A Paz dos Vencidos



É o nome do monumento na entrada do lugar onde hoje me fui despedir de ti. Naquele que é o cemitério mais bonito da cidade, onde eu não ia há uns bons anos. Esperei-te durante quase duas horas, alternadas entre chuva e raios de sol por encomenda. Conversei com os dois senhores que trabalham no crematório. Gente de uma amabilidade e sensibilidade enormes. Fiquei a perceber todo o processo e tomei a primeira decisão sobre a minha partida: dispenso flores. Estava marcado às 15h, mas não foi. A essa hora fizeram-te as cerimonias fúnebres na tua cidade, e eu faltei. A tua mãe disse-me que a homenagem dos teus alunos foi a coisa mais bonita deste mundo. Bem mereces. Quando chegou o carro que te trouxe, eu estava sozinha na porta do crematório. E tu chegaste sozinho. O senhor responsável pelo crematório disse-me que quando a família não acompanha até ali, normalmente "entram logo para dentro". Mas que se eu quisesse te colocavam numa salinha à parte para termos a nossa despedida. Assim foi. Ficamos ali sozinhos, o teu caixão gigante e eu. Á porta dos fornos que amanhã às oito e trinta te vão transformar em cinzas.
(...)
Sinto um buraco estranho no peito. Como e fico com a sensação de ter uma bola de pêlo na garganta, um entrave qualquer que me faz sentir mal durante horas. Acordo durante a noite, triste. Queria saber mais sobre a morte, queria ter estado ao teu lado nesse ultimo instante. Tudo isto que é a Vida, ficou num lugar suspenso de repente. 
(...)
Preciso de tempo. Mas prometo-te, por causa de tudo o que me ensinaste, vou Viver diferente a partir de hoje.

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