Sobre o confinamento

Ao fim de algumas semanas de isolamento e incertezas, já todos mudamos um bocadinho.
Cruzei com a vizinha do andar de cima, que tem três crianças. Achei-a incrivelmente mais gorda, desdentada e com ar desmesurado; parece que literalmente lhe passou um furacão pela vida estes dias. Perguntei-lhe se estão a precisar de alguma coisa e apenas reclamou que já não sabe o que fazer aos miúdos. Dou graças a Deus por a Maria ainda ser bebé enquanto passamos por isto; entre tantas questões a da escola parece-me que daria comigo em doida, eu que tenho a mania de pensar duzentas vezes nas coisas e achar sempre que se podia fazer melhor.
Começa a agigantar-se ainda mais o fosso entre ricos e pobres, à custa do CV19 alguns poucos estão a encher-se de dinheiro e outros literalmente a ficar sem ele, mas isso vê-se depois. A silly box está insuportável, já não entretém ninguém; as famílias já não conseguem disfarçar a falta que faz um programa lá fora. Depois disto vai haver tamanhas dificuldades mentais, que muitos acabarão por precisar de inventar vontade para voltar a sair. Outros vão correr para as ruas aos primeiros raios de sol que anunciem a primavera, em declarado modo rescue me.
Até fugíamos ou emigrávamos, mas para onde? Esta crise é diferente de todas as outras, pelas razões óbvias.
(...)

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