Se temos um prazo de validade, o meu deve estar bem perto do fim. Pelo menos é o que sinto, um cansaço e uma tristeza que me vem de tudo. De uma vida a dois que me começa a desencantar, de uma filha que está cada vez mais exigente e eu cada vez mais sinto que não estou à altura e que deve haver por aí muita loira gira capaz de aceitar o presente de braços abertos e que de certeza absoluta fica melhor no retrato, de uma família que está longe e que eu já não sinto minha, de tentativas frustradas de continuar num barco profissional que eu já perdi faz tempo, das preocupações com dinheiro mês após mês - odeio dinheiro ao contrário de quase todos os que me rodeiam. Cansada de tudo e de todos. Hoje perdi a ultima conferência da Ordem em que me inscrevi. Depois de me levantar às 5h da manhã para ir trabalhar, de apanhar dois autocarros para ir buscar a Maria, portanto três para finalmente chegar a casa já às 18h, percebi que acabou. Pelo meio consegui ganhar dois palavrões num telefonema, e um vazio enorme por me sentir a cair num poço sozinha.
Não há nada mais triste do que nos sentirmos sozinhos junto dos únicos que achamos que temos. Talvez a próxima decisão seja mesmo a de ir embora. Outra vez. Para sempre. E se já sobrevivi uma vez, sobrevivo de certeza novamente.
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