Expressão da minha terra que significa coisas tão diferentes e opostas como repugnância, enfado, surpresa, alegria, alivio, espanto. Expressão que me lembra a minha avó e me une à minha África-berço que não conheço. Uma palavra inteligente, que obriga a interpretar por inteiro a frase, incluindo a entoação e o sorriso ou a interrogação que dela fazem parte.
Das coisas maiores
Agosto a terminar
Senhores que gostam de passear os bichos na praia
Senhores empresários do Paraíso
Empreguem mas por favor invistam em formação. É urgente. Portugal está na moda mas não vai estar sempre.
Férias grandes
Sem relógios, alheios ao mundo. Aqui mesmo à porta de casa. Fomos muito felizes este Verão.
Sobre a mãe
Fim da montanha russa de emoções. Rumou à casinha dela e deixou a minha muito mais vazia. Nunca vou conseguir explicar estas coisas do Amor entre uma mãe e uma filha que nunca tiveram, não têm nem nunca hão-de ter os ponteiros dos afectos afinados. Ficou em mim um alivio grande por voltar ao sossego do meu núcleo duro, ao mesmo tempo uma tristeza fininha que machuca quieta, como o que é, uma coisa só minha, uma dor que não se explica nem localiza, por tantas coisas que nunca vão ser como eu gostaria, pela incerteza que mora no coração dos meus erros, como se eu tivesse todas as razões para não perdoar coisas, e ao mesmo tempo todas as duvidas sobre se é isto que faço com ela agora que envelheceu, o Amor.
Sobre a minha mãe poderia contar-vos tantas coisas boas quantas más. No entanto, agora que começa oficialmente o período longo das saudades, quero apenas gritar ao mundo que não quero que nada de mal lhe aconteça. Não suportaria.
Adenda ao post anterior
Mas nada como ficar 15 dias sem andar de autocarro, e depois voltar a um. Senhoras de barba rija - literalmente - com todo o orgulho a desfiar conversa num léxico completo de palavrões à moda do norte; homens de parte cornos a apestarem a suor, crianças que deviam estar na praia mas divertiam-se no bus a tirar macacos do nariz e a colar ao vidro. O pior chega em Setembro que é já a seguir, quando esta maltinha for toda como sardinha em lata com guarda-chuvas à mistura.
Assim de repente, ficava em Agosto para sempre.
Portugal a desaparecer
Já me tinha dito o meu Luís que nos tempos que correm podemos atravessar Portugal de Norte a Sul e pedir uma bica ao balcão, que ninguém vai saber do que falamos. Não sabem mesmo. Esta semana na Baixa da cidade, num lugar conceituado e antiguinho de perder os anos, peço ao balcão um prego em pão. Atendeu-me uma menina brasileira. Acrescentei "É tenrinha a carne?" A senhora fez uma expressão como se estivesse a ouvir chinês indecifrável. Sorri e disse "Depois de a minha filha comer a sopa, se a carne for tenrinha se calhar partilho com ela.." Pediu desculpa que ia chamar alguém. Veio outra senhora, brasileira também. O mesmo filme, uma repetição já sinistra para mim, porra era só um prego em pão. A mesma conversa, foi perguntar a alguém na cozinha. Voltou algum tempo depois com a resposta: "A menina da cozinha diz que se for para a criança então é melhor fazer com frango."
Cof cof cof, cruzes fiquei chocada, prego em pão com frango! Cancelei o pedido e saí dali assustada.
Reencontros
No outro dia, cega de tristeza, achei que as únicas coisas que me podiam salvar era ler e fugir. Foi o que fiz. Duas horas sentada com duas meias quentinhas para descongelar a alma: uma meia de leite e uma meia torrada; e o meu livro. Depois bati perna pela cidade. E descobri que já nem me lembrava mais como eu adoro o Porto. Já nem me lembrava deste amor que sinto: pelas ruelas, pelos becos, pelas janelas abertas, pelos parques. Só quase não vi as gentes, aquelas que eram a alma da cidade. Estrangeiros de todo o mundo, rua acima, rua abaixo. Quase nem sequer se tem a sorte de encontrar um português a atender-nos quando entramos num café, num bar, numa padaria, num restaurante, num quiosque, numa estação de serviço, numa loja qualquer. Mas a cidade sobrevive, e continua a ser o único melhor lugar do mundo para viver.
Entretanto voltei a espreitar casas. Quem sabe o que Deus quer.
Agosto
Não gosto, nunca gostei. Nos últimos anos, menos. Sei que um dia vou ter muitas saudades da minha mãe, sei que um dia vou ter imensas saudades das férias grandes com a miúda. Mas tem sido um mês só de birras, de amuos, de exigências. Hoje a Maria disse "porra!" furiosa comigo porque estava na hora de virmos embora do parque. Ontem à noite antes de irmos dormir disse-me "sabes, gosto mais do papá do que de ti". Pequeninas facadas às quais vou ficando imune, porque o meu amor por ela só cresce. Ela não sabe, nem sonha, que por causa das férias escolares dela, me hipotecou para sempre o grande sossego de não tirar férias em Agosto. Com a minha criança idosa, a coisa é diferente. Fico doida, chego a pensar que não aguento mais. Depois paro e penso em toda a história de vida da minha mãe, e sinto uma tristeza grande, uma dor incrível pelos fracassos dela. E penso que se não lhe der colo agora, vou dar quando.. Agosto é o mês em que ela me aterra em casa e me vira a vida do avesso. Nem a Maria quando ainda não tinha dentes e usava fralda, me deu tanto trabalho.
Depois sobro eu. Com ressacas em cima de ressacas de bebedeiras mentais por privação de sono, porque levar com este Agosto em cima, ao mesmo tempo que faço noites no Hospital, não tem sido fácil.
Tenho sentido uma coisa muito boa. O forte seguro que é o Amor que nos une, a mim e ao Luís. Tem estado à altura deste mês terrível que mais tem sido um desafio. Mesmo com uns dias ventosos a casar perfeitamente com este Agosto odioso - ele que adora fazer praia com a filha - tem dado a volta ao Sol a sorrir. Não sei como consegue, tem muita Paz dentro este rapaz. Deve ser por isso que o Amo tanto.