Ainda estou á espera que alguém o ponha no devido lugar.
Até lá já ganhou um Óscar e até a primeira página de um jornal português.
Expressão da minha terra que significa coisas tão diferentes e opostas como repugnância, enfado, surpresa, alegria, alivio, espanto. Expressão que me lembra a minha avó e me une à minha África-berço que não conheço. Uma palavra inteligente, que obriga a interpretar por inteiro a frase, incluindo a entoação e o sorriso ou a interrogação que dela fazem parte.
Ainda estou á espera que alguém o ponha no devido lugar.
Até lá já ganhou um Óscar e até a primeira página de um jornal português.
Tem sido atordoante ouvir ou ler qualquer noticia, a qualquer hora, em qualquer meio de comunicação. A Ucrânia tornou-se numa bandeira mundial e ao mesmo tempo num presságio de maus ventos. Ao mesmo tempo choca-me como ao fim de um mês a guerra já se normalizou para a maioria de nós. Verdade seja dita que não poderia ser permanecermos chocados. Mas seja COVID seja guerra, nada parece resistir à nossa indiferença crescente. Habituamo-nos seja ao que for.
(...)
É impossível andarmos, comermos, dormirmos, com a mesma leveza e firmeza de antes. Estão crianças a chegar sozinhas, fugidas da guerra, a lugares quaisquer.
Há uma coisa bem diferente nesta guerra. Os voluntários não precisam de se esconder para fazer o bem. E são imensos, e sorriem. Quanto não valerá um sorriso ali?
(...)
Tinha lido aqui e ali, tinha sido alertada por uma ou outra amiga, de que óleo e azeite já estavam a ser "racionados" em algumas grandes superfícies. Não valorizei até que realmente fui ao Continente e vi a grande e verdadeira prateleira do óleo Fula, vazia.
Esperar o quê?! Se outrora ficamos assustados com a falta de papel higiénico, imaginem quando se fala de géneros alimentares.
Apesar do desânimo, após um dia de chuva tão almejado - e venham muitos mais - o Sol espreitou lá em cima bem junto aos telhados mais altos.
Aí temos o próximo Nobel da Paz. Desde Martin Luther King que não ouvíamos discursos assim, com tanta veemência e certeza. Sabe bem saber que ainda existem homens assim.
No entanto, nesta luta pelo Bem, o preço a pagar é sempre demasiado alto. Paga-se com vidas. E fica sempre esta triste sensação de que o Homem irá subjugar o Homem, numa guerra ridícula de comuns mortais que se sentem deuses, ad eternum. Por um punhado de terra que na verdade não pertence a ninguém.
Nada é nosso. Todos estamos aqui de passagem.
Nos últimos dias tenho pensado nos milhares e milhares de pateiras que se afundam há anos no oceano, com africanos que ninguém quer receber em parte nenhuma. E na quantidade de ucranianos há uns anos no nosso país, que poucos tratavam com respeito e dignidade. Nesse tempo soube de senhoras ucranianas com formação superior, a trabalhar em casa de abastadas senhoras portuguesas a troco de comida. O espelho da solidariedade que esconde muita hipocrisia.
(...)
Ouvi tantos absurdos. Que não deveria celebrar-se o dia da Mulher e sim o dia LGBTQ etc etc - assim uma espécie de dia hiper-mega justo, que nos englobasse a todos, isso é que era pá! Que continuamos a ser menos porque maioritariamente são as mulheres ucranianas que partem com os seus filhos e os maridos ficam a combater - como se ficar a combater fosse menos difícil do que partir.
Tenho a certeza de que ainda nos falta muito por conquistar, mas todos os dias grandes Mulheres continuam a fazer grandes conquistas. Grandes Homens estão ao nosso lado e devemos estar gratas por isso.
No passado dia da Mulher fiquei em casa, não fui trabalhar. A Maria adoeceu e pela primeira vez desde que ela nasceu, não hesitei em dar-lhe o lugar prioritário que sempre foi dela mas que muitas vezes descuidei em prol de uma relação laboral. Por ser um dia tão especial o melhor exemplo que poderia dar à minha filha foi este: estar viva e desperta na luta pelos meus direitos e sobretudo pelos dela.
(...)