Foi assim o nosso Natal

 


Começou com a alegria imensa de ganhar este presépio como prenda de Natal da minha filha. Achei simples, ternurento, engraçado de tal maneira que partilhei a imagem com meio mundo. Achei que ia guardá-lo pela vida inteira. Mas não. Na manhã da véspera de Natal, a minha filha lembrou-se de me dar o primeiro desgosto da nossa história de mãe-filha: comeu o presépio! Fiquei triste, zangada, indignada, enfim fritei mesmo a pipoca no meu quinto piso. Mas é isso mesmo a vida, aprender a relevar. Afinal a miúda apenas comeu uns amendoins, só isso. Já anda a comer os chocolates da árvore de Natal há tantos dias, que comer o presépio não deve ter sido nada absurdo para ela. Anyway o verdadeiro presépio é aquele que cada um de nós consegue trazer dentro do coração: tive que me agarrar às boxes e digerir a situação.
Depois foi aquela canseira típica destes dias, que eu senti mesmo não tendo sofrido na pele a azáfama da cozinha: abençoada sogra. E uma tristeza miudinha que se encostou a mim já há vários dias, que eu nem sei bem porquê mas espero mesmo que este modo Florbela Espanca não entre comigo em 2024: sai encosto! Depois na noite da consoada foi muito giro ver a alegria da minha filha com os presentes. O avô vestiu-se de Pai Natal e ela embora tenha topado logo que era o avô, entrou no jogo e tratou-o mesmo como se fosse o verdadeiro Santa Claus. Fiquei com pena de nós, acho que a miúda não nos quis decepcionar nas nossas expectativas e ansiedades natalinas. Após abrir 24 presentes (eu sei, insano!), fez uma birra porque o Pai Natal não lhe trouxe um dinossauro gigante e castanho. Calma, não foi que ninguém se lembrou, foi mesmo que ninguém sabia que ela queria tal coisa. De resto foi muito sossegado e oxalá pudesse ser assim o resto da minha vida. 
Ah, claro: senti uma falta dolorosa, imensa, dos braços da minha mãe. Uma nostalgia por causa daqueles natais bem pobres, com os meus irmãos, juntos para o que desse e viesse. Uma dor fininha por sentir que nunca mais vamos voltar a estar todos juntos.
A coisa mais fora da caixa, for ter comido tremoços (pela primeira vez este ano) na semana das festas; foi nem sequer ter comido grande coisa de doçarias. Foi perceber que estou farta da minha decoração de Natal cá de casa e que num Natal muito próximo a mudança vai de fio a pavio. Foi a Maria ter ido ao Circo com o avô e voltar para casa traumatizada: um dia conto-lhe que sempre detestei Circo. Foi o meu Luís ter-me abraçado e tolerado 758 vezes o meu mau humor porque trabalho sete dias seguidos até ao novo ano e ando piurça por levantar o lombo da cama todos os dias às cinco horinhas da madrugada, com este frio, tão bom! Foi ver a minha filha dizer as horas a alguém na rua pela primeira vez na vida dela. Foram aqueles dias lindos lindos de céu azul e sol tremendo a encher-nos de boa vibe. Foi pagar mais de cinquenta euros por um simples pão de ló e um bolo rei! Para o ano vamos ao Lidl que acho mesmo que o mundo enlouqueceu. Foi ouvir a minha menina cantar canções de Natal no coro da Igreja, e no Hospital.
(...)
Ufa, chega, não vos conto mais.

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