Há muito tempo que lido mal com a falta de amor. Com a falta dos outros. Com a angustia que me causa não se importarem. Com o perceber que se eu não mexer as minhas palhas, ninguém mexerá. Com nunca me sentir aprovada em nada, a sinalizar bem todas as frequentes vezes em que alguém verbaliza reprovações em relação à minha forma de ser e de estar na vida. É como se tivesse um vermelho que pisca e dispara sinal sonoro cada vez que alguma coisa me diminui. E porque não poderia ser de outra forma, só tem poder de o fazer quem permitimos ficar perto, ou ficar junto. Para cumulo sou uma sensível até à medula, sou a que vê um avião passar ao longe e chora, o que torna qualquer incompatibilidade na Torre. Quando era miúda achava que um dia ia conhecer alguém que gostasse apaixonadamente da minha forma de ser, dessa terrível sensibilidade que vista de algum outro prisma poderia ser uma qualidade. Hoje sei que não é assim.
Tenho tentado repetir baixinho cá dentro que isto não é sobre os outros, isto é sobre mim. Os outros são e dão o que podem e o que querem, são natureza alheia. Culpar os outros, esperar dos outros, atrasa e estanca o crescimento que a minha alma pretende desta passagem. Devo conseguir manter-me eu, apesar dos outros.
Ficar bem porque sou casada comigo mesma. Porque conheci poucos psicólogos com vocação como sei que tenho. Porque seja qual for o emprego sei que me dedico totalmente. Porque sou escrupulosa na organização do dia a dia da minha filha. Porque não corro atrás das oportunidades, mas fui educada a não faltar ao trabalho por causa de uma gripe. Porque sou simples e gosto cada vez mais de ser assim. Porque tenho Fé, apesar de quase todos os dias fazer a derradeira pergunta de Cristo quando no desespero se sentiu abandonado. Porque sou pobre mas não sou miserável. Porque não sou alegre, mas não sou infeliz.
Um dia tudo perde a importância.
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