Rainha da musica. Em todos os sentidos.

Coisas tão boas deste Novembro que termina

Tivemos os dias de Sol mais bonitos do ano. Vamos crescendo, com tantas adaptações necessárias. Pelo burburinho nas ruas, estamos prontos para abraçar o Natal, da forma que for.

(...)

Tenho a sorte de trabalhar com pessoas que têm muitos defeitos. E entre esses defeitos, inúmeras qualidades que me inspiram todos os dias. Pessoas que em vez de fazerem greves de fome, perderem dias inteiros em manifestações ou malgastarem o seu tempo e discurso em palavras azedas contra um governo que é o que temos, se reinventam a cada manhã. Olham para cada canto dos seus negócios à procura de um fio de luz que faça nascer qualquer nova oportunidade. Que nunca se cansam nestes dias de profundo cansaço. Que aceitam o desafio e tentam surfar a crise que está aí para todos, para eles também.

Uns queixam-se da falta de sorte, da falta de oportunidades, da falta de justiça. Outros arregaçam as mangas e trabalham, trabalham, trabalham; mais agora do que em qualquer outro momento das suas vidas. Em todos os dias - nos bons e nos menos bons - com tanto afinco que continuam a crescer.

Estes são os realmente fortes. 

Sobre a violência


Contra a Mulher. Contra o Homem. Contra as Crianças. Contra os Outros. Contra os animais. Contra o Planeta.
Todas as formas de violência são a expressão mais triste do ser humano.

No outro dia ao partir um ovo para estrelar, encontrei gémeos. Hoje, ao descascar amendoins, encontrei três na mesma casquinha. E tudo me traz à memoria como tudo começou, como foi longo e difícil o caminho. Ergo as mãos para o céu e agradeço a Deus esta bênção chamada Maria. Esta força tão grande chamada Amor. O privilégio de sentir a graça e proteção divina sobre nós. Todos os dias.

A decoração de Natal este ano, cá em casa, vai ser simbólica. A Maria ainda não percebe o acontecimento, e nós do que precisamos mesmo é de saúde e paz. De maneiras que montei apenas a árvore pequena e nem sequer tirei as bolas dos arrumos. Luzes e chocolates, e está feito. Gostava de poder dar um abraço à minha mãe e aos meus irmãos, e de que saíssemos destes dias tristes logo. O pai da Maria já lhe comprou dois brinquedos, pelo que eu decidi que não lhe vou comprar mais nada. No outro dia à conversa com uma amiga a quem a COVID19 entrou pela casa adentro e abraçou todos os membros da família, ela dizia-me que este ano tomaram a decisão de não comprarem presentes para ninguém, nem mesmo para as crianças. É uma postura tão correta como a totalmente oposta. Deve haver quem queira celebrar enfatizando ainda mais tudo o que nos traz alegria, porque de facto no que sobra do ano estamos bem precisados dela. E é preciso ajudar a salvar os comércios, e permitirmos assim luzes de Natal em mais casas para alem da nossa. Exorcizar o medo.

É preciso deixarmos o Natal acontecer nos nossos corações.

Muito bom

É tão mas tão sério o que está a acontecer nos nossos hospitais. Choca-me ainda ver gente nas ruas sem máscara, ou a usá-la de forma rebelde. O conforto de que a maior parte de nós ficará assintomático ou com sintomas leves, não compensa o peso de pensar que posso ser a responsável pelo adoecer grave de alguém. É tão fácil o contágio, é tão fácil o descuido.

(...)

Meu aniversário

 42.

Meu primeiro aniversário na condição de mãe.

Um dia calmo, feliz, bonito, na companhia das duas pessoas que são a minha casa no mundo. Com direito a uma bela fatia de mar, a Sol, a champanhe e a muito Amor.

Sobre o confinamento este fim de semana

Uns dias lindos, de um sol absolutamente convidativo, com um céu de um azul sonho mais limpo do que no pico da Primavera. Parece castigo, parece provocação. Nós que somos como os bichos, e andamos fartinhos da toca, lá íamos rejeitar tamanha generosidade do universo?

O que aconteceu na realidade foi que o que as pessoas fariam num fim de semana assim em vésperas de Natal, mais tranquilamente ao longo de um dia inteiro, fizeram na mesma até às 13h. Filas absurdas de gente, trânsito caótico, a Foz ao rubro. Tanta gente sem máscara. Ás 13h lá viemos todos a correr para casa, a chegar tipo a Cinderela mesmo no bater do ponteiro. Entretanto senhores governantes, tudo o que podíamos fazer para espalhar bem o vírus, fez-se na mesma, só que até às 13h. De forma agravada, porque fomos obrigados a juntar-nos mais um bocadinho, devido ao reduzido espaço de tempo permitido para resolver as nossas coisinhas mundanas.

