Nos dias mais difíceis, em que o cansaço acusa um maior desgaste, em que a fúria e as lágrimas me fazem brigar com o mundo por tudo e por nada, o melhor é ficar quieta, em silêncio.

O Amor há-de superar, sempre.

Eu ri-me muito a sério, à gargalhada descontrolada como há muito tempo não me acontecia, no ultimo programa do Ricardo Araújo Pereira. Aquela do "acampamento de cheganos" merecia um prémio.

O que me preocupa é que algumas pessoas até com formação e conhecimento, põe a hipótese de apoiar o Chega. Nem que seja só para contrariar o actual governo, nem que seja só para que em nome da democracia possam ser assim um bocadinho fascistas, às vezes confusamente com laivos de anarquistas, naqueles dias em que só porque sim, vestem o fato anti sistema.

Podia sentar-me aqui agora a escrever sobre tudo o que não me agrada no actual governo. Para mim é indiscutível que o mais grave tem acontecido na área da Saúde. Sendo que é tão fácil apontar o dedo, desconfio que ficaria a manhã inteira a escrever.

Mas votar no Chega? Porra!

Não sei em que momento começamos a ficar tão acéfalos. A situação é tão séria que brincadeiras ou birras sobre o futuro da politica no nosso país, pode apenas agravar ainda mais o que quer que seja que nos espera.

Ontem, sentada num banco de igreja perto de mim, estava uma senhora idosa absorvida nas suas orações. Foi a primeira vez que vi alguém com duas máscaras postas, uma sobre a outra. Pode parecer um absurdo gigante, eu sei. Do mesmo modo que me parece um absurdo os aglomerados de miúdos pelas ruas sem guardar distância e sem usar máscara. E por favor não me digam que socialmente é muito difícil para os nossos jovens manterem determinado comportamento; difícil é passar fome, perder o emprego ou ver um familiar morrer.

Só daqui a muitos anos os livros de História ditarão quem foram os posicionados do lado da razão.



É tão isto. 
Sobre a cura, para tristezas e inquietações.
Precisamos - muito mais do que de realizar sonhos - de sonhar.

(...)

O expoente máximo do Amor

"Quando o meu pai chegava a casa corríamos todos para ele. Chegava quase sempre com um sorriso que se mantinha apesar do dia, dos problemas, do trânsito ou das chatices que tinha vivido. O meu pai gostava de chegar a casa. E isso, para nós, chegava. Ele gostava de nos ver, de nos abraçar, de nos fazer cócegas e principalmente de abraçar a minha mãe. O meu pai tocava piano fazendo caretas cómicas e também tocava guitarra abstraindo-se do frenesim típico de uma casa com nove filhos. O meu pai só lia o jornal ao fim do dia, sentado na cadeira que era só dele e apesar do barulho da televisão. Só nos mandava calar para ouvir o telejornal e só perdia as estribeiras com a política – muitas vezes, portanto. Também falava muito. Adorava falar, contar histórias e partilhar o que lhe tinha acontecido todos os dias. Nós eramos a sua casa, o seu mundo, a sua vida. Tive a sorte de crescer assim. Cresci com um pai que trazia amor para casa, boa disposição, emotividade, verdade e sabedoria. Um pai que tinha preocupação de dar e não de receber, que gostava de partilhar e que tinha a preocupação de nos ensinar os valores nos quais acreditava. Ele tinha urgência em partilhar todos os dias ao jantar aquilo que achava importante os filhos aprenderem para um dia escolherem ser aquilo que quisessem. O meu pai não me perguntava pelas notas, não sabia as festas que eu tinha, não opinava sobre as minhas roupas e não me questionava sobre os meus estados de alma. Ao pé do meu pai eu era livre de ser quem era, de estar bem ou mal disposta, sem julgamentos, pressões ou exigências. O meu pai não me exigia resultados, pedia-me esforço, que amasse a vida e que reconhecesse o privilégio da família que tinha. Em troca, tinha-o a ele. Generoso, justo e alegre. O meu pai chorava a rir. Caiam-lhe lágrimas pela cara abaixo como só acontece com quem é genuinamente feliz apenas pela graça da vida. O meu pai era alegre, era um exemplo de coerência, de trabalho e de grandeza. Também era intolerante. Sim, era muito intolerante: não admitia desonestidades, não admitia injúrias e odiava o sarcasmo. Era genuinamente bom. Não via maldade nos outros (com honrosas excepções em alguns políticos) e facilmente cedia para evitar o conflito, o ódio e a agressividade. Só tinha orgulho dos seus valores e da sua família, em tudo o resto era humilde. O meu pai nunca conheceu os meus professores, também não me ensinou a andar de bicicleta, não me levava ao médico e não me lembro de me ter lido histórias à noite. Lembro-me que me pedia muitas vezes a opinião para me conhecer melhor e lembro-me que as raras vezes que se zangou comigo foi por coisas sérias que têm a ver com a formação de carácter. O meu pai era o suporte da minha mãe e os dois eram o nosso suporte. Sei que os pais de hoje são diferentes do meu pai. Aos pais de hoje pede-se que vão à escola às festas dos filhos, que mudem as fraldas dos bebés, que lavem a loiça, que saibam escolher as roupas das filhas e que cozinhem o jantar. Os pais de hoje têm de partilhar funções que dantes eram da exclusividade das mães. O mundo mudou e nessa mudança é obrigatório que os pais também mudem. Não o fazerem é mais do que absurdo, é injusto. Mas o papel fundamental dos pais nem é esse, essa partilha de funções são uma consequência normal de uma realidade diferente. O papel fundamental do pai continua a ser transmitir amor e alegria aos filhos. Com o meu pai não aprendi a andar de bicicleta mas aprendi que numa casa onde se ri alto, onde o pai chora a rir e onde os filhos sabem que é lá que o pai gosta de chegar todos os dias, vive uma família feliz."

