As pessoas, grande parte delas, vive de modo tão frenético que mal responde a um bom dia. Mesmo dentro de um hospital há essa falta de empatia grosseira. Esta semana eu disse "bom dia" a um médico apressado que sem olhar para mim me respondeu "obrigado".
Na vida real as pessoas têm medo de tudo, mas vendem a iris sem saber para quê ou a quem.
Na vida real muitos homens criticam a existência de um dia da mulher.
Na vida real casar é na maioria das vezes um contrato. As pessoas casam por causa das vantagens, não por causa do amor.
Na vida real os casais perdem o tesão.
Na vida real o Inverno vem quando quer. E os pássaros aguardam o tempo necessário.
Na vida real uma mãe erra muitas vezes.
Na vida real a maioria dos discursos políticos são só discursos. Na vida real o povo está farto.
Na vida real os casais inventam divórcios e moradas separadas para ir buscar subsídios, e o Estado lesado vira a cara para o lado porque dá muito trabalho por a casa em ordem. Na vida real tanta coisa sem quem para fazer e tanto rendimento mínimo entregue em vão a quem não sabe como matar o tempo. Na vida real os presos têm acesso à cultura porque o teatro vai às prisões e eu que me esfalfo a trabalhar e a descontar, não consigo consumir cultura. Na vida real querem dar subsídios a quem tem animais e eu que tenho uma filha, só porque escolhi trabalhar, já não tenho direito ao abono. Na vida real nem sequer temos um hospital veterinário publico. E assim vamos, ansiosos por um telhado quando nem sequer temos paredes.
Se tudo correu bem, na vida real de cada um, a mulher da nossa vida é a nossa mãe. Porque na vida real nem sequer um filho nos chega a querer tanto como ela.
Na vida real todos estamos, impreterivelmente, a caminho do fim. E todos haveremos de cheirar terrivelmente mal quando o corpo se demitir da vida. Alguns nunca vão entender a dimensão espiritual desta nossa breve passagem.
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