Temos portanto a concluir que a propagação do vírus encontrou neste fim de semana, terreno fértil para continuar a aumentar.

Esta semana cruzei duas vezes com homens a usar vestido. Num dos casos um vestido de veludo vermelho, no outro um vestido curto. Eu sei que mudam-se os tempos, e que o moderno é cada um ser o que bem lhe dá na gana. O que eu acho curioso é que seja necessário chocar para se sentir normal. Que vestir um vestido possa fazer tanta diferença na vida de alguém, seja homem ou mulher.

Sem querer ofender ninguém, acho mesmo que estamos (nós sociedade) a perder seriamente a noção do ridículo.

Flash



Miúdos felizes, numa praia de areia negra, num pequeno povoado numa ilha ao largo de Espanha.
Dos tempos em que não havia horários, nem máscaras, nem suspeitas de tais dias como os de hoje.
(...)

A maior sorte

 




Senti na primeira vez em que ficamos confinados e em que eu, como tantas pessoas no mundo, simplesmente fiquei encerrada em casa. Senti que tinham sorte todas essas pessoas que tinham que sair para ir trabalhar, para os supermercados, para as farmácias, para os hospitais. Desta vez faço parte do segundo grupo. E não tenho duvidas, de que a maior sorte é mesmo sair para ir trabalhar. Quando vou a caminhar pelas ruas, penso mais ou menos em modo de oração Obrigado meu Deus, Obrigado. Obrigado.

Tenho que partilhar

"Sinto que o momento que vivemos torna urgente que se fale de saúde mental e de depressão sem tabus. De um dia para o outro passámos a contar contaminados e óbitos, ficámos sem liberdade como a conhecíamos, a viver uma insegurança em relação ao futuro e presos numa paranóia do presente. Pensar que isto não terá repercussões na saúde mental das pessoas é sermos muito ingénuos. 

O Pedro estava a ser seguido por um psicólogo e um psiquiatra em consultas on-line. Tinha uma vontade enorme de se tratar. Há medicamentos que têm como possível efeito secundário o suicidio. Se o diz, é porque em algumas pessoas causará esse efeito. Isto é um facto não é uma especulação.

A depressão tem várias formas de existir, pode ser mais ou menos “fulminante”, mais ou menos visível aos olhos dos outros, pode ser mais ou menos silenciosa. É importante falar de certas doenças sem associar estigmas. É importante percebermos que quem tem SIDA não é promíscuo, que quem tem diabetes não são os gulosos e que quem tem uma depressão não está na falência. Perceber que todos sem excepção estamos susceptíveis de um momento para o outro de ultrapassarmos o nosso limite, porque ninguém sabe qual é o seu gatilho.

A depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo. Para quem está do lado de fora por vezes não consegue perceber, para quem sente por dentro por vezes é difícil de explicar. O que falta, é falar sobre isto. Sem tabus."

Anna Westerlund

Eu também vi

A postura do senhor Sousa Tavares na condução da entrevista ao senhor Ventura, foi tão má tão má, que o senhor Ventura até ficou a parecer bom.

Sobre a verdadeira resiliência

"Só precisamos de ter Fé uma hora de cada vez, um minuto de cada vez. E depois é só continuar, a cada minuto, a cada segundo. E às vezes descansar e deixar cair. Sem espalhar." - Ela disse-me isto e eu, em tempo de fugir aos abraços, só me apetecia abraçá-la muito.

Sempre admirei pessoas fortes e cheias de luz. Dessas que apesar da própria dor, carregam o sol na algibeira, e iluminam e aquecem por onde passam. Partilham o sol da alma como uma coisa que nunca se gasta. Com serenidade e muita força espiritual.


The loves were playing in the yard Giving goosebumps to all the Sunday summer trees Our hands were eternal in the wings Moving so softly, nobody can see Against your morning skin Well, it's shy like two young lovers walking by There's a soft strange kind of art Giving company to all the lonely hearts There's a hundred cigarettes on the ground And our clothes are still hanging around And it's nice to be ugly in each other's arms So we can grow over all the things we were before

Ver a cidade assim

Vencida, silenciosa, quieta.

Atravessar uma rua inteira sem avistar viva alma. Circular sozinha num autocarro. Cruzar só com sem abrigo, e perceber que são tantos. Deparar-me com a grande ironia de que são eles de facto, os únicos donos de todas as ruas.