No i de um sábado de 2015

Partilhado pela Inês Teotónio Pereira

Muito mais do que empatia

Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti.

Simples.

E se fosse COVID?

 A Maria fez o teste esta semana. O resultado foi negativo.

Serviu para refletir um pouco sobre as possibilidades. Sobretudo ganhei alguma consciência de que um positivo cá em casa é um cenário possível, real e até normal. Quando acontecer, se acontecer, vamos tentar enfrentar com naturalidade.

Quero continuar a preocupar-me com esta questão de forma responsável, não quero que se torne o centro da nossa forma de ser e de estar na vida.

Sobre os sonhos e a precisão do inconsciente

A noite passada tive um sonho carregado de significado. Um sonho com nudez, elevadores e cruzetas vazias:

"Se você sonha que está nu, você está deixando para trás tudo o que interfere de forma nefasta com a sua vida. Uma nova mulher está a surgir."

"Sonhar com elevador significa que é necessário ter insistência e perseverança para alcançar a vitória. Um elevador parado é sinal de doença em família."

"Sonhar com cruzetas ocorre com maior frequência quando quem sonha está a sentir-se sobrecarregado. Todo esse sobrepeso demonstra que você ainda não consegue gerir seu tempo, seu espaço, suas ideias, sonhos, desejos. Sonhar com cruzetas vazias é uma verdadeira advertência para que você passe a ser uma pessoa organizada. É essencial saber gerir o seu tempo e as suas atividades para alcançar qualidade de vida."

Fonte: Web



Esta musica é como um presente envolvido num embrulho bonito. Como uma promessa guardada para os dias melhores que hão-de vir.

Sobre a COVID-19 e a imbecilidade elevada ao expoente máximo

Esta semana vi em diferentes pontos da cidade, adolescentes a circularem em grupos grandes, sem guardarem distância, todos eles sem máscara. Numa atitude perfeitamente descontraída, que eu senti como provocatória. Os pais vão trabalhar de máscara - eu diria porque são obrigados - e os miúdos aproveitam para conviver cá fora tudo o que não podem conviver dentro dos colégios. Dentro de muito pouco tempo teremos o resultado. Para os que acreditam mesmo no exemplo da Suécia, estes miúdos serão uma espécie de salvadores da pátria. Cof cof.

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Foi noticiado hoje que no principal hospital do norte, por causa da pandemia, espera-se nove meses para se fazer uma endoscopia. Querem tanto salvar-nos da COVID-19 que nos deixam morrer à toa de todas as outras doenças.

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De resto cá em casa estivemos todos constipados e percebemos como se transformou num constrangimento espirrar ou tossir num local publico. Logo logo há-de passar-nos a frescura, que o Inverno até se ri desta malta toda.

