Posso?

Pelos comentários aqui e ali, parece quase unânime que alguma coisa não está a ser bem gerida no que diz respeito à Imigração em Portugal. Concordo com muita coisa, mas nunca com xenofobia e violência. Sinto vergonha e tristeza quando alguém se superioriza perante a diferença do outro. Acho incrível esse ser um bom argumento para votar no Chega. Aliás sobre isso, eu confesso que estou como o tolo no meio da ponte, porque não me identifico com nenhum dos candidatos.

Vi esta manhã o vídeo dos dois rapazes indianos a serem agredidos na baixa do Porto. E fiquei seriamente preocupada que coisas destas aconteçam às claras, que nem sequer haja mão dura para semelhantes actos de violência. Da mesma maneira que fico chocada por saber que dois indianos perseguem raparigas à noite que circulam sozinhas em autocarros porque vêm de trabalhar em turnos nocturnos, numa cidade que foi sempre pacata. Alguma coisa está seriamente mal.

A verdade é que tudo me choca, ando em modo de ferida aberta. No outro dia levamos a miúda às piscinas e vi famílias inteiras obesas, aliás era quase um parque aquático cheio de gente obesa. E dá a sensação que o mundo agora é cada vez mais isso, o lado do excesso e o lado da escassez. E está tudo excelente, desde que não se faça parte do lado da escassez, mesmo que depois se morra com um ataque cardíaco fulminante porque o corpo não pode mais com 120 kg de peso.  A carrada de miúdas novas e giras que se estão a encher de botox e tratamentos afins, porque na realidade ninguém gosta de se ver ao espelho e por mais que isso diga muita coisa sobre o ser humano dos nossos dias, o que interessa é que esse é um fenómeno rentável. E eu estar para aqui a escrever sobre o que penso e sinto incorre num atentado às liberdades alheias e é isto o nosso momento actual. Criar um filho num mundo tão fortemente desregulado, é praticamente uma garantia de que em algum ponto do caminho o vamos perder. 

E nas relações pequenas do dia a dia, sinto demasiada animosidade nas pessoas. Mesquinhez, um toma lá dá cá constante, machismo surreal!, invejinhas e maledicências, uma falta de educação brutal, uma escravidão ao dinheiro que hoje é a vela dos altares da maioria das pessoas, e um egoísmo e uma indiferença que chocam. Nas famílias, nos trabalhos, no bus, na fila do supermercado. 

E o que me assusta mesmo em mim que não sou nenhuma santa nem para lá caminho, é o meu cansaço perante todas estas coisas. Uma sensação de que não pertenço aqui, de todo. Ao ponto de já nem gostar de debater assunto nenhum com ninguém. Talvez precise de me focar mais no lado B da vida. Esse lado cada vez mais pequenino, que em alguns dias já só se encontra se andarmos em modo lupa.

(...)

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