Eu gostava de ser lembrada como uma daquelas pessoas que dão sempre um mergulho no mar, mesmo que a água esteja gelada. Sabem essas pessoas? Era como eu queria ser lembrada. Apesar de dias inteiros na praia sem sequer molhar os dedos dos pés.
Raquel Castro, Teatro Nacional S. João

Obrigado a todos os portugueses

Aos que ficaram em casa e aos que usam máscara. 

Mas também - e sobretudo - a todos aqueles que na manhã do dia de hoje saíram de casa para comprar o pão, para comprar o jornal, para tomar um café, para fazer um brunch.

Pessoas

Ontem nos supermercados voltou a pairar no ar um certo caos.  Reparei com espanto que as prateleiras do papel higiénico voltaram a ficar despidas, e não, não é de todo normal. Qual é o problema se acabar o papel higiénico? Confesso que tenho alguma dificuldade em perceber este contágio estilo colmeia. Se faltar o papel higiénico a gente lava-se. O papel higiénico não se come!

Adenda ao post anterior

Em meio destes tempos revoltos, tu evoluis. Cresces saudável e feliz. Depois de um dia inteiro longe uma da outra, à noitinha quando te deixamos gatinhar pela casa, soltas uns risos em modo de gritinhos de pura felicidade, suponho que por estares em casa, comigo e com o pai. Pareces um bichinho selvagem filha, de tão pura e genuína que é a expressão da tua alegria.

És tu que nos salvas, todos os dias.

Minha bebé

Um dia vou contar-te. Uma e outra vez, como faz a tua avó há anos quando me conta sobre a guerra em Angola, ou como faz o teu avô quando recorda alguma vivência do Ultramar, ou como fez o Gabriel Garcia Márquez na sua autobiografia Vivir para contarla, ao descrever para milhões de leitores a dureza dos embates políticos na sua Colômbia querida. A guerra há-de sempre marcar o Homem, esteja ele onde estiver. Ainda esta semana via nas noticias a monstruosidade que se vive em Moçambique, ou a miséria inaceitável com que continua a sobreviver o povo angolano. Eu sou angolana filha; no meu país 65% da população não tem condições para fazer as necessidades fisiológicas dentro de casa. 

Mas voltando atrás, ao principio. Vou contar-te sobre estes dias muitas vezes. E tu provavelmente vais achar-me chata, e se isso acontecer talvez seja bom sinal. Achei sempre histórias de outras vidas, de outras gentes, de outros mundos. Tão longe de mim que jamais me alcançariam desde os livros onde definitivamente moravam - pensava eu.

Hoje precisei de uma guia de trabalho para poder circular na rua. Ontem, na baixa da nossa cidade, a policia envolveu-se em confrontos com manifestantes desesperados com a situação que vivemos. Amanhã vai haver nova manifestação, chamada de A pão e água. Eu e o teu pai ainda não perdemos o emprego, mas a tristeza que sinto começa a contar-se em choros e já são três. 

(...)

Reclamação da criança escondida em mim

Este ano, pelos vistos, não vamos ter árvore de Natal nem iluminação na baixa da cidade. Por causa dos dinheiros que é preciso poupar - agora mais do que nunca - e por causa das gentes teimosas que iam provocar os habituais ajuntamentos junto à árvore. 

Eu tenho a dizer que já só nos faltava roubarem-nos também a alegria do Natal! 

Pecados confessáveis

É bem verdade que onde começa a minha liberdade, termina a do outro. Ouvi falar esta semana no conceito de transportes silenciosos, que por causa da pandemia, lugares da Europa pretendem implementar. Ninguém fala, ninguém aumenta as probabilidades de contágio, ninguém vem para ali no autocarro a por a vizinha a parir ao telefone e todos a ouvirem. Oh céus, eu ia gostar tanto, mas tanto.

Flash

Foto tirada numa rua no centro da cidade.


As relações, tal como na generalidade evoluem nos dias de hoje, são pautadas por modernidade mas continuam presas na névoa do egoísmo, da indiferença. Não como no tempo dos nossos avós e pais, em que o egoísmo era o espelho de um machismo inquestionável, em que num pós-parto eram os homens quem comia a galinha das canjas lá de casa e ainda hoje nos contam isso como se fosse um grande feito. Falo de um egoísmo fency, de uma indiferença vestida quase de estilo. Porque hoje duas pessoas conseguem viver em duas casas diferentes no mesmo Tzero. E é tão moderno, e é tão normal; é quase elegante. 
Queremos sempre alguma coisa que não temos, fazemos sempre muito pouco por aquilo que damos por conquistado. A maioria das vezes esquecemo-nos de ser gentis, de fazermos a diferença na vida daquela pessoa com quem escolhemos partilhar os nossos dias. Falamos de amor como quem fala do carnaval, envelhecemos depressa e deixamos o coração desacelerar como se tudo fosse perdendo importância.
Depois de sete mil dias de falta de sal e pimenta, nem sabemos mais a que sabe um grande amor.