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Quem mais se protege, está infetado. E no meu local de trabalho aconteceu mesmo, de alguém pedir a alguém a máscara em uso emprestada, para atender um cliente.

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Sobre essa fase da vida

Em que percebemos a urgência de praticar a mudança. Nas diferentes esferas. Como quando limpamos a casa e abrimos as janelas de par em par para deixar entrar o sol. Em que não temos mais paciência nem queremos ter, para aquela gente adjetivada com tudo o que contraria a nossa forma de ser e de estar. 

Em que ficamos mais velhos e nos damos conta disso com uma perceção tão acutilante que quase nos apercebemos da transformação celular no instante em que ocorre.

Ando a entristecer, e a pensar outra vez demasiado no mundo, nas pessoas, nas coisas que acontecem como se às vezes ocorressem dentro de mim.

A Vida é muito mais do que um ensaio. Ás vezes somos palco, ás vezes somos plateia. Entre uma coisa e outra, precisamos de estar bem, de nos sentirmos no caminho. E é isso que me falta.

A Vida já me deu. Agora está a pedir-me. E eu não consigo responder, sinto-me presa a esta cadeira de rodas psicológica em que me sentei faz tempo.

Mãe aos 42

Não tenho grande tempo para coisa nenhuma. Alguns dias nem o pequeno almoço consigo tomar. Os banhos - os meus - são a correr, como quem apaga um fogo. Cortar o cabelo? Mãos à obra, pois! No outro dia achei que conseguia, que podia, que tinha direito, a marcar uma massagem. Surpresa? Desmarquei duas vezes e perdi o animo para voltar a marcar o que quer que seja. A casa fica um caos de um dia para o outro. As idas para o infantário têm sido motivo de picos de stress que me deixam com mal estar o resto do dia. Opto por ficar com a Maria em casa nas minhas folgas mas confesso que por vezes fico ainda mais cansada do que se fosse trabalhar. Esqueço-me de tomar a pilula mas pelo menos nisso não há stress pois nem animo sobra para correr riscos de arranjar bebé. Não respondo a mensagens nem chamadas das amigas mais próximas, nunca tenho tempo. Fazer uma caminhada a pé pela cidade? Não sei mais o que isso é, vivo metida em bolts a aturar motoristas rebeldes sem máscara. Não raras vezes a sentir-me muito pequenina, a querer só um par de horas para chorar no colo da minha mãe sem ninguém me ver. 

Sinto-me envelhecer por dentro. A Maria e o Luís são o meu Sol que nunca se apaga. Mas que fase esta da vida, em que um descontentamento geral me impede até de ser melhor para eles.

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Sobre o trauma

Trauma significa ferida. 

Quem não as tem. Às vezes só sabemos que ainda temos, vinte anos depois.

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Avô e neta



Quanta ternura.

Sobre a espiral dos dias, a nova eu desperta muitas vezes às seis horas da manhã. E só esse instante do dia, me parece ainda limpo e saudável. O silêncio, a alvorada, a quietude ímpar que me sabe tão bem sentir. Eu calma, quieta comigo, a saber respirar. Até que olho para o relógio e numa correria, desato a errar. Acabo todos os dias profundamente exausta. E ás vezes, triste por ser assim.

A nova eu almeja dias de chuva e frio, porque desconhece ainda quão dura pode chegar a ser a nova realidade. Vai ser uma violência enfrentar o Inverno lá fora com uma bebé. Valei-me todos os Santos.

(...)

Sobre o teu pai

Conseguimos, finalmente, deixar-te dormir sozinha no teu quarto. 

Só o teu pai não conseguiu dormir. Foi espreitar-te de hora a hora.

(...)

Coisas muito boas desta semana

 Oito meses da Maria nas nossas vidas. 

Temos o primeiro dentinho dela cá fora.

Já diz mamã.

O mundo está mesmo estranho

Sem meios termos. Divide-se entre o que lutam contra a corrente e os que vão com ela. Nos que não têm medo de nada, e nos que têm medo de tudo.

(...)

O que mais me custa

Deixar de dormir com a Maria ao meu lado, passá-la para o quarto dela.

Já tentamos, mas não fomos capazes.



