Paradoxos de um mundo às avessas

Uma corrida louca de todo o mundo contra um vírus, a tentar salvar Vidas. E naquela fronteira entre Rússia e Ucrânia sabe-se lá quantas Vidas vão ser peões de jogo.

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Todos os dias tenho pensado em ti Nelinho. Aquele nó na garganta, a sufocar-me as horas inteiras do dia, desapareceu. 

Sinto-me mais calma, mais ponderada, em relação a esta breve passagem que é a vida terrena. Há uma necessidade de viver bem cada dia; é importante que seja qual for o cenário, me aperceba sempre das coisas infinitamente belas todos os dias ao meu redor. 
Preciso de amar as pessoas à minha volta, não deixar para depois. Esta sorte imensa de ter a Maria e o Luís na minha vida, os nossos abraços a três, os risos de alegria misturados, as pequenas e as grandes surpresas, são a minha Bússola. São a minha carteira de bilionária, num mundo onde infelizmente são muito poucos que sabem o que é realmente ter tanto.

No inicio do ano o Luís levou-me a Fátima, numa tentativa amorosa de me tentar salvar de tanta tristeza. Entrei no carro para irmos comprar flores e quando dei por ela estávamos na autoestrada, a caminho do Santuário. E foi assim, ali, que apesar de tudo senti que começava bem o ano. Em oração. 
Acendi uma vela por ti, meu amigo. Onde quer que estejas, haverá Luz, estou certa disso.


Tempos estranhos.

2 anos de ti meu Amor maior

Foi no passado dia 17 que a minha amorinha deixou de ser bebé e passou a ser criança. Dizer-vos que não há rigorosamente nada que se compare a este papel de mãe, a este Amor infinito vezes infinito por este ser pequenino.

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A Paz dos Vencidos



É o nome do monumento na entrada do lugar onde hoje me fui despedir de ti. Naquele que é o cemitério mais bonito da cidade, onde eu não ia há uns bons anos. Esperei-te durante quase duas horas, alternadas entre chuva e raios de sol por encomenda. Conversei com os dois senhores que trabalham no crematório. Gente de uma amabilidade e sensibilidade enormes. Fiquei a perceber todo o processo e tomei a primeira decisão sobre a minha partida: dispenso flores. Estava marcado às 15h, mas não foi. A essa hora fizeram-te as cerimonias fúnebres na tua cidade, e eu faltei. A tua mãe disse-me que a homenagem dos teus alunos foi a coisa mais bonita deste mundo. Bem mereces. Quando chegou o carro que te trouxe, eu estava sozinha na porta do crematório. E tu chegaste sozinho. O senhor responsável pelo crematório disse-me que quando a família não acompanha até ali, normalmente "entram logo para dentro". Mas que se eu quisesse te colocavam numa salinha à parte para termos a nossa despedida. Assim foi. Ficamos ali sozinhos, o teu caixão gigante e eu. Á porta dos fornos que amanhã às oito e trinta te vão transformar em cinzas.
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Sinto um buraco estranho no peito. Como e fico com a sensação de ter uma bola de pêlo na garganta, um entrave qualquer que me faz sentir mal durante horas. Acordo durante a noite, triste. Queria saber mais sobre a morte, queria ter estado ao teu lado nesse ultimo instante. Tudo isto que é a Vida, ficou num lugar suspenso de repente. 
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Preciso de tempo. Mas prometo-te, por causa de tudo o que me ensinaste, vou Viver diferente a partir de hoje.

Corre o ano 2022



Mês de Janeiro a começar. Os campos floridos como se fosse Primavera. (...)

Num dia normal como hoje

Escolheste um dia 3 para partires. Obstinaste-te em atravessares mais um Natal e chegares a mais um ano novo, e conseguiste. Partiste lucido e muito consciente de que era o fim. Ainda assim partiste a lutar, forte e bravo como um leão, até ao ultimo instante.

E pensar que me ligaste a desejar Bom Natal, e dias depois de novo, para desejares Bom Ano.

Obrigado por todos os momentos juntos. Podiam bem ter sido muitos mais, se não fosse vivermos a vida a acharmos sempre que temos todo o tempo do mundo.

Até já, meu Nelinho.

Querido Ano Novo

Desde miúda sempre gostei do cheiro a novo, nos sapatos, nos livros, nos amanheceres, nos anos. Estamos todos tão precisados de Esperança, que é bom termos um motivo para renovar expectativas com Fé. Apesar das circunstâncias, fazê-lo com alguma alegria no coração. Uma alegria serena, sem euforias, mas ainda assim uma alegria. Espero ter saúde e foco para cumprir algumas coisas que não ficaram feitas em 2021, e sobretudo desejo que se abram novas portas. 

Inauguramos-te com temperaturas anormais para esta época, e não, não gosto de dias de primavera a acontecerem nos dias que se supõe que deveriam ser os mais frios do ano. Está a acontecer tudo muito rápido, desde que me lembro de surgirem os primeiros alertas sobre o cambio climático. Cá em casa as orquídeas domésticas e a selvagem, estão cheias de brotos para rebentar flor. Numa destas madrugadas fiquei acordada a ouvir os pássaros eufóricos lá fora nas árvores. Assustador.

Ainda mal nasceste e parece que já temos a palavra do ano: endemia. Acho engraçado a facilidade como tantos analistas falam dos acontecimentos - ainda chocantes para mim - em que estamos mergulhados desde 2020. Palavras de moda que pululam na boca de governantes, que permitem que pessoas idosas estejam quatro horas de pé numa fila para tomar uma vacina agendada. Que permitem que uma mãe de oitenta anos esteja horas de pé numa fila ao frio, para ir fazer um teste cada vez que vai visitar o filho doente terminal no segundo hospital referência da cidade. Que permitem que um doente grave espere oito horas numa urgência hospitalar para ser atendido. Ando um bocado magoada com o evoluir de toda esta carneirada em que também eu estou metida. Mau sabor de boca. Desconfiança. Descrença.

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