Prometo ficar atenta.

Vacina à vista

Apesar das muitas reticências, dos nossos medos justificados, pode muito bem ser o melhor presente de Natal de todos os tempos. Não é só uma vacina. É toda a esperança que ela carrega.

everybody knows him

Foto tirada numa ruela no centro da cidade.

O que me impressionou, mais uma vez, foi perceber a quantidade de eleitores que ainda assim votaram no Trump. Foi sentir a forma mediática com que o mundo viveu estas eleições, de tal maneira que em alguns horários nobres quase ficou esquecido o assunto Covid19. É saber que o senhor em questão aceita donativos para ir fazer queixinhas, muito possivelmente porque não sabe perder. É assistir a tudo isto, em pleno século XXI.

Tão bom de se ouvir

Flash

 


Todos somos ilhas no mar da vida.

Fernando Pessoa

Estado de emergência

Não há memória de dias tão cinzentos. Acredito que não seja fácil a posição dos decisores políticos, que por mais que se esforcem nunca vão conseguir agradar a gregos e troianos. Mesmo assim, aflige-me tanta falta de bom senso, tanta falta de visão. A tentar resolver o problema da pandemia, estão a alimentar uma ferida económica que começa a ter contornos de gangrena.

Vamos morrer menos do vírus. Mas vamos morrer mais de outras coisas, nomeadamente de fome e de tristeza.

(...)

Flash




A natureza segue o seu curso, impávida e serena. Todos os bichos estão aparentemente calmos, a exercer em pleno as suas funções. 
Foi assim esta semana: uma teia de aranha gigante e quatro lagartas amarelas, encheram-me o coração de esperança.

Nos últimos tempos, todos os dias de manhã acordo decidida a multiplicar a energia em mim. Quase em modo de sobrevivência. Custa-me sair da cama, dói-me o buraco negro crescente no centro das minhas costas (uma dor nova que só me dói quando acordo), mas são segundos. Espreito a minha filha no quarto dela, e ligo o turbo. Tenho dias de viver num non stop das sete da manhã até perto da meia noite. E quando dou por ela não tive tempo para mim, para me sentar a tomar um café, ou para tomar um banho mais demorado cinco minutos. Mas voltando às manhãs e ás decisões, acho sempre que vou fazer melhor, que vou conseguir. Acho sempre que é uma fase normal e chego a confortar-me por saber que a maioria das mulheres, mães de crianças pequenas, passam por isto. Chego a elaborar uma lista mental de tarefas que hoje sim vou mesmo cumprir. Chego a jurar que vou roubar meia hora ao meu tempo, para mim. Mas inevitavelmente chega aquele momento do dia em que a minha vida feito baralho de cartas, começa a ruir. E eu fico triste, abatida por tanto cansaço, a aguentar uma tremenda sensação claustrofóbica por não conseguir sair da roda do rato.

Tenho feito um esforço titânico, mas não tem sido suficiente.

(...)

Novembro

Nunca foi um mês morno, no sentido de nem para a frente nem para trás. Foi sempre um mês de intensidade, de introspeção. Não é um mês triste mas é um mês de aprendizagens e valentias e algumas resultam da dor. É definitivamente o mês em que se instala aquele frio que sabe a Inverno e a Natal. É um mês de limpeza, de muitos ventos e muita chuva para resolver a folhagem vencida. Está á vista que será um mês determinante na forma como vai evoluir a pandemia e como a nível mundial os grandes decisores farão frente às adversidades de forma a conduzir os nossos destinos. Será certamente um mês de duro exercício financeiro para tantas famílias, de muita reflexão na hora de gastarmos, de importantes aprendizagens sobre o que afinal nos faz realmente falta e sobretudo, ao mesmo tempo, de percebermos o quão importante é manter o riso, o calor, a família, a mesa, a magia, a esperança, o Natal. É um mês em que temos mesmo que despertar para uma luta que cada um de nós trava sozinho. 

Não obstante, este Novembro começou com alguns dias de muita luz generosa. Consegui tempo para abrir as janelas todas da casa, renovei ares e deixei entrar a energia única do Sol. Tem sido um tempo para limpar gavetas, para deixar espaços livres, para destralhar a casa e a alma. Se nos focarmos em cuidar uns dos outros, se nos dedicarmos ao detalhe em cada coisa que fizermos, este pode ser um tempo muito importante para que a próxima colheita de frutos espelhe uma recuperação surpreendente.

Tenho tentado acreditar que Novembro vai trazer coisas boas.