Pior que ursa mesmo. Dias em que parece que o mundo me está a cair em cima. É a cabeça a mil com o futuro e nem sei se estarei cá para vivê-lo. É a rotina que me atropela: quando me deito às 2h da manhã e levanto às 7h para levar a miúda, entro em rota de colisão. São os autocarros à pinha e eu sempre a pensar no tempo de vida que gasto fechada naqueles locais às vezes inqualificáveis (hoje fui obrigada a circular colada a um casal de indianos que cheirava a bolas de naftalina). É a cidade com mais carros do que pessoas e nós os dois sempre a discutirmos de manhã porque o trânsito nos enlouquece e é só uma boa desculpa para a nossa incompetência que nos leva a ainda não ter decidido que a rotina deve começar às 6h. É o barulho de obras há meses a entrar-nos pela porta de casa adentro. É o prédio sempre sujo e todos os dias caras novas, gente que não diz bom dia nem espera por quem vem a correr, gente que circula no elevador com sacos do lixo com cheiro nauseabundo. É a falta de tempo para algumas pessoas realmente importantes para nós. A falta de férias também, que este ano não tivemos nem vamos ter. De resto ninguém está doente graças a Deus, só eu tenho esta garganta mais inflamada que o inferno. E só eu mesmo acho que não é preciso termos covid para usar máscara. Gripes comuns também se transmitem e é uma pena que a pandemia não nos tenha deixado sequer a consciência de que deveríamos sempre proteger-nos uns aos outros. Bichinhos de memória curta, é o que somos.
Suspiro fundo quatro vezes. Digo duas palavras bem feias que me vão pesar na consciência durante horas. Arrasto-me.
E ainda nem sequer começaram as chuvas!
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