Da minha bipolaridade

Estou saturada, confesso.
Ontem só me apetecia fugir para não sei onde, e chorar muito. Andei todo o dia estranha e de asa partida.
Hoje despertei com o compromisso familiar que o domingo impõe: vesti a minha capa de pseudo-superwoman e lá fiz o assado e dei muitos beijinhos à Maria e ao pai. Mais ou menos temos que nos segurar uns aos outros.
Dói-me a garganta e dói a garganta a toda a gente com quem falo. De forma irremediável, acabaremos por nos tornar numa sociedade autista e hipocondríaca. Vamos ter que respirar fundo muitas vezes depois disto. Vamos precisar de muitos dias de ar puro junto aos parques e ao mar, de muitos abraços bem apertados sob o risco de nunca mais serem a mesma coisa. Vamos ser obrigados a ajustar as nossas vidas, e as nossas formas de ser e de estar, porque agora que aconteceu, já sabemos que pode voltar a acontecer. Vamos inconscientemente procurar preparar-nos melhor, sob os alertas importantes do medo e da memória.
Vamos. Se conseguirmos fazer uma gestão individual e colectiva suficiente para vencermos este desafio. É por isso que nos dias não precisamos de almejar os dias sim, e nos dias sim mantermos a consciência de que hão-de sempre haver os dias não.
(...)

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