Crianças pequenas não são sempre adoráveis. A Maria faz coisas incríveis e enche-nos de orgulho tantas vezes, mas uma grande parte do tempo dela é dedicada a fazer coisas banais com birras à mistura. Nada de génios cá em casa. Acima da centena de avisos e ameaças, farta-se de deixar a porta do frigorifico aberta atrás dos iogurtes com a família do Bluey desenhada. Fica irritada sempre que a contrariamos e atira coisas ao chão (morro de vergonha mas é verdade), especialmente nos controlos anti-ipad. Ainda esta semana usou uma barrinha kinder para fazer um treatment completo à pele, roupa, carro e tudo ao redor: percebi o que estava a fazer pouco antes de entrar no trabalho e quase tive um enfarte. Do nada, lembrou-se de cantar alto no autocarro que todos são uns gordos; juro que não sei onde foi buscar aquilo, só sei que não a consegui calar naqueles berros à capela de acordar um morto.
E é muito difícil esta tarefa de educar. Porque hoje em dia nós pais muitas vezes lutamos sozinhos contra o mundo, e aqui não há tolerância, não vale deixar-se ir com a maré. Porque os miúdos são espertos, testam-nos constantemente e de alguma forma especial também nos educam a nós pais.
O certo é que as pequeninas coisas que ela faz com três anos, nos enchem o coração e nos fazem acreditar que este ser humano pequenino já quase do meu tamanho, está a ser pensado para fazer o bem e o belo. É só nisso que apostamos todas as nossas fichas, em estar atentos. Perceber, valorizar e alimentar sempre o melhor lado dela. Sem garantias nenhumas de futuro. Porque um filho é e será sempre uma carta fechada (escrita à mão).