade de viajar

Sozinha.

Eu e a Torre

Outra vez parada aqui, nesta minha tão pequena e insignificante mas por vezes dolorosa existência. Ao fim de uns dias a fazer noites, mesmo repondo algum sono em manhãs partidas, desmorono cá dentro. Porque há coisas que não vão bem com a Maria, com a casa, comigo mesma. Há um nível de incompreensão que fica a saber a falta de colo, a falta de quem cuide. Ao ponto de não estar já sequer a conseguir manter o telefonema diário para a minha mãe. Não me apetece. Já não me apetece nada nem ninguém. Momentos da batalha em que me sinto sozinha e em que tentar desabafar só piora as coisas. E eu aguento tudo, mais ou menos ao longo da vida fui sempre sozinha nas minhas batalhas, pelo menos foi assim que sempre me senti no caminho. Fraquejo num ponto chamado Maria. Ninguém percebe que a minha filha não pode tomar penicilina como quem toma benurons. E que ela não é uma barbie ou um peluche. E eu só tenho mais é que perceber que ninguém tem obrigação de nada e que se eu não estou bem, ponho-me. E porra, deixem-me em paz, que bastam-me as obras infernais no andar de cima. Deitar-me às 2h da madrugada, levantar-me às 7h para preparar a minha filha e não voltar a dormir mais porque às 8h começam as marteladas. E não há ninguém - ninguém - que me cuide ou valorize. Há quem me estique, quem puxe ainda mais por mim, quem me repreenda, quem ache sempre que eu tenho que fazer melhor.

A fritar a pipoca, sabem. Vontade de desligar o botão e ser esquecida de vez por todos.

Eu só quero dormir.

Talento puro

Alguma esperança neste mundo cão

Saber daqueles jovens universitários, que nos Estados Unidos se manifestaram e se sujeitaram à violência policial, para dizer NÃO à guerra em Gaza.

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Brutal

Maio

Mês de Maria. Mês de Amor. Mês de Luz.

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Dia da Mãe

Foi ontem, dia 5 de Maio.

Ás vezes tento, forço uma ponte de ternura com a minha mãe, e essa ponte precisa de dois lados para existir. Tento. Ontem só fiz um esboço de tentativa, nem sequer fui capaz de insistir. Ontem estava tão exausta que optei por ser só mãe. Mãe da minha Maria, do meu Sol de menina, do meu Amor perfeito.

Que me perguntou do nada: "Mamã, porquê que tu nunca ficas doente?"

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Ontem dia da Mãe. Dia de festa para ela e o pai, dois leõezinhos autênticos, felizes, porque o Sporting foi Campeão. E enquanto eu me dedicava a dobrar um Evereste de meias e cuecas, eu e o pai decidimos coisas importantes. Porque é assim que a vida acontece de verdade, nas decisões. No Viver, sem ficar à espera da hora perfeita ou de grandes momentos.

Dia da Mãe, dia de muitas coisas que nunca mais vamos esquecer.

Adenda ao post anterior

Ás vezes surge o dilema entre o que sabemos que não deve ser negociável, e os nossos valores muitas vezes acima de direitos e deveres, de décadas de luta, bulas papais e o diabo a quatro.

Gente, fazer um turno das 7h à meia-noite num Hospital, pode mesmo ser necessário. O que não pode é ser um hábito, uma coisa que se repete. Mas num caso isolado, sim. Trabalhamos para o doente, a máquina tem que funcionar sempre. E nos bastidores estão pessoas, que adoecem, que morrem, que falham. 

Aos 45 anos o turno mais longo de trabalho que fiz, foi num dia do trabalhador. Voltarei a fazê-lo, se a minha consciência ditar. Sem que isso ponha em perigo tudo aquilo em que acredito e o quão estou grata a todos aqueles que lutam arduamente pela garantia dos direitos assegurados de todos nós.