Quando se vive longe
















Tem muitos dias que é como viver fora de nós.
Os oito anos que vivi fora, foram uma espécie de período de latência na minha vida. Cresci muito, ganhei horizonte, aprendi o valor das coisas simples como o cheiro bom dos produtos da nossa terra, como o privilégio de termos ainda as quatro estações do ano, como ter todos os dias alguém nosso perto, como simplesmente não existir nenhum lugar mais belo no mundo do que a nossa casa, a nossa cidade, a nossa família; aprendi a gostar do Porto mais dentro, mais fundo.
Ficava doida cada vez que regressava a casa; batia as feiras todas, os restaurantes, comovia-me com as velhas na ribeira e as manhãs de nevoeiro; o tempo era sempre curto.
Aprendi contudo a ser mais calma, fiquei mais em sintonia com a vida; só viver fora me fez ter certezas sobre o meu lugar no mundo.
Todo o emigrante desenvolve uma certa nostalgia, como uma dor miudinha de uma agulha invisível que pica sempre no mesmo sítio, cada vez que chega a hora de ir embora.
Atrevo-me a dizer que são esses os que partem e sofrem, que mais amam Portugal; inclusive mais do que aqueles que nunca bateram asas.

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