A minha filha

É a força de uma falha tectónica grave no seio deste lar. Ela é mais do que o esforço levado ao limite num ginásio de bairro. Tem energia e alegria, é exigente, a rainha das birras, a que nunca cede a chantagens, a que muitas vezes nos cansa até cedermos. Quando o pai chega a casa no fim do dia, faz com que ele corra atrás dela, se quer ganhar-lhe um beijo. Faz-nos sentir o peso da idade, ao mesmo tempo que nos faz perceber que ela é o melhor fruto da nossa maturidade. Quando abraça, cura. É sensível e inteligente. Já brinca com as bonecas às profissões; um dia vou contar-lhes que a primeira imitação que fez, foi de professora.

Esta semana quando saíamos do colégio, sobre o senhor porteiro de quem ela gosta tanto, disse-me numa entoação de quem sabia exactamente o que estava a dizer:

Mamã sabes, o senhor Nuno é um tesouro...

Tesouro. Todos os dias aparece com palavras novas, mas aquela encheu-me o coração. 

A mesma que é doce também é rebelde: Rasga os livros. Parte loiça. Desaparece com os pins do frigorifico. Risca as paredes. Adora brincar com bolas. Tem pavor a moscas.

Todos os dias me faz perceber que eu não tive uma princesa, mas sim uma Rainha.

(...)

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