Acredito mesmo que trouxe além do mar de fundo revolto que já vai ceifando vidas, mudanças em nós tão profundas e fortes como a força das marés. O certo é que no dia seguinte puff! Tivemos finalmente Sol! E a minha alminha que andava sedenta de luz, percebeu pela milionésima vez que o grande milagre de todos os dias, está na força e constância ou inconstância da Natureza. É imenso o que nos oferece numa mensagem implacável de esperança e recomeço, é tremendo o poder de cura, é realmente grandioso o poder do belo com que gratuitamente nos contempla.
Mas sobre as mudanças interiores em cada um, as bestas às vezes só ficam mais bestas. Prova disso foi o que presenciei esta semana num autocarro. Uma senhora seguramente com mais de 75 anos, que olhava com uma insistência como se nos conhecesse de algum lado, na direção onde estava eu sentada, ao meu lado um rapaz negro como do Senegal e na nossa frente uma senhora cigana de meia idade. Quando a senhora cigana saiu, diz a senhora idosa à amiga, em tom alto e sempre a olhar para mim: "Estou farta, farta, farta! De brasileiros, de pretos e de ciganos! Era mandar tudo daqui para fora que cá só estorvam!" Cautelosamente, só fez o comentário depois da senhora cigana sair, e devia estar perturbada comigo só de pensar que o meu caso seria um dois em um: preta e brasileira! Não consegui dizer nada a esta clara votante do Chega. Ia a comentar com a amiga que o filho que vive do Rendimento Mínimo lhe quer chegar fogo à casa. E eu para os meus adentros, cometi o pecado de pensar: "Cada um tem aquilo que merece. Tenho 45 anos e nunca vivi de qualquer subsidio. Bem haja a minha cor, os meus princípios e a minha educação." E por favor não me venham dizer que em Portugal não há racismo nem ignorância. Um autocarro inteiro ouviu aquilo, e ninguém foi sequer capaz de se pronunciar.
Mas ainda sobre o eclipse, porque temos que culpar alguém, avariou a máquina de café cá em casa, e no extremo da má vibração estalou mais uma guerra no mundo. Acho que é cada vez mais urgente fazermos as coisas bem, sermos pessoas de bem. Cá em casa surgiu uma praga de formigas, coisa nunca vista entre as minhas quatro paredes. Este ano elas estão particularmente activas, mais trabalhadoras do que nunca, a começar mais cedo ainda e teimosas no caminho que nem mulas! Deve ser sinal de alguma coisa. Digo eu.
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