Num mundo em que quase tudo e todos giram à volta do dinheiro, em que megalomanias, invejas e corações pequeninos se atrapalham com nada, eu acredito mais e mais nos que criam, nos que dão, nos que se dão. Nos que continuam a importar-se, nos que acrescentam graça. Nos que para alem de serem assim, persistem em serem assim.

Precisamos tanto de esperança, de gente que nos conte coisas boas, que nos mostre outras perspetivas.

(...)

Esta semana sonhei com um cavalo branco, bravo.
Prenuncio de vitórias, de dias melhores.

Aniversário da minha irmã

E nós tão longe. Sinto falta deles. Sinto a angustia de pensar quando voltaremos a estar os cinco juntos, a mãe e nós. Sinto tristeza e impotência por não poder ajudar a resolver nada. Sinto falta dos abraços. Tantas brigas inúteis, por vivermos como se nos fosse dado o tempo todo, para sempre.

Sobre a minha mania de brincar com coisas sérias

Peguei no Livro das Respostas e perguntei se no próximo ano a espécie humana consegue dar a volta e estabilizar perante a pandemia e todas as crises associadas. A resposta deixou-me com um nó na garganta. Bem no meio de uma página em branco, duas letras apenas:

Nem pensar.

Sem dar por ela

Sem dietas nem ginástica, só stress a rodos e bastante trabalhinho que nunca fez mal a ninguém, faltam-me apenas 6kg para voltar ao peso que tinha quando engravidei.

2020

Um dia a mãe vai contar-te que nasceste num ano muito difícil. Num ano de grandes incertezas e preocupações. Um dos teus avós adoeceu. Os teus tios vivem já incertezas maiores em relação ao emprego. O mundo rebola ribanceira abaixo e ninguém sabe onde vai parar.

Oxalá o Amor da mãe e do pai te possam salvaguardar do que vier.

Sobre Setembro

Gostava de pegar no meu rapaz e na nossa miúda e fugirmos para algum lugar cheio da luz mais bonita do ano - a de Setembro. Mas por várias razões, a sensatez não nos permite.

A vida passa mesmo a correr, haveremos de encontrar forma de compensar este Verão tão atípico e quase imperceptível para nós. 

(...)

A Maria e o infantário

Não me custou deixá-la lá, acho que somos ambas bastante independentes nesse sentido. As poucas horas de habituação na primeira semana correram lindamente. O crash aconteceu quando a deixei lá ficar o primeiro dia inteiro. Nunca me hei-de esquecer do olhar dela quando a fui buscar. Doeu-me tanto, senti o meu coração partir-se em cacos irrecuperáveis.

Mas faz parte. Temos que passar por isto.

Foi-se Agosto, entrou Setembro. E eu que queria tanto que o Agosto passasse, nem dei por ela. Ando a viver de forma frenética. Preciso de parar e cuidar de mim. Perceber que não posso viver muito mais tempo a ignorar este vermelho a piscar cá dentro.

Um destes dias passei a pé na baixa da cidade, e por acaso nesse dia, nessa hora, estava novamente cheia de gente. Quase como nos bons velhos tempos, não fosse olhar para aquele cenário e pensar no perigo que se esconde á espreita quando nos misturamos assim.

Se não fosse o absurdo de ver lojistas de viseira posta (sem máscara) a atenderem o cliente com a viseira levantada, se não fosse o cumulo de ter visto nos primeiros tímidos dois dias de chuva gente a correr de cabeça molhada e sandalinha no pé, se não fosse ter que circular em autocarros e perceber o quanto a gente já pouco se importa com o assunto, se não fosse ter sentido nos últimos dias um claro aumento da mendicidade nas ruas, eu diria que esta história da pandemia surgiu só mesmo para nos tirar o sono uma boa meia dúzia de dias.

O que mais me aborrece, o que realmente me consome, é essa mão cheia de gente que faz uma apologia contra o uso de máscara, numa quase atitude de megalomania. Ás vezes acho que a raça humana, enquanto raça em desenvolvimento, merece o que está a acontecer.

Como quando interrompemos um carreiro de formigas, para as afastar. Se não tomarmos mais precauções, logo logo elas terão refeito a rota. É claramente a teimosia que nos leva. Só não sei se com atraso, se com adianto.

(...)