Já perceberam que o termo não é meu, mas eu adoro. É da Mariana Bacelar, que descobri nuns caderninhos amorosos que li durante a minha gravidez:
"Dentro do nosso coração deve acender-se um aviso vermelho sempre que, em vez de crianças normais temos crianças perfeitas. As crianças normais fazem disparates, não se querem pentear, falam alto, choram, querem usar dois sapatos diferentes, batem quando não sabem como dizer que estão muito zangadas, não querem entrar no banho, não contam como foi o dia, não param caladas, não comem, não querem dormir sozinhas, fazem birras monumentais, perguntam coisas embaraçosas, não querem vestir o casaco, querem brincar e não fazer fichas em silêncio. Deitam a língua de fora, acham graça a dizer asneiras, têm medo de bruxas, comem esparguete sem modos, não gostam de trabalhos de casa, arriscam, pintam paredes, pegam-se com os irmãos. Está tudo bem com as nossas crianças reais."
Num mundo balofo de crianças sobredotadas (que as há), o importante mesmo é percebermos a nossa criança, a que temos lá em casa. A Maria fala alto, não para calada, tem medo do boi preto, não quer dormir sozinha, pinta as paredes de casa, desarruma setecentas vezes a tralha dela no mesmo dia, rasgou alguns livros o que me entristeceu muito. A Maria é ela, o nosso maior tesouro. Dona de uma inteligência impar que nos cativa. Mais do que isso a Maria é um teste constante à nossa compreensão: foi difícil mas aprendi a ficar feliz com algumas asneiras dela. O que queríamos mesmo era que todas as crianças no mundo tivessem as mesmas oportunidades: serem olhadas só como crianças normais para além da diferença seja ela qual for, com os seus direitos salvaguardados.
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