Faz mesmo. Sobretudo quando fazemos o bem a quem amamos. Quando sabemos que estamos a cuidar dos nossos pais, dos nossos avós, dos nossos sogros. Dessa gente que não, não é eterna.
Estes dias vamos ter a minha mãe cá por casa. Não estávamos juntas desde que nasceu a minha filha, há quase sete meses. É certo que o mar entre nós as duas é apenas um copo mal cheio de água, mas tê-la tão perto, sentir-lhe o calor da curva do pescoço quando a abraço, sentir-lhe o cheiro tão dela já misturado com o de fumadora crónica (não vale a pena, só assim reconheço a minha mãe), ouvi-la durante horas falar sobre coisas que às vezes nem me interessam muito - mas ouvi-la -, sentir-lhe os passos às seis da manhã, tudo isso junto dá-me chão, dá-me casa.
Está tão assustadoramente magra, a ficar tão velhinha a minha mãe.. A íris dela perdeu vitalidade, está a dar-se ao luxo de fazer coisas que fazem as crianças, como birras, amuos ou preguicite. É chata e descarada tudo aquilo a que a vida por estatuto lhe dá o direito.
Eu sinto mãe, que chegamos ao ponto do caminho em que o tempo nos está a ultrapassar na corrida. Dou comigo a pensar que não vai ser sempre assim. Ando muito cansada, mas vou ser forte o suficiente para fazer contigo durante uns dias o que faço a tempo inteiro com a minha filha: dar-te muito colinho e encher-te de mimos.
O Amor é para se dar no tempo certo.
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