Das minhas preferidas de sempre

Do Mar





Ela já aprendeu a rezar a Yemanjá. Já sabe oferecer presentes com o coração. Fez sozinha o seu primeiro castelo de areia.

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Desabafo

Não me posso queixar da vida. Deus tem sido absolutamente generoso comigo. Eu muitas vezes não encontro a alegria dentro de mim, não reajo com gratidão aos dias de adversidades e maior cansaço. Deixo-me cair pela exaustão de muitas horas de sono em débito, por uma casa que não consigo organizar, por uma mesmenhice dos dias que me incomoda e desencanta, por tantos à minha volta para quem eu não tenho mais a mesma energia e paciência.

Estou numa fase da minha vida em que sinto que caminho com uma mala de viagem aberta. E vou perdendo bagagem no caminho, e vou procurando ficar mais leve, à força de sobreviver.

História de Amor

Eu gosto de absolutamente tudo na minha filha. Menos um bocadinho da teimosia dela. Mas até da teimosia dela eu fico com saudades quando passamos um dia inteirinho sem estar juntas. E de tudo o que eu mais gosto, bem lá por cima, está a alegria genuína dela. É uma coisa que me comove, que me cativa. Ser mãe de uma criança feliz até quando dorme, é o maior estatuto que alguma vez poderia querer alcançar na minha pequena existência. E tudo o que eu aguento ou não aguento, é por ela.

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Walt Whitman

Flash







Terapia para mim é isto. Caminhar pelos parques da cidade, deixar-me inundar pelo silêncio bom da natureza. Perceber os detalhes de Outono já tão presentes nestes dias com alguma frescura ainda primaveril, cheios de sombras perfumadas e coloridas a gritar a plenitude de um Verão manso. Um Verão no meu caso ainda sem dias de praia nem gelados à beira-mar, portanto sem sabor sequer a inauguração. Mas a natureza é sábia, ela diz-nos a todo o instante carpe diem. É tudo tão efémero, ao mesmo tempo é-nos tudo tão dado como um Presente extraordinariamente especial.
E quantas vezes nós nem vemos, nem sentimos, nem percebemos a sorte grande das coisas quietas e pequeninas e dos dias tão belos assim.


Para o meu Luís. O meu colo, o meu único colo. Às vezes as tempestades fazem com que as pessoas se abracem forte, e se descubram improváveis gigantes valentes.
Eu espremo-te porque preciso disso, de crescermos juntos, ou de não sentir sozinha as dores do crescer. Com todas as tuas nossas dificuldades: há o dia lá atrás em que me escolheste, e o dia de hoje, em que nem por uma única vez me fechaste a porta.
Às vezes és egoísta, e desatento e despreocupado. Mas é só porque és autêntico e talvez essa seja uma das razões porque te amo tanto. Não és um pedaço de barro que se molda com a vida quando nos engole e os dias atarefados quando nos desorientam. És pacifico como um gato. Meigo e presente.

As duas melhores pessoas do meu mundo inteiro: tu e a nossa menina.

Flash



Às vezes não percebemos porquê. Mas a vida coloca-nos sempre nos lugares certos. Nem que seja por um curto período de tempo, só pelo tempo justo e necessário. Há verdades, caminhos e pessoas, que nunca chegaríamos a conhecer de verdade se não fosse ali.
Eu já percebi que não vim a este mundo fazer um percurso profissional. Vim só aprender.

Quase S. João

A minha festa preferida de outros anos, de outra vida. Este ano nem vou perceber que acontece, vou estar a trabalhar. É uma euforia tão bonita, de uma noite em que todos se juntam na rua, e os cheiros e sons são genuínos e inconfundíveis. Gostaria muito de ensinar à Maria a importância de ser-se assim alegre, desde pequenina. Mas digamos que este é o primeiro S. João dela consciente, e eu não vou estar presente.

A verdade é que já não tenho folia.

Mais magra

Sem dietas. Sem grandes façanhas interiores. Sem mezinhas milagrosas em forma de comprimido. Sem sequer dar por ela. 

O stress dos dias tem-me comido viva.

Sinto-me de regresso

Não sei de onde, mas de muito muito longe. De algum lugar espiritual mais dentro, onde tenho estado em guerra comigo mesma.

Têm sido dias, semanas, de gotas de água a fazerem transbordar o copo. Sei que sou eu desta vez, quem não está a saber viver com sabedoria e gratidão. Vivo constantemente exausta e com esta sensação de asfixia, sempre sem tempo para nada e a lidar muito mal com isso. Sempre a sentir-me em falta por não poder atender a tudo e a todos. Intragável para quem tem que conviver comigo. Talvez seja altura de crescer, e de me por a mim e a eles os dois, em primeiro lugar para sempre. Talvez não seja tão importante responder às mensagens dos amigos ou ter tempo para eles; talvez deva assumir que me aborrece solenemente gastar horas inteiras ao telefone a ouvir a minha mãe falar-me da vida dos meus irmãos; e talvez isso e mais quatro coisas sejam só mais uma aprendizagem tardia mas importante. A verdade é que tenho saúde, tenho emprego e tenho o mais importante: a Maria e o Luís. Todas as circunstâncias ao redor, tenho que aprender a minimizar. 

De resto preciso de dormir manhãs inteiras e esquecer compromissos. De estar sozinha e em silêncio. De ler. De cozinhar com amor para a minha gente cá de casa. De voltar às massagens e às caminhadas. É um tempo meu que não volta mais.

Aliviar a minha bagagem; preocupar-me um bocadinho menos com os outros. Não me preocupar de todo, se for preciso.

(...)

Bom dia Vida